Franco, ministro não esconde problemas
Maurício Corrêa, Mata de São João (BA) —
Simpático, bem articulado no discurso e demonstrando domínio dos temas que circulam na Pasta que comanda, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, se esforçou para transmitir otimismo aos agentes do setor elétrico que aguardaram quase duas horas de atraso (ele estava em outro evento, o que acabou atrasando a sua agenda) para ouvir o que o titular do MME tinha a dizer a respeito dos três principais temas que agitam o SEB: privatização do Sistema Eletrobras, novo modelo do setor elétrico e risco hidrológico (GSF).
Ele falou durante 25 minutos para o auditório lotado na abertura do 9º Encontro Anual do Mercado Livre, que se realiza na Mata de São João, nas proximidades de Salvador, em uma promoção do Grupo Canal Energia. Para alguns executivos, o ministro “falou o que era possível falar”, tendo em vista que ele mesmo admitiu que a “a expectativa era viver agora este momento de forma menos turbulenta”.
Entretanto, ele não enganou ninguém. Ao contrário, falou com franqueza. Disse, por exemplo, que os governadores do Nordeste têm resistido à privatização do Sistema Eletrobras e que, devido a essa iniciativa, ele mesmo, como candidato em 2018 (é deputado federal licenciado) poderá sofrer as conseqüências. “Mas vai acontecer”, brincando depois: “O que é mais uma flecha para São Sebastião”? Reconheceu que é “difícil” combater o discurso “mais fácil”.
“Sei que houve uma frustração quando (a privatização da Eletrobras) foi por projeto de lei e não por medida provisória”, admitiu. Entretanto, garantiu que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, está comprometido “com o que é certo”. No mesmo barco, estaria o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira. “Tem muita gente torcendo contra”, disse Coelho Filho, salientando que está “animado” e que não existe um Plano B em relação à Eletrobras.
“O Brasil teima em não morrer e não deixa o novo Brasil nascer”, filosofou, salientando que, politicamente, ele pessoalmente não colhe nada com esse processo, mas que o defende com unhas e dentes por pura convicção.
Quanto à Consulta Pública 33, que trata do novo modelo, Coelho Filho afirmou que os resultados não serão alcançados “do dia para a noite”, mas que, nesta terça-feira, houve uma reunião da sua equipe, em Brasília, para alinhamento de posições. “Precisamos definir o que está indo para o papel”, frisou.
O ministro quer ter a oportunidade de ver a CP 33 votada em março de 2018, quando ele deverá se desincompatibilizar para concorrer a cargo público.
Embora seja um tema de difícil digestão para os agentes, que já imaginavam uma solução para a questão neste período de 2017, o ministro não deixou de falar sobre o GSF.
“Alguns problemas cresceram em velocidade que não esperávamos”, reconheceu. E citou o GSF, que, segundo ele, teria motivado uma espécie de batalha dentro da Casa Civil da Presidência da República. “Muitas pessoas”, como garantiu, estão trabalhando em Brasília, tentando encontrar uma solução para o risco hidrológico, que trava o setor elétrico como um todo.
Depois da palestra, ele esclareceu a este site que na área econômica o que está pegando é a prorrogação dos contratos de concessão, pois haveria impactos no ajuste fiscal. Finalmente, com sinceridade disse: “Não sei se consigo tranqüilizar, mas estamos todos muito empenhados” (em resolver).