Leilão de Lt´s tem comprador para 31 de 35 lotes
O leilão de empreendimentos de transmissão de energia realizado nesta segunda-feira, 24 de abril, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conseguiu atrair interessados para 31 dos 35 lotes ofertados. Os lotes que inicialmente não haviam recebido propostas durante o certame foram reofertados ao final do evento, numa inédita iniciativa de repescagem, mas nenhum investidor se interessou.
Com isso, dos R$ 13,1 bilhões em investimentos estimados nos 35 projetos ofertados, R$ 12,7 bilhões foram viabilizados, segundo cálculos preliminares. Não houve liderança por parte de um único investidor.
Entre as empresas que conquistaram mais lotes estão a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), que conquistou quatro lotes sozinha e um em parceria com a Taesa; a Elektro, com quatro lotes; e a EDP – Energias do Brasil, também com quatro lotes, sendo um em parceria com a Celesc. Energisa e RC Administração e Participações ficaram com dois projetos cada
Por outro lado, a Equatorial, que mostrou forte apetite no leilão passado, desta vez embora tenha disputado diversos lotes conquistou apenas um. A Engie Brasil Energia, por sua vez, que havia anunciado a intenção de entrar no segmento, não foi bem sucedida em seus lances, tendo em vista a agressividade dos concorrentes.
O diretor geral da Agência Nacional de energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, destacou, após o encerramento do leilão, que o “desafio começa agora”, ou seja, que os empreendedores entreguem o que contrataram. “Infelizmente, este não tem sido um pequeno desafio, quer seja no segmento de transmissão, mas também de geração, temos uma quantidade muito grande de empreendimentos em atraso e temos um esforço de nossa parte”, comentou.
Ele salientou que a agência tem se dedicado a aperfeiçoar o processo de gestão dos contratos, de acompanhamento dos projetos e de fiscalização do andamento das obras. “Nosso modelo é de acompanhamento, conhecer o plano de negócio para não deixar descolar daquela obrigação do cronograma do contrato”, disse, acrescentando que o programa de fiscalização está mais orientativo-preventivo”, para assegurar que seja entregue aquilo que está contratado.
Os altos ágios registrados, particularmente em alguns dos lotes leiloados hoje, chegando a 58%, chamaram a atenção de alguns agentes do mercado, que mostraram preocupação com a possibilidade de uma repetição do que já foi visto no passado, quando alguns empreendedores conquistaram lotes também ofertando descontos significativos, mas não conseguiram entregar as obras. Mas Rufino salientou que a agência aprendeu com os casos passados, como o da Abengoa, que entrou em recuperação judicial e paralisou obras importantes para o escoamento de energia de novas usinas.
“Temos feito visitas às empresas, um a dois meses após a assinatura dos contratos, principalmente as que não tiveram contrato de transmissão (anterior), justamente para ver como está estruturada e a engenharia financeira. E a cada três meses em média trazemos todas as empresas para conversar sobre como está, com a finalidade de identificar com bastante antecedência aquelas dificuldades que a empresa pode ter no futuro e pode levar a um atraso”, acrescentou o diretor José Jurhosa. “Risco sempre tem”, acrescentou.
O ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, salientou que mais de 80% das vencedoras são companhias conhecidas, não se apresentaram pela primeira vez para assumir um projeto de transmissão, mas estão familiarizadas e “enraizadas” no mercado brasileiro. Além disso, ele lembrou que a maior parte dos lances, mesmo de altos deságios, foi dado de partida, não fruto de uma disputa a viva-voz, no calor do momento. “Eles se apresentaram seguros do lance que estavam dando e tenho plena convicção de que vai dar certo”, disse.
A empresa que apresentou o maior deságio foi a indiana Sterlite Power Grid Ventures, uma novata no País, mas o superintendente da Aneel Ivo Sechi Nazareno salientou que o grupo possui investimento grande em linhas de transmissão na Índia e se estabeleceu no País há alguns meses, estudando e se preparando para o leilão de hoje. “Eles foram na Aneel conversar sobre riscos e matriz do contrato e eles são razoavelmente preparados para assumir essas concessões e desenvolver as outorgas dentro daquilo que foi contratado e programado”, afirmou.
Rufino disse esperar uma reversão da decisão judicial da liminar que suspendeu a licença de operação da hidrelétrica de Belo Monte. “É uma decisão que a Aneel nem é parte direta (…), mas claro, como é um assunto de impacto e interesse do setor elétrico, interesse público, a AGU (Advocacia Geral da União) está participando do processo”, disse.
“Depois de uma usina pronta, já em condições de gerar uma energia tão importante, não acredito que isso (a liminar) vá prevalecer”, acrescentou. Ele lembrou que a liminar foi concedida sob alegação que a concessionária responsável pela usina não cumpriu as condicionantes, como as obras de saneamento em Altamira. “Isso ela tem que resolver junto à Justiça”, comentou.
