Decisão do Ibama é histórica e polêmica
Maurício Corrêa, de Brasília —
O Ibama concedeu à Petrobras a primeira licença ambiental para pesquisar a disponibilidade de petróleo e gás natural, na chamada Margem Equatorial, para fins de produção. É uma notícia e tanto, que merece ser comemorada. O “Paranoá Energia” dá apoio total à decisão. Este site, entretanto, faz quatro reflexões bem rapidinhas, para não atrapalhar a festa.
A primeira delas é que não se pode desconhecer que o Governo enfiou a decisão pela goela abaixo do Ibama e isso significa uma tremenda derrota política para os ambientalistas, ministra Marina Silva à frente. É interessante acompanhar os bastidores da política para ver os desdobramentos. Marina vai engolir o sapo? Não vai?
A segunda é que se essa decisão tivesse sido tomada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, seria uma calamidade, uma espécie de fim do mundo. Imaginem: pesquisar óleo e gás na Margem Equatorial? Este editor não votou em nenhum dos dois candidatos, então fica a vontade para comentar.
É preciso lembrar que se a decisão tivesse sido tomada durante o governo anterior, a mídia todinha estaria caindo de pau no Bolsonaro, as ONGs ambientais estariam organizando uma revolução pelo mundo e Bolsonaro estaria sendo chamado das piores coisas em todos os idiomas, como sempre aconteceu, por sinal.
Mas, como é uma decisão tomada pelo presidente Lula, o queridinho da mídia brasileira e internacional, está tudo certo e as pessoas reconhecem que uma coisa é pesquisar, a outra é produzir, etc, etc, etc. Até os índios compreendem essa questão com absoluta naturalidade e espírito civilizatório. O nosso iluminado grande timoneiro da República sempre sabe o que faz e não fica bem contestar. Ele sempre sabe o que se deve fazer pelo bem do Brasil.
Outra questão observada foi a extraordinária discrição do Ministério de Minas e Energia na divulgação da notícia: numa sexta-feira às 22h46m, ou seja, quando todo mundo já está de alguma forma desarticulado e pensando apenas em relaxar no final de semana depois de uma semana de muito trabalho. Este editor, por exemplo, já estava roncando nesse horário.
Seria extremamente injusto atribuir ao MME algum tipo de oportunismo. Com certeza, era uma notícia tão relevante, apoiada integralmente pelo ministro Alexandre Silveira, que o MME não quis guardar a informação para o dia seguinte e já preferiu divulgar imediatamente, embora próximo da meia-noite. Se as pessoas não darão importância ao assunto no final de semana, a culpa não é do MME e, sim, das pessoas.
Finalmente, ainda dentro da discrição adotada pelo MME, uma coisinha adicional que não deixou de ser observada. A comunicação do MME é sempre farta em elogios ao presidente Lula, em tudo o que acontece no âmbito do ministério. Basta consultar o site do MME para verificar. O nome do presidente Lula aparece quase como um deus onisciente e onipresente em tudo o que é anunciado e aparece entre aspas na boca do ministro Silveira em todos os releases.
Desta vez, curiosamente, o comunicado do MME omite totalmente o nome do presidente da República, embora seja grande notícia. É verdade que, sendo tarde da noite e na pressa para divulgar, o redator do texto talvez se esqueceu do nome do nobre presidente. Acontece. Outro raciocínio pode estar atrelado à saúde do presidente. Ele está num hospital, recuperando-se de uma cirurgia. É preciso dar uma folga para o grande timoneiro.
Por outro lado, também pode ser que, mesmo sendo uma informação de primeira qualidade, importantíssima, não seria interessante associar o nome do presidente da República na pesquisa sobre petróleo e gás natural na Margem Equatorial.
Afinal, na resistência dos ambientalistas ficou um tremendo buraco e tudo indica que agora a Petrobras poderá entrar pela Margem Equatorial e chegar ao Amapá. Lula poderia ser incompreendido por seus parceiros internacionais.
Então fica assim. É sempre a mesma coisa. Dois pesos e duas medidas. É por isso que este editor não tem o devido apreço pelos políticos e por todos aqueles que vivem no entorno deles. É sempre uma questão de narrativa e é preciso ter muita força de vontade e serenidade para suportar essa guerra, quando os mesmos fatos têm várias interpretações.
O editor já está mais prá lá do que prá cá, está chegando ao fim da linha, e não liga mais a mínima para as verdades do mundo político. Tira tudo isso de letra, com olímpica indiferença.