Chamem o ladrão
Faltando poucos meses para as eleições gerais, a pergunta que inevitavelmente surge é: para que serve mesmo a classe política? Ganha um doce quem responder que é para cuidar de si mesma.
A pergunta é pertinente. Afinal, dezenas de parlamentares não estão ainda enquadrados na Lei da Ficha Limpa (e portanto proibidos de participar da próxima eleição) ou mesmo já não se encontram cumprindo penas em algum dessas aprazíveis unidades do nosso sistema prisional, pela simples questão que são possuidores de um privilégio da Idade Média chamado “foro privilegiado”, que os deixa na condição de serem seres superiores aos demais. E o STF tem sido exageradamente lento, pois não julga esses casos de corrupção do pessoal de foro privilegiado.
É verdade que nem todo senador e nem todo deputado federal ou estadual é picareta ou corrupto. Existem aqueles — em todos os partidos, por sinal — que representam com seriedade a sociedade que os elegeu e estão verdadeiramente trabalhando em favor do bem comum.
Infelizmente, é uma minoria absoluta. A grande maioria, lamentavelmente, como mostra o noticiário a cada dia, é constituída por parlamentares sem qualquer tipo de escrúpulo, que só olha para o próprio umbigo e está se lixando para o grosso da sociedade. Com um custo, aliás, elevadíssimo.
Os casos chegam a ser grotescos. Uma deputada federal que está virando ministra do Trabalho tem processos na Justiça do Trabalho, porque simplesmente não cumpre as leis setoriais na contratação do seu próprio pessoal. Vários parlamentares obrigam os seus funcionários de gabinete a repassar para Suas Excelências parte dos salários pagos pelo Congresso Nacional. Parece exagero, mas acontece e a cada dia aparece um picareta desse naipe dando o ar da graça.
Bom, na Lava Jato existem várias cobras criadas que farejam ótimas oportunidades de parceria em negócios envolvendo o Poder Público.
O site “Paranoá Energia” está mencionando tudo isso porque é uma indignidade o que a classe política quer fazer com a área de energia, ao cobrar “royalties” de operadoras de energia elétrica pelo uso dos ventos ou da energia do sol. A única justificativa que existe é uma só: esses caras não aprendem. Não adianta. Eles não têm o mínimo interesse em aprender com os exemplos da História. Perderam totalmente as conexões com a realidade.
A sociedade brasileira, há alguns anos, tem dado sucessivas demonstrações que está de saco cheio com esse tipo de classe política, ociosa e onerosa. E que gostaria de ver nas duas Casas do Congresso parlamentares mais verdadeiramente comprometidos com a defesa dos interesses da sociedade.
Ressalte-se mais uma vez que não são todos e que existem as exceções. Mas, em larga escala, a sociedade brasileira sustenta um bando de inconseqüentes, irresponsáveis e picaretas. Aliás, culpa da própria sociedade, que não soube escolher no momento da eleição.
Levou-se algum tempo para que as energias renováveis se tornassem competitivas. Houve um enorme esforço por parte dos fornecedores de equipamentos e investidores, para que a energia gerada pelos ventos ou pelo sol pudesse chegar a preços competitivos até os consumidores. É por isso que esses tipos de geração deram certo e projetos assim se multiplicam no País a cada dia.
Agora, de olho gordo em algum objetivo que ainda não está muito claro, representantes assumidos do baixo clero conduzem propostas dentro do Congresso com o intuito de aumentar a carga tributária das operadoras de energia eólica ou energia solar, através de uma esdrúxula cobrança de “royalties”, da mesma forma como acontece na extração de petróleo ou gás natural.
A então presidente Dilma já havia feito piada quando teria dito que seria possível estocar o vento. Agora aparecem novos piadistas dentro do Congresso Nacional. Desse modo, o fantasma do general De Gaulle vai rir em algum lugar, pois de fato o Brasil não é um país sério.
Como não se pode fazer muita coisa, pois os mandatos parlamentares são invioláveis e este site entende que é preciso observar o espírito democrático, resta torcer para que existam outras Excelências com razoável nível de sensatez, para que bobagens desse tipo não prosperem. Caso contrário, no final, quem pagará o pato será o pobre coitado do consumidor, que, aliás, já paga uma conta salgadíssima de energia elétrica.
Quanto às Suas Excelências que patrocinam medidas idiotas como essa, os eleitores poderiam lhes dar o devido troco na próxima eleição. Talvez Suas Excelências não conheçam, mas recomenda-se que ouçam a música “Acorda Amor”, assinada por um desconhecido Julinho da Adelaide, na época da ditadura, que depois se revelou ser um pseudônimo de Chico Buarque para driblar a censura. É uma boa sugestão para fechar este texto.