Operação é Operação. Não é eleição
Quem pensa que está tudo bem com o setor elétrico brasileiro, infelizmente está redondamente enganado.
O setor está pegando fogo com uma situação que não se podia imaginar até o último apagão.
Tem energia sobrando? Tem. Os reservatórios das hidrelétricas têm água em grande quantidade? Tem. O país está investindo pesado na expansão das redes de transmissão? Está. Os investimentos em energia eólica e solar são um sucesso? São. Então por que razão o setor elétrico está inquieto e seus executivos estão com os nervos à flor da pele?
Por uma razão muito simples: o Governo morre de medo de acontecer um segundo apagão que possa ser chamado de seu.
Treme na base só de pensar que um segundo apagão em larga escala possa ocorrer no curto prazo no território nacional, afetando vários estados, como aconteceu no dia 15 de agosto.
Como o governo teme o risco político de ver a repetição do último apagão, as autoridades estão inseguras e travaram o setor elétrico brasileiro, criando uma situação de pânico no mercado. Ao que tudo indica, esse freio imposto pelas autoridades vai afetar pesadamente o desempenho financeiro de muitas empresas geradoras. Por isso está todo mundo preocupado, pois o pessoal está quase enlouquecendo só de pensar no que está sendo feito.
Este site apurou que a coisa está feia. Tem usina que gerava normalmente e hoje fica mais de 90% do tempo parada, sem gerar, o que significa a mesma coisa que ficar sem receita. Esta é a lei do setor elétrico: usina que não gera não recebe.
Essa situação estaria afetando geradoras como um todo, independentemente do tipo de geração. Como a economia está em baixa e não cresce não há risco de faltar energia. Só que as autoridades, para evitar um novo apagão, estão retirando energia do sistema, para ficar mais fácil de ser administrado, dentro da lógica de segurança de um governo que morre de medo de um novo apagão.
Na avaliação de geradores, o pânico pós-apagão produziu uma espécie de paranoia nas autoridades, que poderia ser resolvido de outra forma, pois o sistema é seguro. Mas paradoxalmente, como escreveu o professor Edvaldo Santana em recente artigo, seria preciso, na avaliação de algumas pessoas, desligar usinas geradoras para manter o equilíbrio do sistema elétrico. Parece uma loucura, mas é isso mesmo que está escrito.
Isso é muito preocupante. No entendimento deste site, é possível imaginar dessa forma que algumas autoridades não estão sabendo fazer o seu trabalho. Ou então estão se submetendo docemente às decisões de natureza política, deixando a racionalidade técnica de lado.
E a questão é óbvia. Por que não aconteceram apagões antes de 15 de agosto? É porque a Operação do sistema elétrico é assim mesmo, uma espécie de fio da navalha, em que os procedimentos são tomados a cada dia, a cada hora. É preciso ter sangue frio para administrar um setor complexo como o elétrico. Neste caso, não se pode ficar olhando para eleitores ou urnas do tribunal eleitoral. É preciso ter nervos de aço para tomar decisões de grande porte no setor elétrico. Gente insegura ou que tem medo de tomar decisão não pode se envolver nas operações diárias do SEB.
O que não pode acontecer é querer administrar o setor elétrico, este segmento tão complexo quanto fundamental para a economia brasileira, preocupado apenas com o resultado das urnas em 2024 ou então com o próximo teste de popularidade do presidente da República. Essa mistura de fatores políticos na gestão do SEB é uma receita admirável para o caos, conforme o racionamento de 2001/2002 mostrou.
Seria mais do que oportuno que as autoridades deixassem a arrogância de lado e fizessem a gestão do setor elétrico com mais humildade e pés no chão. Lembrando sempre que não se pode tocar o SEB no dia a dia como se os consumidores de energia elétrica fossem apenas eleitores.
Afinal, como se diz no futebol, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Quando se mistura, costuma dar zebra.