Prejuízo da Petrobras em 2016 foi de R$ 14,8 bi
A Petrobras amargou prejuízo de R$ 14,824 bilhões em 2016 e, mais uma vez, não pagará dividendos aos acionistas. Foi o terceiro ano no vermelho desde 2014, quando a Operação Lava Jato começou a revelar desvios de recursos na empresa e o preço do petróleo passou a despencar no mercado internacional. O balanço financeiro divulgado nesta terça-feira, 21 de março, ainda enfrenta questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que define nas próximas semanas se a estatal terá que republicar todos seus demonstrativos desde 2013 pelo uso de um instrumento de proteção contra variações cambiais.
“Temos que trabalhar com alguma margem de segurança e buscar o melhor resultado da empresa. Queremos voltar a pagar dividendos o mais cedo possível”, afirmou o presidente da Petrobras, Pedro Parente, em entrevista coletiva.
Em 2016, o prejuízo da Petrobras teve como pano de fundo a queda de 8% na venda de derivados do petróleo no mercado interno e, principalmente, as baixas contábeis (impairment) de quase R$ 21 bilhões. Em 2015, a estatal já havia realizado baixas de quase R$ 50 bilhões em seu balanço financeiro por conta de perdas com corrupção e investimentos mal sucedidos. Outro efeito foi o gasto com o programa de desligamento de funcionários, que totalizou R$ 4,1 bilhões.
No quarto trimestre, a Petrobras esboçou uma reação puxada pela melhora do lucro operacional e do resultado financeiro líquido. Com isso, fechou o período com um lucro de R$ 2,510 bilhões. “São números de resultados operacionais positivos muito relevantes, mas quero contrastar que ainda temos uma dívida muito relevante”, disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente .
Apesar dos números, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, comemorou a melhora dos resultados da estatal do ponto de vista operacional em coletiva de imprensa para comentar os resultados da companhia em 2016. O executivo fez questão de frisar, entretanto, que a petroleira continua tendo uma dívida líquida muito elevada, próxima de US$ 100 bilhões, e sua redução não deve sair do radar da diretoria executiva.
“São números de resultados operacionais positivos muito relevantes, mas quero contrastar que ainda temos uma dívida muito relevante. O trabalho precisa continuar para reduzirmos a dívida a patamares mais razoáveis”, disse Parente na sede da companhia, no Rio, nesta terça-feira, 21 de março.
Parente destacou a mudança de patamar do resultado operacional da companhia de 2015, quando foi negativo, para um lucro de R$ 17 bilhões. Também destacou que a Petrobras teve a maior geração operacional de caixa entre as empresas do setor listadas em bolsa. Assim como margem Ebitda de 31%, um número muito positivo comparado à média de 18% das empresas listadas da indústria. Outro resultado destacado pelo presidente foi que a estatal registrou seu sétimo trimestre consecutivo de fluxo de caixa livre positivo.
De acordo com Pedro Parente, as duas métricas de topo da empresa tiveram avanços. A de segurança foi cumprida com uma redução de 24% no total de acidentados registrados, resultado considerado por ele extraordinário.
A outra métrica de topo é o processo de desalavancagem. A Petrobras, destacou o executivo, contou com a contribuição da valorização do real na redução de 6% da dívida bruta em dólares e de 22% em reais. Além disso, houve, “uma expressiva redução” anual de 31% no índice dívida líquida/Ebitda ajustado, que passou de 5,11 para 3,54 vezes no fim de 2016.
O presidente da Petrobras frisou aos jornalistas que a companhia assumiu a posição de exportadora líquida em dezembro, com o crescimento de 12% nas exportações no último trimestre do ano passado. O ponto é fundamental dentro da discussão sobre a adoção da contabilidade de hedge pela empresa, contestada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A alavancagem líquida da Petrobras, medida pela relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido, fechou o quarto trimestre em 55%, igual à marca de 55% verificada ao término de setembro de 2016 e ante 60% em igual trimestre de 2015.
Já a relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado atingiu 3,54 vezes, ante 4,07 vezes no terceiro trimestre de 2016 e 5,11 vezes no fim de 2015.
Em dezembro de 2016, o endividamento bruto da petroleira atingiu R$ 385,784 bilhões, sendo R$ 31,855 bilhões de curto prazo e R$ 353,929 bilhões de longo prazo. O montante total é 22% menor que os R$ 493,023 bilhões devidos ao final de 2015.
