Batata assa para o lado de Paulo Pedrosa
Firme nas suas convicções ideológicas, liberal assumido, carismático, articulado politicamente e, sobretudo, competente e grande conhecedor do setor elétrico, Pedrosa é considerado por muita gente influente do mercado como o próximo ministro de Minas e Energia, depois que o titular atual, Fernando Bezerra Coelho Filho, renunciar para tentar um cargo eletivo.
Nas últimas semanas, entretanto, os insatisfeitos com o trabalho de Paulo Pedrosa passaram a atuar com mais desembaraço. Na raiz dessa mudança, está a proposta do Governo que altera o modelo do setor elétrico brasileiro e amplia consideravelmente o espaço do mercado livre. A privatização do Sistema Eletrobras também faz parte desta história.
Antes de se mudar de mala e cuia para o MME, Pedrosa era um executivo bem-sucedido do setor elétrico, tendo ocupado as presidências de duas associações empresariais que seriam as mais beneficiadas, agora, com o novo modelo: a Abraceel, que reúne os comercializadores, e a Abrace, a organização dos grandes consumidores industriais.
Nesse contexto, é natural que o novo modelo agite os segmentos que se consideram prejudicados com o encaminhamento da proposta e consequentemente aflorem críticas ao papel desempenhado por Pedrosa no processo.
Isso é algo que provavelmente deva preocupar o secretário-executivo. Não existem acusações contra ele, mas o fato concreto é que Pedrosa perdeu grande parte do glamour que o mercado nutria pela sua pessoa. Um dirigente de associação lembrou a este site que “se virar ministro, de fato, ele vai sofrer um pouco, pois tem muita gente que não ficou satisfeita com a forma como ele conduziu a questão do novo modelo”.
Por enquanto, são apenas intrigas naturais de um mercado que envolve muito dinheiro. Os executivos já estão fazendo as contas a respeito de quanto suas empresas vão perder ou vão ganhar e, nesse quadro, realmente tem gente insatisfeita.
De qualquer forma, a insatisfação com Pedrosa já ultrapassou a questão do novo modelo e estranhamente parece que vai se repetir um fenômeno ocorrido durante o Governo FHC, quando um partido de direita, o antigo PFL (hoje o Democratas) se aliou a um partido de esquerda, o PT, para implodir a privatização do setor elétrico. É por isso que, das grandes geradoras federais daquela época, apenas a antiga Eletrosul foi transferida à iniciativa privada. Se o problema se repetir a motivação será rigorosamente a mesma: privatização do Sistema Eletrobras.
O que se observa é que no amplo espectro político-partidário, há parlamentares de siglas ideológicas antagônicas que reúnem informações sobre Pedrosa, já que poderão se entender com ele na condição de futuro ministro. Querem saber com quem vão conversar.
Ninguém acusa o secretário de beneficiar esta ou aquela empresa, este ou aquele segmento, mas há pessoas que gostariam que ele esclarecesse melhor o seu papel como definidor de políticas no âmbito do MME, depois de ter sido, durante 10 anos (cinco anos em cada), o principal executivo tanto da Abrace quanto da Abraceel.
Como se não fossem suficientes dúvidas sobre o novo modelo, se vai ou não se ampliar o mercado, ainda existem aqueles que gostariam de entender um pouco mais a sua atividade como conselheiro de um grupo de investidores, ao mesmo tempo em que exercia as presidências da Abrace e da Abraceel. Essa informação sempre foi pública e ele nunca a negou.
Esse grupo há muito tempo participa de leilões de privatização e todo o mercado diz que tem interesse claro na compra de outros ativos do Sistema Eletrobras. Um assessor parlamentar disse a este editor que Pedrosa, na antiga condição de conselheiro empresarial, deve ter participado de inúmeras reuniões em que se tratou da privatização do Sistema Eletrobras.
“Ninguém está dizendo que ele fez alguma coisa errada, mas aparentemente houve um conflito de interesses, do qual ele não soube se desvencilhar. É lógico que ele não poderia ter tratado de privatização da Eletrobras no MME, tendo se ocupado disso dias antes de ir para o Governo. Esse tipo de coisa é que talvez seria interessante esclarecer para os congressistas”, alegou a mesma fonte.
Nesta quarta-feira, o site Paranoá Energia tentou conversar com Pedrosa, no MME, mas ele já não estava no prédio naquele horário. Também não atendeu à ligação feita para o seu celular, onde foi deixada uma mensagem solicitando retorno.
O fato é que, há muitos anos, Pedrosa tem excelente relacionamento com senadores e deputados, de vários partidos. Ele desempenhou outras atividades profissionais que o levaram a conversar bastante com congressistas.
Tendo sido um tucano de carteirinha, ocupou no partido, durante o primeiro governo FHC, a estratégica função de secretário-executivo nacional do PSDB. Eventualmente, falava diretamente com o presidente da República. Indicado por FHC, foi durante quatro anos diretor (excelente, por sinal) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ao fim de um mandato único de quatro anos (já era então o Governo do PT), migrou para a Abraceel e depois para a Abrace.
Sempre foi coerente com a sua visão liberal na economia. Mas, agora, seus críticos desenterraram uma história ocorrida em 2015, quando estava na Abrace. Era sua obrigação profissional e ele trabalhou intensamente para que o Governo renovasse uns contratos de suprimento de energia a preços subsidiados, através da Chesf, para consumidores industriais que possuem plantas na região Nordeste. Essa prorrogação de contratos foi legal, mas, na visão de muita gente, também foi imoral.
“Ele fica agora falando em fim de subsídios, em economia liberal, em eficiência de empresas estatais, etc. Tudo bem. Cada um tem a sua visão. Mas em 2015 gostou imensamente quando o Governo disse que ia dar uma energiazinha subsidiada para a turma da Abrace até 2037. Não consta que tenha reclamado. Só não tem muita autoridade para reclamar de algum tipo de subsídio ou de ineficiência de estatais, agora que se prepara para ser o novo ministro”, reclamou uma fonte da área empresarial.