A Enel fracassou no Brasil
O fim da gestão de Nicola Cotugno como principal executivo da empresa italiana Enel no Brasil deixa muitos ensinamentos.
Ficará nos próximos dias uma discussão que este site considera estéril, se Cotugno já havia pedido para sair antes dos acontecimentos em São Paulo, como a empresa comunicou oficialmente.
Na realidade, ele caiu porque a sua posição era politicamente insustentável, mesmo para uma grande empresa como a Enel, que atua em muitos países.
O “Paranoá Energia” já escreveu a respeito. Entende que um evento da magnitude do que ocorreu em São Paulo encerra responsabilidades políticas, individuais e empresariais, mas é um desastre de irresponsabilidade coletiva, construído ao longo de dezenas de anos.
Omissão do Poder público e da própria sociedade levaram ao gigantismo de São Paulo e realmente é difícil gerenciar qualquer problema de grande tamanho em São Paulo, seja a derrubada de arvores arrastando a rede elétrica ou mesmo as enchentes ou a violência urbana, Cracolândia, etc. São Paulo é uma espécie de caos anunciado e quem vive lá precisa estar atento a essas questões.
No fundo é o mesmo problema. Uma cidade que se tornou incontrolável. O jeito é administrar na base do conta-gotas. Uma enchente aqui, um apagão ali, uma Cracolândia sabe-se lá em que parte da cidade, os ladrões que agem pela cidade inteira. Caso a caso. Dizem que para enterrar a rede elétrica de São Paulo custaria algo em torno de R$ 200 bilhões. Com uma conta nesse valor, esqueçam, jamais será enterrada.
Os problemas são proporcionais ao tamanho gigantesco da metrópole chamada São Paulo. Pode colocar uma divindade ali para ser o gestor da região que não resolve os problemas. Quem mora ali tem que estar emocionalmente preparado para conviver com o caos nosso de todos os dias, inclusive na energia elétrica.
No caso da Enel, este site não quer livrar a cara da empresa. É lógico que nesse consórcio ela também tem as suas responsabilidades (ou irresponsabilidades). E isso está de alguma forma ligado ao processo de privatização que chegou ao Brasil nos anos 90, primeiramente através das telecomunicações.
Este site é totalmente favorável à privatização. Mas o fato que não se pode negar é que muitas dessas empresas que assumiram antigas estatais de telecomunicações e energia elétrica não conheciam o Brasil e as suas peculiaridades.
E chegaram aqui com uma visão de Brasil totalmente colonialista, com um modelo de gestão importado, pronto, que talvez tenha funcionado nos seus países de origem, mas que aqui foi um desastre. Os casos de fracasso de gestão na privatização são extraordinários. Tem cada exemplo de arrepiar. O editor deste site durante quase 30 anos acompanhou de perto a privatização das telecomunicações e da energia elétrica no Brasil e sabe do que está falando.
Não é culpa da privatização, que em certos casos foi benéfica para os consumidores brasileiros. Afinal, ninguém aguentava mais o uso político, a ineficiência e a roubalheira das nossas amadas estatais. Ainda existem algumas estatais no Brasil e a pergunta que se faz é por que ainda não foram privatizadas, pois a qualidade dos serviços é sofrível e a ineficiência é intensa.
Em muitos casos e parece ser exatamente o que aconteceu com a Enel, cujos executivos chegaram aqui como verdadeiros representantes plenipotenciários de suas empresas. Com uma visão brutalmente imperial sobre o Brasil. Como se o Brasil fosse a Etiópia dos anos 30. Verdadeiros vice-reis. Com uma arrogância de dar medo. Há uma diferença brutal entre os dirigentes que vêm das matrizes no exterior e aqueles que são formados aqui, conhecem o País e os consumidores.
Obviamente, aconteceu com a Enel o que só poderia acontecer. Alguém mete os pés pelas mãos, se perde no Poder praticamente infinito, comete tantos erros, que acaba detonando toda a operação empresarial.
Não é sem motivos que a Enel vai mal em São Paulo, vai mal no Rio de Janeiro e praticamente teve que sair correndo de Goiás, onde a sua gestão foi uma calamidade. Os brasileiros estão cansados da Enel. É possível que no médio prazo a Enel desista do Brasil.