Furnas implanta projeto para gerar energia do lixo
Da Redação, de Brasília (Com apoio de Furnas) —
A geradora federal Furnas concluiu a primeira fase de um projeto de inovação tecnológica, desenvolvido em parceria com a Carbogás Energia Ltda, visando a geração de energia elétrica a partir de uma usina de tratamento de resíduos sólidos urbanos. O empreendimento utilizará a gaseificação a leito fluidizado, processo inovador com tecnologia 100% nacional e escolhido a partir de um cuidadoso trabalho de prospecção de alternativas no mercado nacional e internacional.
A conclusão da etapa de testes na planta experimental da Carbogás, em Mauá (SP), permitiu aos parceiros constatar, além da viabilidade da tecnologia aplicada, que as taxas de emissões decorrentes do processo estão dentro dos mais rigorosos padrões europeus. A iniciativa utilizou um processo termoquímico para produzir gases combustíveis que serão utilizados em caldeiras e turbinas a vapor para gerar energia elétrica sem emissões ao meio ambiente.
A próxima etapa do projeto será a montagem de uma usina protótipo que terá 1 MW de capacidade e deverá ser implantada, em 2017, no município de Boa Esperança (MG), localizado no entorno do reservatório da Usina de Furnas, com interconexão na rede elétrica da Cemig. A planta da usina ocupará uma área de 7.800m², em um terreno doado pela administração municipal. O custo total do projeto é R$ 32 milhões e a iniciativa é regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no âmbito do programa de pesquisa e desenvolvimento.
“Esse é um processo inovador e de interesse público, que contribui para a diversificação da matriz energética brasileira. Furnas se orgulha em participar, mais uma vez, de um projeto de vanguarda mundial, com tecnologia 100% nacional”, afirma Ricardo Marques, gerente de Pesquisa, Serviços e Inovação Tecnológica de FURNAS.
Ricardo Marques esclarece que, apesar de a usina ser dimensionada para atender cidades de 40 mil habitantes, nada impede que a iniciativa seja implantada em regiões mais populosas, pois o projeto proporciona domínio da tecnologia. O domínio tecnológico permite a utilização da usina de forma flexível. Assim podem ser utilizadas várias unidades em pontos estratégicos, o que reduz os custos de transporte dos resíduos, ou uma única unidade de maior porte. Isto é, a tecnologia pode ser adaptada para qualquer realidade.
“Trata-se de um novo nicho de mercado que contribui para a solução do problema socioambiental de descarte de resíduos sólidos, que hoje as prefeituras possuem. Estimativas iniciais mostram que até 25% da energia elétrica para a faixa residencial pode ser atendida pela energia produzida com os resíduos sólidos urbanos”, explica Ricardo.
A tecnologia conhecida como Gaseificação a Leito Fluidizado para Resíduos Sólidos Urbanos é 100% nacional, tendo como base um sistema onde os resíduos, adequadamente triturados, sofrem reações termoquímicas e ficam dispersos em um leito composto por partículas inertes, produzindo gases combustíveis não poluentes que são trabalhados em um sistema hermético, sem emissão para o meio ambiente. Esses gases são utilizados em caldeiras e turbinas a vapor para geração de energia elétrica. A planta de gaseificação é dividida em três blocos: unidade de recepção e produção de combustível derivado de resíduos; unidade de gaseificação; e unidade de geração de energia elétrica.
O destino de toneladas de lixo produzidas diariamente pela população é um problema que vem sendo cada vez mais discutido no Brasil. Segundo dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, de 4.469 municípios investigados, 1.856 não realizavam nenhum tipo de tratamento e 2.358 depositavam seus resíduos em lixões. Com foco na eliminação dessas áreas transmissoras de doenças e no aumento da coleta seletiva, foi criada, em 2 de agosto de 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Uma outra pesquisa, dessa vez empreendida em 2012 pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, revelou que grande parte dos 64 milhões de toneladas de lixo urbano coletada não era tratada adequadamente. Em 2014, o cenário já era outro: 65% dos municípios praticavam coleta seletiva, número animador se comparado a um passado não muito distante.
Contudo, a disponibilização para a sociedade e para o mercado de uma solução que equacione a questão socioambiental do descarte de resíduos com geração de valor ainda não é uma realidade. A geração de valor com resíduos é importante para viabilizar financeiramente a mudança da situação atual. “Com a implementação deste projeto de inovação, Furnas espera criar uma alternativa para transformar o grave desafio dos resíduos sólidos urbanos em geração de valor, renda e desenvolvimento econômico e social”, completa Ricardo.