Venda da Eletrobras vem com atraso
O Governo, finalmente, decidiu enviar ao Congresso Nacional a proposta de privatização do Sistema Eletrobras. Não houve novidades em relação ao conteúdo, que já havia sido antecipado pelo próprio Governo, aos poucos, ao longo dos meses.
Agora, na realidade, é que começa o verdadeiro jogo em relação à venda da Eletrobras para a iniciativa privada. Até agora, o Governo praticamente jogou sozinho e apenas para a platéia.
Entretanto, a forma como se deu a divulgação da proposta deixou a entender que o Governo de alguma forma teme o debate e não se sente muito confortável em ter que prestar contas a respeito do que pretende fazer com a Eletrobras.
Este site, antes de qualquer coisa, não pode deixar de registrar que apóia a privatização da empresa. Mas também tem que observar que a estratégia do Governo é, no mínimo, esquisita, como se estivesse fazendo algo a respeito do qual se envergonhasse.
Quer dizer que o Governo oficializa a proposta de venda de uma importante estatal, como a Eletrobras, e sequer reúne a imprensa para dizer alguma coisa do tipo: “Senhores, esta é a nossa proposta de privatização da Eletrobras. Pretendemos que seja assim ou assado. Alguma pergunta? Estamos à disposição para prestar os esclarecimentos”.
Não foi feito assim, como deveria naturalmente acontecer em um governo que tivesse algum tipo de apreço pela tal da transparência. Ao contrário: no início da noite de uma sexta-feira foi enviada aos jornalistas, pelo governo, uma mensagem de WhatsAPP, outra de e-mail, com os textos do projeto de lei e da exposição de motivos. Em seguida, ambos foram disponibilizados na página do MME na internet. No site da Eletrobras, colocou-se uma uma notinha de nove linhas, remetendo eventuais interessados para a homepage do ministério. Donald Trump está fazendo escola.
Bom, se o governo tem medo da mera curiosidade profissional de jornalistas a respeito do assunto, o que se poderá dizer a respeito dos congressistas?
A forma como conduziu o processo até agora mostra que o governo está cheio de dedos e absolutamente inseguro em relação ao que vai encontrar pela frente na sua famosa base aliada, conhecida pelo baixo nível de fidelidade e enorme disposição para trair.
Infelizmente, a Eletrobras poderá entrar nessa vala comum, pois ao que tudo indica o governo errou o “timing” em relação à proposta e o seu encaminhamento ao Congresso.
Na visão deste site, é importante transferir à iniciativa privada o controle do Sistema Eletrobras. Em primeiro lugar porque nada justifica que o Estado ainda tenha que ser o controlador de todas essas empresas. Em segundo lugar porque o Tesouro Nacional (ou seja, nós, os contribuintes) não tem mais grana para ficar injetando em empresas ineficientes e pessimamente administradas. E, em terceiro lugar, porque nós, os contribuintes, já estamos cansados de ficar sustentando empresas que são absurdamente manipuladas de acordo com os interesses nem sempre claros de uma classe política corrupta e que só olha para o próprio umbigo. Então, sob vários aspectos, é um bom negócio vender o controle da Eletrobras e ficar livre de um abacaxi, que é a galinha dos ovos de ouro apenas dos senhores políticos.
Empresas como a Eletrobras e a Caixa Econômica Federal tem sido vítimas da classe política há décadas. Estranhamente, só agora descobriram que a Caixa Econômica Federal serve aos interesses dos Geddeis da vida. Durante muito tempo a Eletrobras “pertenceu” ao finado Antônio Carlos Magalhães, depois passou a fazer parte do “patrimônio” político do ex-presidente José Sarney, que mandou e desmandou na empresa, mesmo durante os anos do petismo.
É por isso que, no Congresso Nacional, ninguém pode garantir que um governo fraquíssimo como o do presidente Temer terá condições para aprovar um projeto dessa magnitude. De um governo que vendeu o Ministério do Trabalho ao PTB e que tem medo de peitar o presidente desse partido e que tudo faz para cravar o nome da sua filha, deputada Cristiane Brasil, como titular da Pasta, bem, de um governo assim não se deve esperar muita coisa.
Pode-se imaginar que a proposta de venda do controle da Eletrobras, dentro do Congresso, encontre muita resistência, paradoxalmente formando alianças de cunho ideológico, como dos partidos de esquerda, que naturalmente são contra qualquer privatização, com políticos fisiológicos, que temem perder as tetas onde colocam os seus afilhados para mamar há muitos anos.
Quando a proposta começar a tramitar na Câmara dos Deputados, será interessante acompanhar a movimentação dos parlamentares de Pernambuco e da Bahia (de todos os partidos), que são rigorosamente contra a privatização da Chesf. Ou então dos senhores congressistas de Minas Gerais, que se consideram os verdadeiros donos de Furnas. Ou os do Pará, que não concordam com a transferência do controle acionário da Eletronorte.
Enfim, em ano eleitoral como 2018, a venda do controle societário da Eletrobras certamente vai se transformar em arma de campanha. Não apenas daqueles que desejam se transformar em novos congressistas, como dos atuais, que querem preservar os mandatos.
Este site gostaria de estar escrevendo uma enorme bobagem e de estar totalmente equivocado. Mas infelizmente é obrigado a concluir que, depois do “Tem que manter isto, viu?”, o presidente Michel Temer dificilmente conseguirá aprovar um projeto de lei como este.
O erro no “timing” é justamente este: a proposta tinha que ter sido feita logo após maio de 2016, quando assumiu a atual equipe governamental, que então tinha algum tipo de lastro para essa iniciativa. Não agora, praticamente dois anos depois, quando o governo sequer tem força política para emplacar a deputada Cristiane Brasil, uma legítima representante do baixo clero, no Ministério do Trabalho e a sociedade brasileira está se lixando para o que pensa ou faz o presidente Temer.