Analistas do BTG Pactual disseram que o leilão de transmissão de energia desta segunda-feira foi bem mais disputado que o de outubro do ano passado e que o Brasil, “o principal vencedor da disputa”, atrairá R$ 12,7 bilhões em investimentos a serem implantados nos próximos quatro anos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conseguiu atrair interessados para 31 dos 35 lotes ofertados e 97% dos lotes receberam ofertas. “Então, parece que o vencedor claro do leilão de hoje é o País”, resume a equipe de análise.
Para comparação, no ano passado, o desconto médio ponderado para os retornos máximos permitidos para as linhas ofertadas foi de 12,3%. No leilão de hoje, esse porcentual saltou para 36,3%, diz o comentário do BTG Pactual. Além disso, em 2016, oito grupos diferentes venceram alguma disputa, o equivalente a um a cada três linhas, ao passo que, desta vez, foram 16 grupos diferentes, de um total de 35 lotes.
“A maioria dos retornos não pareceu assertiva”, diz o comentário do BTG Pactual. Por outro lado, os analistas ponderaram que todos os vencedores do leilão que têm ações na bolsa de valores possuem histórico de disciplina financeira.
A conquista da Equatorial tem um retorno potencial interessante. Já as da Cteep se concentram em São Paulo, onde a empresa domina o negócio de transmissão. A Alupar, por sua vez, pode estar enxergando investimentos e despesas operacionais mais em conta, na comparação com o edital. A Energisa venceu dois lotes, sendo que em um deles opera no segmento de distribuição, o que indica que haverá sinergias. Quanto à EDP (Energias do Brasil), os analistas escreveram: “Vamos conversar com a EDP para entender a sua visão sobre o lote 18”. Acrescentaram que os resultados dos lotes 7 e 11 devem ser analisados em conjunto.
“Apesar de acreditar que a maioria dos participantes é disciplinada, experiente e provavelmente está enxergando soluções diferentes daquelas apresentadas pelo regulador, a realidade é que o ambiente se tornou mais competitivo. Em outubro de 2016, as empresas não precisaram se ‘explicar’ tanto, porque os retornos pareciam realmente bons”, diz o comentário. “Hoje as empresas – que, mais uma vez, são experientes e disciplinadas – terão de explicar aos seus acionistas como vão desbloquear o valor com os investimentos.”
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, avaliou que o leilão de transmissão foi muito bem sucedido, destacando a presença de players nacionais e internacionais no certame. “Pela primeira vez, tivemos competidores indianos, além de vários empreendedores locais, como Elektro, CTEEP e Equatorial”, disse Ferreira, em conversa com jornalistas após participação no I Fórum Espanha-Brasil, em São Paulo. O executivo ainda afirmou que os players que arremataram ativos são altamente qualificados, o que, em sua avaliação, garante que os investimentos no setor serão feitos.
Quanto aos lotes que não tiveram disputa – ao todo, dos 35 ativos que estavam no leilão, 31 foram arrematados -, Ferreira ponderou que alguns deles eram pequenos. “Talvez faça sentido juntar esses lotes (num leilão futuro)”, disse. Questionado sobre eventuais novos leilões de geração de energia, o presidente da Eletrobras destacou que o mercado brasileiro tem dado sinais de recuperação, com a demanda global e o mercado livre crescendo fortemente, mas avaliou que é necessária a conclusão de alguns passos antes de um próximo leilão.
“Temos que tirar um pouco de coisas que não vão sair, como os leilões de descontratação”, disse. “Temos que limpar a oferta que não vai ser produzida, isso vai dar confiança ao governo para fazer um leilão (de geração) com o mesmo sucesso dos de transmissão.”
Quanto à realização dos leilões de descontratação, Ferreira classificou o posicionamento do governo como “corajoso”, uma vez que existia uma situação de sobreoferta no mercado brasileiro, sendo necessária a criação de instrumentos para que os distribuidores pudessem ser aliviados.
“Com a demanda correta, o governo terá plena condição de fazer um leilão para nova oferta”, disse. Questionado quanto ao cronograma desse eventual novo leilão de geração, o executivo disse acreditar que poderá ocorrer no segundo semestre, mas preferiu não cravar um período. “Não é função minha (definir uma data)”, finalizou.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, celebrou o resultado do leilão de transmissão de energia. “Tivemos um leilão extremamente bem sucedido”, afirmou o ministro. “Tivemos uma concorrência e uma competição muito saudável. Isso gerou um deságio de quase 40%.”
Moreira Franco destacou que o deságio obtido no leilão vai representar uma economia de R$ 22 bilhões ao consumidor nos próximos 30 anos. “Em alguns casos, tivemos deságio de mais de 50%”, celebrou. O ministro disse que os lotes vão representar quase R$ 13 bilhões em investimentos e devem gerar 28 mil empregos.
O ministro ressaltou que, até o momento, o governo conseguiu realizar 50% das propostas do primeiro portfólio do Programa de Parcerias de Investimento (PPI). “Os prazos estão sendo cumpridos rigorosamente”, afirmou. Ele lembrou que o governo vai começar, em maio, os leilões na área de petróleo e gás, com a oferta de áreas marginais. Em seguida, serão licitadas áreas unitizáveis e, até o fim do ano, áreas do pré-sal.