O senador Cleitinho e a Aneel
Maurício Corrêa, de Brasília —
O estado de Minas Gerais já teve nomes de primeira linha ocupando cargos no Senado Federal. Impossível citar todos eles. Mas vale mencionar apenas alguns, que foram senadores dos anos 50 até os dias atuais, para concluir que, em vários partidos, de tendências ideológicas diversas, Minas Gerais teve excelentes senadores, praticantes da Política com “P” maior:
Eliseu Resende, Itamar Franco, Magalhães Pinto, José Alencar, Milton Campos, Ronan Tito, Antônio Anastasia, Tancredo Neves, e inclusive o atual presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, apenas para citar alguns.
São nomes que orgulham os mineiros pelo estilo de fazer política.
Na última eleição, em 2022, elegeu-se senador o Sr. Cleitinho Azevedo. Teve uma votação extraordinária. Foram 4,2 milhões de votos, correspondendo a 41,52% do total dos votos válidos para o Senado em Minas.
Deixou oito candidatos para trás, comendo poeira, inclusive o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que ficou em segundo lugar com 3,6 milhões de votos.
O site “Paranoá Energia” está fugindo um pouco ao seu foco de trabalho, tratando da política mineira, pois está circulando na internet um vídeo que é uma lástima e tem relações com o setor elétrico.
O senador Cleitinho liga para o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, a quem chama o tempo todo apenas por “Sandoval”, demonstrando uma intimidade que não existe ou uma superioridade hierárquica que é menos existente ainda. A ligação, pelo viva voz, está sendo gravada.
E cobra do diretor explicações sobre um recente reajuste de 6,70% nas tarifas dos consumidores residenciais da concessionária Cemig. Mais tarde, o vídeo vai para as redes sociais do senador, como aconteceu. Demagogia pura do senador.
Não é a primeira vez que isso acontece entre a Aneel e congressistas e nem será a última, desde que os deputados e senadores descobriram que fazer populismo com as tarifas de energia elétrica rende muitos votos.
Essa questão se acentuou depois que as campanhas políticas passaram a sofrer forte influência das chamadas mídias sociais, elegendo alguns congressistas que são hábeis no uso dessas redes. O senador Cleitinho é um deles. Em Minas Gerais, aliás, está o campeão de votos para deputado federal, também muito hábil no uso das redes sociais.
Este site lamenta que o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, tenha sido exposto de maneira brutal e desrespeitosa pelo senador Cleitinho, o que chocou o setor elétrico.
Certamente o diretor Sandoval comete seus equívocos, pois todos nós cometemos, inclusive o senador, mas não merece ser tratado agressivamente dessa forma, pois ele não é um cachorro e nem um empregado do senador. Aliás, ninguém ou qualquer bicho merece ser tratado assim.
Ao contrário, é um responsável diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, que merece ser tratado com o devido respeito e consideração, pois é um homem público que respeita todo mundo e trata todos com educação. Além disso, cumpre as suas tarefas de forma correta e atende a todos democraticamente, inclusive a este site, que já o criticou várias vezes.
O mandato do Sr. Cleitinho é legítimo, pois foi conquistado nas urnas. Se ele merece ou não ser um senador da República por Minas Gerais isso é um problema entre ele e os eleitores mineiros.
O que ele não pode fazer é tratar as pessoas — qualquer um — do jeito que tratou o diretor Sandoval Feitosa, apenas porque é um senador da República e o diretor é um servidor público. As decisões na Aneel são tomadas pela diretoria colegiada. No caso do reajuste da Cemig, houve um relator, que apresentou um relatório, e a diretoria aprovou.
Na próxima vez, o senador que fique mais atento, participe da reunião pública da agência reguladora e questione publicamente o que está sendo discutido.
E simplesmente pare de enrolar. Em Minas, costuma-se dizer que um pouco de educação e água benta não fazem mal a ninguém. Isso vale para todo mundo, inclusive para quem tem mandatos eletivos.