Mercado avalia Silveira com desconfiança
Maurício Corrêa, de Brasília —
Prever até quando Alexandre Silveira ficará à frente do Ministério de Minas e Energia é um mero exercício de futurologia. É verdade que já existem especialistas do setor elétrico brasileiro que gostariam de vê-lo fora do Governo. Se possível ontem. E não são poucos.
Também existem aqueles que dizem que ele está mais ou menos na foto, com altos e baixos como todo ministro. Enquanto não é possível encontrar uma unanimidade, é válido, sim, perguntar se a gestão dele terminasse hoje qual seria o legado deixado pelo atual titular do MME.
O exercício não é fácil de fazer, pois as situações que envolvem Alexandre Silveira à frente do MME são complexas. Este site conversou com vários executivos do SEB. Todos concordaram com uma conversa em off, naturalmente, pois ninguém quer desnecessariamente atrair eventual ira ministerial.
Um executivo, por exemplo, afirmou que o ministro começou muito mal a sua trajetória no MME. Não conhecia ninguém na área técnica e, quando muito, conhecia alguns lobistas que frequentavam o seu gabinete no Senado Federal.
A fonte lembrou que Silveira comeu o pão que o diabo amassou durante os três primeiros meses de gestão, pois lideranças do próprio PT queriam tirá-lo do cargo.
“Simplesmente, era uma figura totalmente estranha ao meio em que virou ministro. Entretanto, o ministro deu a volta por cima e um ano e meio depois do início de sua gestão é possível ver que ele melhorou bastante a sua atuação no MME. Hoje, conhece todo mundo, sua equipe técnica é razoável e ele manda no MME, sem medo de ser trocado por alguém da esquerda, pois fez uma aliança com a alta cúpula do PT e hoje é dedicado totalmente ao presidente Lula, com quem está fechado em gênero, número e grau. O Silveira é mais petista, na prática, do que muita gente boa que tem a carteirinha do partido. Até de camisa vermelha ele já andou desfilando por aí”, ironizou a fonte.
No seu entendimento, “o ministro já percebeu que no SEB, hoje, não existe mais espaço para subsídios, o que é um avanço notável”. A fonte lembrou que, no dia 12 de julho, em São Paulo, haverá um evento muito importante, quando o MME discutirá com os agentes o que eles pensam sobre a abertura do mercado, os pesados encargos que existem no SEB e a carga de subsídios, que não fica atrás.
“No nosso segmento, digamos que somos otimistas com ressalvas em relação ao papel do atual ministro. A nota negativa que temos em relação a Alexandre Silveira é que ele invariavelmente fala uma coisa e faz outra. Não merece muita confiança. Está sempre derrapando e eventualmente cede a pressões as quais não precisava ceder. Temos uma avaliação positiva do ministro. De zero a 10, ele merece um seis ou um sete”, pontuou o mesmo executivo. “É uma nota generosa”, acrescentou.
Pensamento similar é endossado por outros executivos, mas também existem aqueles que gostariam de ver Sua Excelência longe do MME. “Alexandre Silveira é extremamente oportunista, politiqueiro e interesseiro. Só procura o setor elétrico quando eventualmente precisa dele por alguma razão. Já deu o que tinha que dar e na nossa área não acreditamos nele”, arrematou uma fonte com total convicção.
Segundo essa fonte, o ministro mete os pés pelas mãos quando fala de assuntos técnicos, seja o gás natural, o hidrogênio verde ou até mesmo a transição energética. “O ministro disse há poucos dias que o hidrogênio é mais competitivo do que o gás natural. De onde ele tirou isso? Só se for de algum estudo ultra-sigiloso que ainda não é conhecido por ninguém”, afirmou o especialista, dando boas gargalhadas. “Até parece a Dilma, nos seus melhores momentos de MME”, salientou.
“Na transição energética, os países desenvolvidos estão botando o pé no freio, pois já perceberam que as coisas não são exatamente como pensam alguns sonhadores. No meu prédio, por exemplo, existem 18 veículos elétricos e ninguém reclama da tecnologia. Mas na hora de carregar as baterias é um sofrimento, pois o Brasil nunca se preocupou em sistematizar um amplo programa de carregamento de baterias de carros elétricos. Ou seja, os veículos chineses estão inundando o nosso mercado e para recarregar cada motorista sofre mais do que o outro. Cadê o Ministério de Minas e Energia em relação ao assunto? Ninguém sabe, ninguém viu. Total omissão”, complementou.
Para esse especialista, o ministro Alexandre Silveira toca a Pasta sem uma agenda de planejamento. Conforme explicou, o MME recebeu do SEB um documento contendo 28 propostas para tentar resolver gargalos em vários contextos e “não aconteceu absolutamente nada”.
No mercado elétrico, alguns especialistas lembram que um dos problemas de Alexandre Silveira é que ele tem um olho em Brasília e outro em Minas Gerais, como presidente do PDS regional. “Seria muito mais eficiente para o Brasil se o titular da Pasta fosse alguém que voltasse mais atenção para os nossos complexos problemas técnicos e não alguém que dia e noite pensa na eleição do prefeito de Belo Horizonte ou de prefeituras do Vale do Aço” (onde se situa a principal base eleitoral do ministro), disse o dirigente de uma associação.
“Alguém por acaso está pensando que daqui a 60 dias a cabeça do ministro de Minas e Energia estará voltada para problemas de geração, distribuição, transmissão e comercialização? Ou ele estará praticamente acampado em Minas Gerais para exercer pressão em favor dos seus candidatos”?, indagou a fonte. “Dou um doce a quem acertar a resposta”, esclareceu com desconfiança.
Essas questões levantam a discussão de quem, no Governo, manda efetivamente no setor elétrico brasileiro. Para alguns, Alexandre Silveira se tornou totalmente refém do ministro Rui Costa, da Casa Civil, ou seja, se bandeou de mala e cuia para o lado do PT.
Contudo, para outro especialista, quem manda no setor elétrico brasileiro não é Rui Costa e nem Alexandre Silveira e, sim, outro Alexandre, o Peixoto, presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), figura muito próxima ao ministro e que, como profissional veterano da área de energia elétrica, conhece como o funciona o sistema.
“Isso é uma maldade. Um exagero naturalmente. É uma injustiça com os dois Alexandres”, ponderou um executivo, frisando que é natural que ambos tenham um relacionamento profissional especial. “Só quem não conhece o funcionamento do Governo diz uma coisa desse tipo. O Alexandre Peixoto é de Minas Gerais, como o ministro. Certamente é influente na atual gestão, mas não passa disso, pois é da cota pessoal do próprio ministro. Quem manda efetivamente na Pasta de Minas e Energia é o Alexandre Silveira e não o Alexandre Peixoto”, frisou.