O batom na cueca
Quando chegou ao fim o Governo controlado pelo Partido dos Trabalhadores, houve uma espécie de convergência dos analistas quanto às razões principais que levaram à queda histórica. Nesse contexto, apontou-se o amadorismo dos petistas na condução das questões políticas e uma absoluta incompetência na gestão econômica, sem contar a extraordinária atração do PT por negócios envolvendo a Petrobras.
Com a chegada ao poder do Governo liderado pelo PMDB, houve uma natural euforia com as novas perspectivas que se abriam, principalmente no campo econômico. É verdade que a recuperação da economia está demorando um pouco, mas também sabe-se que não era fácil consertar de hora para outra a política de terra arrasada deixada pelo PT.
Apesar de tudo, a macroeconomia começa a dar sinais positivos, o que é bom para todos nós, brasileiros, qualquer que seja a preferência partidária. Paradoxalmente, nossos principais problemas parecem estar exatamente naquela parte onde menos se esperava: a atuação política.
Os caciques do PMDB têm uma espécie de orgulho e se consideram mestres da política partidária. Ninguém sabe mais do que eles. É uma falsa verdade. Aparentemente, os mestres se perderam na História e não perceberam até agora que o País mudou e que os brasileiros querem respostas da classe política além daquelas que o PMDB está em condições de oferecer.
Enquanto a gestão econômica mantém uma linha de coerência e permanece sob o firme comando do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trapalhadas é que não faltam na área política. Além da sucessiva indicação de nomes inadequados para o ministério (e em alguns casos não apenas inadequados, mas, também, envolvidos de certa forma com práticas de corrupção), o Palácio do Planalto tem se perdido em decisões de péssima qualidade, que também mostram amadorismo, quando se imaginava que os “mestres” sabiam tudo sobre política e dariam conta do recado com facilidade.
Tome-se o caso do ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, para ocupar a cadeira vaga no STF com a morte do ministro Teori Zavascki. Qualquer idiota compreende que alguém que tem não só uma vocação policial, mas, também, a cara de pau de publicar um livro de Direito em que parágrafos inteiros são absurdamente plagiados de uma obra de um jurista espanhol, não está definitivamente à altura para ser indicado para o Supremo.
Mas, nesta terça-feira, 21 de fevereiro, o ministro Moraes será sabatinado no Senado Federal e provavelmente o rolo compressor do Governo vai homologar o seu nome para a Corte Suprema, o que é uma verdadeira aberração.
Está claro para qualquer pessoa medianamente inteligente que a indicação de Moraes para o STF faz parte de uma articulação para pressionar a Lava Jato e salvar os cardeais da política das responsabilidades por irregularidades de caixa dois, etc. As delações premiadas de grandes executivos mostram que a mala preta era um dos objetos preferidos da classe política como um todo, não apenas do PMDB.
Isso é mais ou menos como a história do batom na cueca, mas amigos do peito no STF talvez possam dar um jeitinho para amenizar as coisas. É o que pensam os cardeais do PMDB (e também de outros partidos envolvidos, como PSDB, PP, etc).
A pergunta que se faz é a seguinte: será que os cardeais do Congresso Nacional pensam que o povo brasileiro é trouxa? Será que não percebem que o País mudou? Se eles ainda acreditam que podem manipular a política de acordo com as suas conveniências pessoais, pode-se sugerir que eles deem uma voltinha em algum shopping ou supermercado sem ajuda de seguranças nas tardes de sábado, ou utilizem qualquer voo de carreira como se fossem cidadãos comuns. As reações populares certamente os deixarão constrangidos.
Dá vontade de chorar do Governo Temer quando se vê alguém como o ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, presidindo a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal e, nessa condição, sabatinando o ministro Alexandre de Moraes (que, no STF, terá uma função muito relevante na condução da Lava Jato) .
Pode-se dizer que o que nos leva a essa triste situação é a busca da governabilidade no Congresso Nacional. Como é óbvio que não se justifica tamanho escárnio, o que se pergunta é quais são os limites do Governo Temer. Até onde vai o prazo de validade de Temer como presidente?
Não será impossível chegar com ele na Presidência da República até a eleição de 2018, mas desse jeito está difícil. Está claro que os brasileiros temem (sem trocadilho) mais uma troca de presidentes, devido à instabilidade econômica que pode ocasionar, justamente no momento em que a economia começa a respirar. Mas não será de todo impossível que na eleição de 2018 o Palácio do Planalto tenha outro ocupante, a quem caberá terminar o atual mandato presidencial.
Michel Temer está tentando buscar apoio no PSDB. O deputado Antônio Imbassahy agora é o titular da Secretaria do Governo e o Ministério da Justiça está em negociação. Uma eventual tucanização do atual Governo pode ser uma bóia de salvação para o presidente Temer.
Mas se em algum momento o PSDB perceber que isso pode constituir uma armadilha e que tentar consertar o Governo Temer poderá tirar muitos votos em 2018, é quase certo que o Partido cairá fora do Governo, do mesmo modo que o PMDB abandonou o PT. Nesse raciocínio, será muito difícil garantir a cadeira de Temer no Planalto e a opção seria a escolha de algum nome ilustre que reúna o mínimo de consenso para se chegar à próxima eleição. É um cenário complicado, mas não tem como fugir muito dele, não.