ONS pede UTE´s em prontidão
Uma carta enviada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aos representantes de 35 empresas do País que mantêm usinas térmicas, pedindo para que elas fiquem de prontidão para garantir o atendimento de energia elétrica, em caso de necessidade, é a prova mais cabal que não existe planejamento no setor elétrico brasileiro. Ou o que existe é improvisação. Ou então que o planejamento do SEB é uma piada. Podem escolher como quiserem.
A questão é relativamente simples. Uma nota da própria Aneel, disponibilizada pelo site no dia 16 de julho, indica que os primeiros seis meses de 2024 já demonstram que, a exemplo de 2023, este será um ano de grande expansão da matriz elétrica brasileira.
O País fechou o primeiro semestre com 168 novas usinas e um incremento de 5,6 gigawatts (GW) na potência instalada. O mês de junho respondeu por um aumento de 889,51 megawatts (MW) e a entrada em operação de 27 usinas, sendo 13 eólicas, 10 fotovoltaicas e quatro termelétricas.
O Brasil somou 203.895,63 MW de potência fiscalizada até o início de julho, de acordo com dados do Sistema de Informações de Geração da agência reguladora, o Siga, que é atualizado diariamente com dados de usinas em operação e de empreendimentos outorgados em fase de construção.
Ora, qualquer gerente em início de carreira no SEB sabe que não se pode estressar o sistema e que é necessário trabalhar com uma margem de segurança, entre a capacidade instalada e a carga, pois muita coisa pode acontecer no meio do caminho.
Então, se a capacidade instalada do Brasil é de 204 mil MW e a carga atual situa-se em torno de 75 mil MW, vê-se claramente que o sistema trabalha com significativa folga entre a oferta e a demanda de energia. Há enorme sobra de energia.
Só que não é tão simples, assim, pois existem os imprevistos, como turbinas que entram em manutenção e não podem gerar ou turbinas que simplesmente quebram. Ou linhas de transmissão que são derrubadas por uma ventania, subestações que pegam fogo, etc. Tudo normal, pois, afinal o sistema elétrico trabalha com máquinas e máquinas, vale lembrar, quebram e precisam de manutenção.
Existem outras dificuldades, que são sazonais. A má vontade de São Pedro, por exemplo, que tem ocorrido com mais frequência devido às mudanças climáticas. A potência instalada das usinas hidráulicas soma 108 mil MW, mas a disponibilidade, nesta semana, é um pouco abaixo, de apenas 95 mil. Mesmo assim, ainda há uma boa folga em relação à carga, que é de 20 mil MW menos.
Então, por qual motivo o ONS pediu às empresas donas de térmicas que deixem as usinas em prontidão, prontas para gerar em caso de alguma emergência?
Pela simples razão que há ameaça concreta de novo período crítico de seca. E o sistema vem sendo trabalhado de cabeça prá baixo, ou seja, a prioridade vem sendo dada às fontes solar e eólica, que são belezas, modernas, boas para o meio ambiente, estão em expansão e tudo bem, etc e tal, mas que não respondem com a devida intensidade quando delas se precisa.
Quando não há ventos, as eólicas param de produzir. O mesmo ocorre com as usinas solares, quando o índice de insolação é insuficiente. São elefantes brancos? Não. São importantes para o País. Mas ambas têm as suas limitações, apesar do charme. E, quando não geram, o ONS precisa despachar as usinas térmicas. Por isso, elas entraram em prontidão.
Atualmente as três maiores fontes que compõem a matriz de energia elétrica brasileira, segundo os números do mercado, são hídrica (110 GW), solar (43 GW) e eólica (30 GW).
Analistas ortodoxos do setor elétrico, desses que acreditam nas fadas e no Papai Noel, têm, durante anos e anos, criticado a existência das usinas térmicas. Mais do que criticadas, essas usinas têm sido verdadeiramente demonizadas e criminalizadas. Empresários do setor às vezes são vistos como o verdadeiro Demônio. Entretanto, essas térmicas é que salvam a Pátria quando chega o momento do perigo de um apagão.
O Brasil, sem exagero, deveria prestar uma homenagem a todos aqueles que, por volta de 2001/2002, quando o País estava mergulhado no apagão, enxergaram lá na frente e tiveram a ousadia e a coragem de criar um programa nacional de térmicas.
Ao longo desses 20 anos, elas têm sido uma espécie de salvação da lavoura, pois são acionadas nos momentos mais complicados, quando falta água para produzir energia elétrica. Funcionam como uma apólice de seguro do setor elétrico. Não choveu o suficiente para encher reservatórios? Faltou água nas hidrelétricas? Usa-se as térmicas. E as demais fontes complementam a geração, de modo que este belo, confuso e às vezes injusto País não viva na escuridão.
Simples assim. O resto é blá-blá-blá para boi dormir ou disputas mesquinhas de mercado, o que quiserem escolher.