Lições do fracasso da Enel em SP
Este último apagão na Grande São Paulo, que ainda não acabou e tem gerado uma série de desdobramentos sociais, inclusive protestos nas ruas, produz várias lições, sobre as quais as autoridades do setor elétrico deveriam se debruçar e ver que tipo de aprendizado é possível obter.
O primeiro ensinamento é que não há mais qualquer condição de continuar com a Enel controlando a concessão do serviço de distribuição de energia elétrica na Grande São Paulo.
A empresa se mostra totalmente sem rumo, perdida no turbilhão de todos esses acontecimentos, e a prova mais cabal é que os trabalhos de recuperação da rede estão sendo feitos com apoio voluntário de diversas empresas do setor elétrico, sendo que algumas nem têm relação com a distribuição.
A Enel foi na lona e dificilmente vai se recuperar de tudo isso. A empresa está sangrando, mais ou menos como um banco que sofre corrida ao caixa. Não há outro jeito. Tem que ser vendida e mudar o nome.
Outra prova é que a concessionária está trazendo técnicos de concessões que mantém em outros estados (igualmente problemáticas), sem contar que estaria trazendo especialistas de países vizinhos e até da Europa. É um grande esforço para melhorar a cara na hora de se ver no espelho. Tarde demais.
Ou seja, a Enel chegou ao fundo do poço e não dá mais. Este site vem dizendo isto há algum tempo, mas é preciso considerar que o “Paranoá Energia” é um site pequeno e não é lido pelo grande público. Mas quem quiser consultar a coleção do site vai observar que o “Paranoá Energia” não esteve à margem de todo o processo e sempre colocou o dedo na ferida, no caso da Enel, quando foi necessário.
Ninguém sabe dizer o que foi acertado nas famosas e misteriosas conversas entre o presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na Itália, com dirigentes da Enel. Entretanto, se o Governo Federal tivesse um pouquinho de bom senso, esqueceria imediatamente o que eventualmente tenha sido acertado e apoiaria com força qualquer iniciativa da Aneel no sentido de fazer com que a Enel perca essa concessão em São Paulo. É o mínimo que o Governo Federal pode fazer para compensar todo o sofrimento de milhões de consumidores.
Outro ensinamento relevante é a auditoria anunciada nesta segunda-feira, 14 de outubro, sobre os trabalhos da fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Este site também vem falando há algum tempo que o comportamento da Aneel, no caso, é muito estranho. A agência se omitiu totalmente no processo e verificar o que a sua fiscalização fez é uma providência razoável e necessária.
Este site não está insinuando que tenha havido algum tipo de atitude sem ética por parte dos fiscais da Aneel. Longe disso. Só que, para quem não sabe, o setor elétrico trabalha como se fosse uma espécie de Maçonaria (que, aliás, tem muita força na Engenharia Elétrica).
Todo mundo se conhece no setor elétrico. As pessoas estudaram juntas no curso de Engenharia Elétrica. Viveram nas mesmas repúblicas em Itajubá, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Campinas e outras, enfim, nas cidades onde existem bons cursos de Engenharia Elétrica. E essa camaradagem segue por toda a vida, às vezes durante 40, 50 anos.
Em muitos casos, pode acontecer de o fiscal da Aneel chegar em determinada empresa e ser atendido por um grande amigo desde os tempos da faculdade. A amizade acaba falando mais alto. Naturalmente, a abordagem é diferente e sabe-se o que pode acontecer a partir daí, inclusive evitar que sejam escritas determinadas infrações num relatório de fiscalização. Nem rola dinheiro de corrupção. É apenas camaradagem.
Aconteceu isso na Enel? Ninguém sabe. Mas o silêncio da Aneel a respeito da Enel foi eloquente, quando todo mundo dizia que o serviço da empresa era ruim. A agência nunca deu satisfação a ninguém. Sempre foi arrogante. E agora colhe o resultado dessa arrogância, com uma ação de fiscalização por parte da CGU. Provavelmente, cabeças vão rolar. Ninguém na Aneel pode agora reclamar.
No mais, a 2 semanas da eleição municipal em São Paulo, é politicagem da pior qualidade. O Governo fica criticando o atual prefeito de São Paulo, imaginando que assim vai melhorar o potencial de votos do seu candidato. Vencer em São Paulo é questão de honra para o presidente Lula e o ministro Alexandre Silveira, com muito prazer, faz esse papel de puxar o saco do chefe e criticar o prefeito. Ora, todo mundo está careca de saber que quem menos tem culpa nisso tudo é o prefeito Ricardo Nunes, mas Silveira se presta ao papel de criticar e tentar emparedar o prefeito.
Enfim, existem muitas lições que são extraídas dessa crise. Por enquanto ninguém pensa muito nos pobres dos consumidores e cada segmento tenta afastar as suas responsabilidades para os lados.
O mais doloroso nisso tudo é a manchete de hoje do site, matéria produzida pela Agência Estado e distribuída sob contrato. Um relatório produzido pela Fecomércio aponta prejuízo de R$ 1,65 bilhão no varejo e serviços da Grande São Paulo. É muito dinheiro. Pelo menos por um momento, as nossas autoridades do setor elétrico e do Governo, que estão tão preocupadas com as suas responsabilidades e os votos no segundo turno da eleição municipal de São Paulo, poderiam parar para pensar o quanto o trabalho da Enel, na região, é nocivo e prejudicial para todo mundo.
Chega de Enel. Ninguém aguenta mais.