Começar de novo
Os últimos acontecimentos mostram claramente que o Brasil precisará começar tudo de novo. Até que ia bem. As reformas estavam sendo bem conduzidas dentro do Congresso e a economia emitia os primeiros sinais, ainda tímidos, de uma recuperação. Mas a classe política tem vícios aparentemente incuráveis e a população é obrigada a assistir o pesadelo diário pela televisão, pois a corrupção passa por todos os partidos e lideranças. Praticamente, não escapa ninguém.
O Governo Temer logicamente já era. Se o presidente não tiver a grandeza de renunciar, ele certamente será fulminado pelo TSE, nos próximos dias, no julgamento da chapa Dilma-Temer. A dificuldade maior, nestes dias de caos políticos, é tentar encontrar opções de governabilidade para o País.
A opção constitucional está na mesa e talvez seja a mais fácil. Temer sai, assume provisoriamente o presidente da Câmara e escolhe-se um presidente indireto para completar um mandato que vai até dezembro de 2018. Se fosse até dezembro deste ano, não haveria problema. Mas, até dezembro do próximo ano, é muito tempo. Fala-se em um nome que viria do STF, o que talvez seria uma ótima solução para um prazo curto, não para um ano e meio. Do mesmo modo, há quem especule em torno do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Seria uma ótima opção, pois ele poderia surgir como uma espécie de fiador da recuperação econômica. Só que Meirelles presidiu o Banco Original, pertencente aos irmãos Batista, da JBS, durante quatro anos, tendo se desligado do grupo quando assumiu o Ministério da Fazenda. Embora provavelmente não tenha se envolvido nas maracutaias, é um carimbo difícil de ser politicamente administrado, nestes tempos de instabilidade. É possível que numa hora destas talvez até o seu próprio emprego de ministro da Fazenda já esteja ameaçado.
Um nome do Congresso? Difícil. Como tirar alguém do Congresso para colocar no lugar de Temer se todos os partidos estão manchados pela corrupção?
Nesse contexto, talvez uma eleição geral seja a melhor decisão. Zera-se o jogo e começa tudo de novo. Os congressistas precisariam ter grandeza para passar a faca nos seus próprios mandatos. Está claro que a maioria dos congressistas só pensa em grana da pesada. Será que eles teriam grandeza para cortar os atuais mandatos? É difícil, até porque já existe um jogo para manter o atual texto constitucional. Entretanto, a pressão popular pode ser um bom remédio para isso.
Também é possível que o Brasil tenha eleição geral com quatro ex-presidentes jogando buraco na cadeia: Temer, Collor, Dilma e Lula. E um monte de gente que já foi importante olhando: Aécio, Cunha, José Dirceu, Vaccari, etc. Seria oportuno aproveitar a realização da eleição geral para efetuar a tão sonhada reforma partidária, o que eliminaria umas 20 siglas de aluguel das muitas que são artificialmente representadas no Congresso Nacional e que servem apenas a interesses pessoais e não ao País.
Nesse quadro, é possível que o País encontre uma saída honrosa, pois o fato concreto é que ninguém aguenta mais. Quando houve o mensalão, acreditava-se ingenuamente que nada poderia superar aquele escândalo. Apareceu o petrolão. Quando se imaginava que nada poderia superar o lodo de esgoto gerado pela Odebrecht, surgiu agora o caso da JBS, que é mais podre ainda.
Ninguém aguenta mais ficar vendo essa podridão diária na televisão. Os telejornais, aliás, deveriam ser proibidos para menores de 18 anos. Então, o melhor que o Brasil pode fazer é tentar se reinventar como País, principalmente porque existem mais de 14 milhões de desempregados e esses são as principais vítimas do lodo de esgoto que tem sido mostrado pelos meios de comunicação, enquanto a elite dos partidos se apega a filigranas de natureza legal para tentar escapar da Justiça.
A eleição geral pode ser uma boa saída. Não acabará com a corrupção nos partidos, mas fará uma triagem e permitirá que novos nomes sejam indicados pela sociedade para que o Brasil possa seguir em frente na sua difícil caminhada.