A notável expansão das eólicas
O relatório referente às atividades de 2016, recém-divulgado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), mostra resultados extraordinários, que destacam a musculatura do segmento. Só no ano passado, foram incorporados ao sistema elétrico brasileiro mais de 2 GW de energia derivada da fonte eólica, com a entrada em operação de 81 novos parques eólicos. No total, o Brasil alcançou a capacidade instalada de 10,75 GW, com 430 parques em atividade. A participação da fonte eólica na matriz energética já supera o patamar dos 7%, o que não é pouca coisa, principalmente considerando que, na avaliação da própria associação, a capacidade instalada total do segmento deverá alcançar 13 GW ao final de 2017.
Os números divulgados pela Abeeólica ganham mais importância, ainda mais quando se olha que duas fontes tradicionais de energia no Brasil (a biomassa e PCH´s) estão ficando para trás, pois não conseguem acompanhar a explosão que a fonte eólica registra no País. Até mesmo a energia solar, cuja capacidade instalada tem crescido bastante, não consegue avançar mais, pois também foi engolida pela força da energia eólica.
Quando se compara os dados de 2015 com os de 2016, observa-se que a energia eólica no Brasil apresentou uma excepcional expansão de 55%. Um dado em particular revela como essa fonte, hoje, merece uma atenção especial: no dia 05 de novembro de 2016, um sábado, a origem de 52% da energia elétrica utilizada na região Nordeste foi exatamente a fonte eólica.
Embora os grandes números do relatório da Abeeólica mereçam comemoração, o fato concreto é que o País não pode achar que não tem mais nada a fazer em relação à fonte eólica e que basta sair para o abraço. Ao contrário, ainda temos muito chão para caminhar, pois o potencial do Brasil, nessa área, é bastante amplo. Aliás, com 10,75 GW de capacidade instalada de eólica, é verdade que já demos um grande passo em relação ao passado, mas, ainda assim, somos apenas o nono país na lista daqueles com maiores capacidades instaladas de energia gerada pelos ventos, atrás, pela ordem, da campeã China, Estados Unidos, Alemanha, Índia, Espanha, Reino Unido, França e Canadá.
O relatório assinado pela presidente da Abeeólica, Élbia Gannoum, mostra com clareza que temos vários gargalos para resolver no campo da energia eólica, para que o Brasil possa aproveitar convenientemente o seu enorme potencial. Além da instabilidade política, que prejudica qualquer tipo de investimento em qualquer área, as autoridades do setor elétrico precisam resolver com urgência o sério problema da transmissão (em muitos casos, os parques eólicos ficam concluídos, mas a energia não pode ser aproveitada porque ainda não foram terminadas as linhas de transmissão) e também a questão delicada do financiamento, pois tudo depende, como sempre, do financiador praticamente único que é o BNDES.
Os números da Abeeólica também revelam que embora não se possa mais prescindir do aproveitamento das fontes eólica e solar, o Brasil ainda é fundamentalmente atendido pela fonte hidrelétrica e esse segmento merece um carinho especial da parte das autoridades do setor elétrico. Afinal, apesar de todo o progresso, a fonte eólica representa ainda apenas 7% da matriz brasileira e a fonte solar ainda é indicada estatisticamente por um traço, pois a sua contribuição, por enquanto, é pequena.
Em outras palavras, o Brasil precisa incentivar a expansão das fontes renováveis, mas não pode se esquecer daquela que é a principal renovável, ou seja, a hidrelétrica. É uma utopia imaginar, hoje, que a energia derivada apenas das fontes eólica e solar, como pretendem alguns ambientalistas mais radicais, possa atender ao Brasil, com sua extensão continental e mais de 206 milhões de habitantes.
Então, senhores, pragmaticamente vamos aproveitar o potencial das fontes eólica e solar e investir cada vez mais nessas opções energéticas. Mas não vamos nos esquecer que, se não cuidarmos das hidrelétricas, principalmente de formatar um arcabouço regulatório adequado para elas, literalmente o que nos aguarda são as trevas.