Mercado elétrico vive de novo fortes emoções
Maurício Corrêa, de Brasília —
Existem muitas dúvidas a respeito dos próximos passos do mercado elétrico nas próximas semanas, em consequência do provável default de um agente de comercialização. De algo, contudo, ninguém tem dúvida: a reputação do mercado livre vai sofrer muito e, num momento complicado, em que as comercializadoras se preparam exatamente para expandir as suas atividades.
Uma das principais preocupações de dirigentes do mercado livre de energia elétrica é o que fazer com aproximadamente 1.500 consumidores livres da carteira da comercializadora que, na avaliação do mercado, está “abrindo o bico”.
“É uma carteira complicada. Pelo que se sabe, muita energia nesses contratos foi vendida por preço abaixo da realidade comercial e será uma fria alguém assumir esses contratos, pois a margem de lucro está muito baixa. A empresa precisava fazer dinheiro e claramente vendeu energia por preço barato. Simplesmente não compensa e ninguém vai fazer a doideira de assumir esses contratos”, admitiu um influente especialista do mercado.
Fontes ouvidas pelo site Paranoá Energia acreditam que o valor de R$ 1 bilhão atribuído preliminarmente ao “rombo” equivale a um verdadeiro choque de realidade, para o qual o ML talvez ainda não esteja preparado. Embora fontes oficiais ouvidas pelo Paranoá Energia queiram minimizar a situação, “é m…total para tudo quanto é lado: contrapartes da comercialização, mercado financeiro, investidores, etc. Um descalabro”, falou uma fonte.
Nesse contexto, é verdade que a empresa em foco já vinha sendo monitorada pela CCEE e as suas dificuldades não constituíram uma surpresa. De qualquer forma, acredita-se que a partir de agora surgirá um jogo de empurra a respeito de quem é a culpa por ter deixado a situação chegar no nível em que chegou, depois de tanto blá-blá-blá. O fato concreto é que ninguém quer ser o pai da criança quando o bebê atende pelo nome de um default que pode chegar a R$ 1 bilhão ou mais.
O site apurou que nem mesmo a mensalidade de R$ 7 mil reais devida à associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, a empresa vinha pagando. “A comercializadora estava muito, mas muito avalancada. Incrível como ninguém viu isto. Ora, se o agente em questão não tinha recurso sequer para pagar a mensalidade da Abraceel, alguém acha que sobraria algum dinheiro para cobrir as demais obrigações financeiras? Lógico que não. A CCEE, o MME e a Aneel têm que se explicar”, alegaram fontes do mercado, complementando que “é a mesma história de sempre, que se repete, agora com outros atores”.
Os números estão sendo contabilizados e ainda não se sabe ao certo o que é responsabilidade da comercializadora e o que é responsabilidade da holding, que tem um CNPJ diferente. “O pior de tudo é que a soma dos ativos não cobre a soma dos passivos levantados até agora. E pode vir mais coisa por aí, pois o problema está só começando”, informou uma fonte ao Paranoá Energia.
A história é tão mirabolante, que em um relatório não oficial obtido por este site a empresa de saneamento de um estado central é citada como credora (não se sabe se da holding ou do agente de comercialização) em R$ 28.623.402,00. “Eu gostaria muito de entender que diabo de operação é esta”, exclamou um especialista do setor elétrico.
Este já não era segredo para algumas pessoas, mas estava razoavelmente circunscrito a alguns especialistas. Para os que já acreditavam que não haveria mais grandes confusões no mercado de energia elétrica, a questão foi democratizada e caiu como uma ducha gelada neste final de semana, quando se ficou sabendo que uma empresa razoavelmente conhecida do mercado elétrico estava na chamada zona cinzenta.
Este site apurou que a empresa está com os contratos bloqueados na CCEE e também está impedida de fazer novas operações.
A lista de credores é bastante ampla, incluindo muitas contrapartes do mercado elétrico (outros comercializadores), geradores hidráulicos, geradores de renováveis, geradores de biomassa, fornecedores diversos e bancos.
A maior parte da “encrenca” é com debenturistas. Neste caso, a soma alcança R$ 780 milhões.
Boa confusão a ser administrada pelos defensores do mercado livre e, ao mesmo tempo, farta munição para aqueles que são contra a abertura irrestrita do mercado nos moldes pretendidos pela Abraceel.