Como a Petrobras fechou o quarto trimestre com R$ 71,664 bilhões em disponibilidades (incluindo títulos), a dívida líquida ao término de 2016 alcançou R$ 314,120 bilhões. A cifra é menor que o endividamento líquido de R$ 325,563 bilhões verificado em setembro de 2016 e 20% inferior aos R$ 392,136 bilhões apurados ao fim de 2015.
As dívidas da petroleira a vencer neste ano totalizam R$ 31,796 bilhões. Em um período de um a dois anos, vencem outros R$ 36,557 bilhões.
Ainda segundo o material de divulgação do resultado trimestral, da dívida total da Petrobras, o equivalente a R$ 276,876 bilhões foi contraída em dólar. Outros R$ 21,637 bilhões foram em euros, R$ 78,788 bilhões em reais e R$ 7,688 bilhões em outras moedas.
Para minimizar sua exposição ao câmbio, utiliza contabilidade de hedge para proteção de exportações futuras altamente prováveis. A prática contábil, que designa relações de hedge entre exportações e obrigações em dólares, ameniza o impacto cambial e, consequentemente financeiro, sobre as demonstrações da empresa. No entanto, foi questionada recentemente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As vendas de combustíveis pela Petrobras no mercado brasileiro atingiram 2,001 milhões de barris por dia no quarto trimestre de 2016, um recuo de 4% em relação aos 2,088 milhões de barris diários negociados nos três meses imediatamente anteriores. Na comparação com os 2,171 milhões de barris diários do último trimestre de 2015, houve queda de 7,83%.
A comercialização de diesel, principal mercado para estatal em termos de volume, somou 707 mil barris diários, retração de 12% ante os 804 mil barris negociados no terceiro trimestre de 2016 e de 22% em relação aos 907 mil barris diários vendidos em igual intervalo de 2015.
O derivado é consumido em grande escala por caminhões, atividade da economia que depende do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB).
Já as vendas de gasolina alcançaram 553 mil barris diários, alta de 6% ante os 521 mil barris diários do trimestre imediatamente anterior e 1,60% abaixo dos 562 mil barris diários do terceiro trimestre de 2015.
Incluindo na conta gás natural, alcoóis, nitrogenados renováveis e outros, o volume total comercializado pela Petrobras no mercado brasileiro chegou a 2,438 milhões de barris por dia, 4% menos que os 2,5 milhões de barris por dia do terceiro trimestre e 10% abaixo dos 2,7 milhões de barris por dia negociados de igual período de 2015.
O balanço mostrou, ainda, que o volume vendido no mercado externo no terceiro trimestre de 2016 totalizou 1,013 milhão de barris diários, ante 939 mil barris diários no terceiro trimestre e 1,159 milhão de barris diários no mesmo intervalo do ano anterior.
Com isso, as vendas totais da Petrobras entre outubro e dezembro de 2016 ficaram em 3,450 milhões de barris por dia, 1% menos que os 3,472 milhões de barris diários negociados nos três meses imediatamente anteriores e 10,9% abaixo dos 3,872 milhões de barris comercializados no quarto trimestre de 2015.
O valor médio de derivados básicos comercializados pela petroleira no mercado interno no quarto trimestre foi de R$ 220,36 o barril, ante R$ 239,36 o barril um ano antes e R$ 228,58 o barril no terceiro trimestre de 2016.
Já o preço de venda do petróleo praticado no Brasil foi de US$ 45,71 o barril para o petróleo, ante US$ 33,50 um ano antes e US$ 41,77 no terceiro trimestre de 2016.
A Petrobras produziu um total de 2,868 milhões de barris por dia de petróleo e gás natural no Brasil e no exterior no quarto trimestre de 2016, o que representa um ganho de 3,3% em relação aos 2,777 milhões de barris produzidos em igual período do ano anterior.
Na comparação com os 2,869 milhões de barris por dia verificados no terceiro trimestre de 2016, o resultado ficou estável.
O volume diário médio apontado pela estatal no quarto trimestre de 2016 corresponde a 2,308 milhões de barris por dia de petróleo e liquefeito de gás natural (LGN), e 560 mil barris por dia de gás natural.