Produtores de cana pedem socorro
Os produtores de cana-de-açúcar brasileiros pedem socorro. Todo mundo sabe que o agronegócio brasileiro é uma potência, sob todos os aspectos, principalmente quando se olha para questões como tecnologia e eficiência. Nele, se destacam as usinas que transformam a cana em açúcar, álcool, energia elétrica ou biogás.
Só que a cadeia produtiva às vezes esconde um elo, que é fundamental: o plantador da cana-de-açúcar. Esse é um lutador, pois em muitos casos precisa trabalhar em solos empobrecidos, como o Cerrado. Precisa investir em tecnologia, para gerar uma boa produção, que possa ser transformada nas usinas.
O plantador não pode trabalhar com prejuízo, enquanto as usinas pertencentes a grandes grupos econômicos ficam posando de maravilhas da tecnologia, pagando aos produtores preços que não amparam os gastos com a plantação. Essa situação precisa mudar com urgência.
Sob todos os aspectos, o Brasil é um colosso nesse segmento da agroindústria. Nas contas da Conab, a produção de cana na safra 22/23 supera 600 milhões de toneladas. Vale lembrar que, no ano passado, as usinas processaram um volume gigantesco de cana, produzindo 26 bilhões de litros de etanol, o que coloca o Brasil na vanguarda nos combustíveis verdes.
Apenas uma grande empresa, como a Atvos, tem condições de produzir por ano energia elétrica suficiente para o consumo de 15 milhões de pessoas com base na geração de biomassa derivada do bagaço de cana.
São números para lá de espetaculares, mas, na visão deste site, é preciso encontrar, rapidamente, mais equilíbrio na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, para que o País possa continuar avançando em todos os subprodutos, principalmente aqueles que mais interessam à área de energia, como geração elétrica, etanol e biogás. O jogo precisa ser de ganha-ganha. Um segmento não pode ser beneficiado em detrimento de outro.
O Brasil, hoje, é o maior produtor mundial de açúcar e maior exportador de etanol. E não se pode desprezar a importância do bagaço de cana na geração elétrica e até mesmo na produção de biogás.
A Organização das Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) se manifestou publicamente a respeito das dificuldades atuais enfrentadas pelos plantadores de cana.
Segundo alega a Orplana, a precificação atual da cana por parte do Consecana (Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo), é de apenas US$ 26 por tonelada. Valor que estaria muito abaixo dos custos efetivos de produção e está na retaguarda da tabela mundial.
No mundo, segundo a Orplana, os Estados Unidos é o país que melhor remunera os produtores de cana-de-açúcar ao pagar US$ 41,30 por tonelada; a Turquia aparece em segundo lugar com o valor de US$ 41,10. Já o Brasil aparece com precificações diferentes conforme o Estado, sendo que o Consecana de Pernambuco é que melhor valor paga – US$ 38,34 – por tonelada de cana, com os efeitos do açúcar.
“É crucial que a metodologia seja revisada. Outras culturas como soja, amendoim e milho estão tendo rendimentos melhores. Enquanto a cana, no modelo Consecana, tem resultado em déficit para o produtor, a soja e amendoim têm um resultado melhor. Infelizmente alguns dos produtores não computam todos os custos envolvidos na atividade e irão perceber depois o impacto em seu negócio”, argumenta o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira.
De acordo com Nogueira, um estudo foi realizado junto com várias associações mundiais de produção de cana dentro do Congresso Internacional WABCG (Associação Mundial de Produtores de Cana e Beterraba Açucareira), realizado em Cali, na Colômbia, em junho deste ano.
Ele entende que a defasagem atual no Brasil esteja próxima de um reajuste de 25% a 30% do valor pago. É muita coisa e torna-se difícil para qualquer segmento trabalhar com uma defasagem tão elevada.
Sem as correções necessárias e que atendem às altas registradas no mercado, a Orplana reforça o sentimento dos produtores de cana-de-açúcar: indignação. Ainda de acordo com o CEO, observa-se a migração para outras culturas consideradas mais rentáveis. “Não é natural em uma cadeia produtiva que um elo cresça e outro caia, como está acontecendo com os produtores de cana”, revela o CEO.
Nas contas da Organização, os produtores de cana do Brasil estão operando na base do sacrifício, quando se compara com o que se paga, em outros países, por tonelada de cana produzida: Estados Unidos, US$ 41,30; Turquia, R$ 41,10; México, US$ 40,30; Índia, US$ 38,00; Austrália, US$ 34,00.
No Brasil, o preço pago varia bastante entre as regiões: US$ 38,34 no estado de Pernambuco; US$ 31,09 em Alagoas e US$ 26,00 no estado de São Paulo.