ONS: um pouco mais de transparência não faz mal a ninguém
Este site, na medida do possível, tem acompanhado as decisões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a forma como o órgão administra a carga do País. Ninguém duvida que o ONS é um pedaço da tecnoburocracia brasileira que se destaca pela qualificação técnica e pela idoneidade dos seus integrantes. Isso, entretanto, não é razão suficiente para acreditar que o ONS é o dono da razão.
No mês de novembro, por exemplo, saltou à vista um problema crônico que já havia sido identificado há tempos por aqueles que se dão ao trabalho de acompanhar o cotidiano do ONS. Responsável pelas estimativas de projeção da carga de energia que alimenta os modelos de operação e formação de preço, na última semana, que corresponde à chamada revisão zero (referente ao período que se inicia em 26 de setembro e termina em 02 de dezembro) do Programa Mensal de Operação (PMO), apresentou uma previsão de 64.980 MWmedios para a carga do Sistema Interligado. Isso resultou em um Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) de 182,12 R$/MWh.
Ocorre que a previsão de carga da semana imediatamente anterior era de 67.280 MWmedios, o que resultou em um PLD de 204,92 R$/MWh. De uma semana para outra, ao se comparar as condições climáticas, nada mudou no consumo dos setores industrial, comercial e residencial. Tanto que a carga verificada registrou 67.500 MWmedios, superior inclusive aquela previsão de 67.280 MWmedios.
Mas, ao se recalcular o PLD da revisão zero utilizando-se a previsão mais consolidada que era de 67.280 MWmedios, o valor deveria ter sido pelo menos de 201,15 R$/MWh e não R$ 182,12. Para o mercado, esse tipo de conta feita pelo ONS — que, vale a pena repetir, é um órgão da maior seriedade — reforça a tese que é preciso mais transparência na formação dos preços da energia elétrica, pois acaba gerando insegurança entre os agentes, que nunca sabem com exatidão onde os preços refletem a realidade e a ficção.