PLD equivale ao tsunami
As conseqüências da aplicação de um PLD que, em poucos dias, em pleno período seco, despencou de R$ 471,16 para R$ 93,90 por MW/h são absolutamente devastadoras. Não se trata apenas de fofoca de mercado. Há também muita realidade nessa afirmação categórica.
O mercado livre de energia elétrica vem sendo pacientemente montado desde o início dos anos 2 mil. É verdade que algumas empresas ficaram no meio do caminho, mas o seu volume de perdas, no passado, nem arranha o que está acontecendo nos dias de hoje, até porque o tamanho do mercado, na época, era muito menor.
Ao longo de todos estes anos, as comercializadoras se prepararam adequadamente para operar no mercado. Com exceção de uns poucos aventureiros, pessoas sérias se lançaram nessa empreitada. Constituíram e treinaram equipes, reinvestiram os ganhos, se expandiram e fizeram tudo o que estava previsto no regulamento.
O que se vê hoje, entretanto, é uma espécie de tsunami, que provavelmente vai afastar alguns agentes do mercado, pois os volumes de perdas, em conseqüência da extrema volatilidade do PLD, são gigantescos. Mesmo para empresas de grande porte, o que se fala por aí de prejuízos representa muito dinheiro.
Empresas que estão ativas desde os primeiros momento no mercado livre estariam perdendo um volume extraordinário, de muitos milhões. Até mesmo operadoras de grandes grupos econômicos estariam descendo a ladeira.
Esses acontecimentos são péssimos para o mercado livre, pois coincidem exatamente com o momento em que as operadoras trabalham ativamente, dentro do Congresso Nacional e junto ao MME, para convencer as autoridades que o mercado está totalmente maduro para ser ampliado. É uma espécie de tiro no pé, pois o primeiro argumento que surge é como abrir o mercado se há tantas perdas assim.
Quando foi realizado o último Enase, no Rio de Janeiro, há pouco mais de um mês, era só festa. É verdade que, depois, choveu bastante. Mas o que se pergunta na praça é o seguinte: haveria tanta razão assim para que o PLD caísse violentamente, como aconteceu? Muita gente desconfia que não e atribui a definição desse PLD a alguma alma penada que resolveu fazer uma molecagem com o mercado.
Este site não ousa dizer, como os habituais críticos do PLD, que tem alguém no Governo dando uma ajuda para as grandes geradoras (muitas são estatais), numa espécie de colaboração para que elas possam pagar as contas salgadas do GSF. Seria muita leviandade dizer uma coisa dessas, até mesmo porque o secretário-executivo do MME, Paulo Pedrosa, jurou que o atual governo não interfere na formação dos preços.
Entretanto, que deve ter alguma coisa a se aprimorar no PLD, isto não resta dúvida, principalmente quando se trata dos dados de entrada nos programas computacionais, o que ainda é uma espécie de caixa preta.
O mais lamentável em tudo isso é que existe um grupo constituído por especialistas do mercado e das áreas institucionais que controlam o setor elétrico que exercem uma espécie de ditadura sobre os agentes e consideram o método de calcular o PLD como algo intocável. Virou uma espécie de dogma, que ninguém pode contrariar. Essa gente também ganha dinheiro com esse método arcaico e totalmente ultrapassado de formar preços no setor elétrico.
Os modelos matemáticos são vendidos como se fossem expressão da mais refinada forma de pensar do ser humano, baseada em cálculos matemáticos rigorosos e precisos, mas não realidade não são nada disso. Pura conversa de tecnocrata que não entende nada de mercado. Eles usam essa alquimia apenas para controlar algo que não conhecem direito como funciona (ou deveria funcionar).
Ao contrário, seria muito mais razoável — e infinitamente mais barato — simplesmente deixar que próprios agentes formulem os preços. Alguém chega e diz: vendo por tanto. Alguém chega e diz: compro por tanto. Está resolvido, pois esta é a essência simples dos mercados, que funciona sem problemas em outros países. Mas no Brasil não pode, pois nunca estamos maduros para esse nível de entendimento, como se o Brasil fosse um país atrasado — com todo o respeito — dos cafundós da África.
Contudo, na área de energia elétrica no Brasil isto não pode ser feito, pois contraria os dogmas dos grandes consultores e dos grandes matemáticos, que, aliás, estão encastelados no governo.
Este site reza todos os dias para estar errado e para que as conseqüências do PLD não sejam tão não sejam tão pessimistas assim. Mas podem preparar os espíritos, pois tem muita gente boa do mercado que não conseguirá resistir à crise atual do PLD e ficará no meio do caminho.