Menos, Pepitone, menos
Tem gente no setor elétrico que se sente incomodada com a forma como o diretor André Pepitone conduz a sua “campanha” para suceder Romeu Rufino na função de diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os mandatos de ambos — e também do diretor Tiago Correia — terminarão em 13 de agosto deste ano. Nas regras atuais, Rufino, que já é diretor-geral há dois mandatos, não pode continuar na diretoria.
Da mesma forma, Pepitone, que já tem dois mandatos como diretor, também não pode ficar no colegiado, a não ser que seja designado para ocupar a vaga de diretor-geral, no lugar de Rufino. O diretor Tiago Correia ainda está no final do primeiro mandato e poderá ser reconduzido.
Para algumas pessoas que acompanham o processo sucessório na Aneel, Pepitone estaria exagerando ao politizar demais a questão. Não se discute que ele seja possuidor de condições técnicas para pleitear o cargo máximo dentro da agência. É um funcionário de carreira da Aneel, que conhece tudo sobre o setor elétrico. Portanto, este argumento não está em jogo. Mas acredita-se que Pepitone está carregando excessivamente nas tintas políticas.
Houve quem inclusive tenha lembrado a este site que Pepitone, hoje, não parece ser um diretor que almeja a função de diretor-geral. Estaria mais parecendo um deputado em final de mandato e que deseja ardentemente a reeleição.
Dentro do setor elétrico, há quem se lembre, ainda, de dois diretores-gerais da Aneel que, da mesma forma como Pepitone, possuíam amplo conhecimento técnico, mas, que, no entanto, eram ridicularizados, nos bastidores, pelo modo como se comportavam frente ao poder político.
Nenhum dos dois, por possuir mandato garantidor da gestão, precisava se curvar aos políticos, mas o fizeram em larga escala. Um não podia sequer ouvir algum deputado do baixo clero falar qualquer coisa a respeito da Aneel, por mínimo que fosse. Largava o que estivesse fazendo para atender Sua Excelência, mesmo que fosse apenas um ilustre representante de Brejo Seco, nos cafundós do Brasil, sem qualquer expressão política e partidária. Tudo muito extremamente provinciano.
O outro se perdeu no relacionamento com o mundo político, ao transformar a agência reguladora do setor elétrico em um mero apêndice do Ministério de Minas e Energia. Fez um mal enorme ao setor elétrico como um todo, não apenas à agência, pois confundiu tudo e achou que um partido político eventualmente no Poder, com a sua ideologia, podia dar as cartas na área regulatória da forma como melhor entendia. Meteu os pés pelas mãos, em nome de uma ideologia, e quebrou a cara. Não era bem assim que funcionava (e funciona) o mundo da Aneel.
Está claro que o diretor André Pepitone tem todo o direito de fazer a sua “campanha” do jeito que achar melhor. Não pode esquecer, entretanto, que não é um deputado federal em campanha para reeleição. O que ele não pode fazer, evidentemente, é assumir demasiados compromissos com o mundo político, que possam, no futuro, prejudicar o trabalho da Aneel, caso lá na frente ele seja abençoado como novo diretor-geral da agência. Afinal, a Casa é técnica e não política.
Aliás, por infeliz coincidência, o preenchimento de cargos na diretoria da Aneel ocorre junto com a campanha para as eleições de 2018.
A agência tem cinco diretores. O mandato de José Jurhosa terminou em 29 de outubro e, por enquanto, está desocupado. Rodrigo Limp, um assessor do Congresso, foi indicado para sucedê-lo, mas ainda não foi sabatinado pela Comissão de Infraestrutura do Senado Federal e nem aprovado pelo plenário da Casa.
O diretor Reive Barros terminou o mandato em 14 de janeiro e, da mesma forma, a sua cadeira na diretoria continua vazia. A Aneel, como se vê, está funcionando com uma diretoria com quórum mínimo de apenas três diretores, cujos mandatos acabam em 13 de agosto. Pode-se imaginar o que esteja ocorrendo, dentro da agência e no campo político, visando ao preenchimento de todas essas vagas. O toma-lá-dá-cá que se opera na superestrutura político-partidária deve estar comendo solto.
O Governo Temer já deu inúmeras demonstrações que não tem qualquer apreço pelas boas práticas que regem a humanidade. E, a troco de qualquer votinho dentro do Congresso, faz o diabo. O lamentável episódio envolvendo a deputada Cristiane Brasil, que já se arrasta há mais de um mês, que o diga.
Ainda assim, mesmo sabendo como as coisas funcionam na chamada Era Temer, este site espera que algum ser superior tenha piedade dos brasileiros e viabilize indicações para a Aneel, que não permitam que a valorosa classe política meta as patas na agência.