Associações: hora de discutir o modelo?
Um tema que é verdadeiro tabu entre dirigentes do setor elétrico foi abordado, em conversa reservada com este site, por um dos mais respeitados especialistas da área. Trata-se da consolidação das associações empresariais. Na visão desse analista, há muita associação para pouco setor elétrico no Brasil.
Já existem cerca de 20 associações empresariais que representam segmentos ou divisões de segmentos no setor elétrico. Isso não estaria compatível com a realidade das empresas, que bancam as associações. Em todos os setores, as empresas estão no osso, cortando custos e mais custos, enquanto cresce o número de associações. Para o especialista, tem alguma coisa errada nesse processo.
Longe de querer limitar o direito de associação das empresas, ele entende que a questão básica se refere à bancabilidade. Ele acredita que não está longe o momento em que alguém, nas empresas, vai parar para pensar e vai dizer: “Por que a nossa empresa gasta dinheiro com tantas associações? Será que não há uma maneira de racionalizar esses gastos?”
Na sua compreensão, a consolidação se dará através dos segmentos, afetando principalmente o mercado livre e os geradores. Haveria, por exemplo, uma associação do mercado livre, que reuniria as atuais associações dos comercializadores e dos consumidores de grande ou médio porte. Outra associação consolidaria os papéis desempenhados hoje por todas as organizações que representam a geração, que ficariam sob um único guarda-chuva. Nesse raciocínio, as atuais associações dos transmissores e dos distribuidores ficariam praticamente inalteradas.
Essa questão é naturalmente um tabu, pois significa que uma eventual consolidação, com o conseqüente corte de gastos por parte das empresas, fará com que alguém fique no sereno, perdendo o status atual.
Na avaliação deste site, a questão financeira é procedente, mas não se trata apenas disso. Nas bases de várias associações, hoje, existe um enorme desapontamento com a forma como estão sendo tocadas pelos atuais dirigentes, que estariam muito acomodados nos seus respectivos feudos. Não é difícil perceber que algumas associações que já tiveram uma importância relativa no setor elétrico praticamente desapareceram por conta da indiferença de seus dirigentes.
Para o especialista ouvido por este site, não se trata de um beco sem saída e há uma solução para o problema. Caso as empresas não tenham interesse efetivo na consolidação e prefiram conviver com a enorme segmentação atual das associações, seria possível reverter a visão negativa que muitos associados hoje têm de suas próprias associações, simplesmente com a mudança da governança.
Ele citou como exemplo positivo o caso da associação dos comercializadores, a Abraceel, que elege os seus conselheiros através de eleição direta — a próxima, aliás, está marcada para o dia 08 de março — e os integrantes da Diretoria-Executiva são cobrados pelos resultados que oferecem aos controladores. Ou seja, a associação não é perfeita, tem lá as suas dificuldades como qualquer outra organização, mas também tem vida e segue em frente. Pode-se fazer várias críticas à Abraceel, mas não se pode dizer que seja uma associação acomodada. Longe disso.
Para o especialista — que não quis se identificar porque tem associações no seu portfólio de clientes — a governança da Abraceel poderia ser adaptada por outras associações, pois revitalizaria aquelas que estão mergulhadas no marasmo absoluto.
Essa é uma discussão que estaria apenas começando. Ainda vai passar algum tempo em banho maria, até porque tem algumas empresas que se consideram “proprietárias” de determinadas associações, uma situação que não existe no modelo da governança criado pela Abraceel. O velho modelo do conchavo para escolha de conselheiros permite esse tipo de arranjo arcaico.
Mas, conforme conversado com este site, dificilmente o setor elétrico escapará de algum tipo de mudança profunda que afete as associações, seja através da consolidação, seja através da governança, pois é muito difícil manter o status quo atual que combina, em alguns casos, acomodação, burocracia, ineficiência e custos altos bancados pelas empresas associadas.