O ministro Zé das Couves
Um dirigente do setor elétrico explicou para este site, nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, porque as associações empresariais entendem que o melhor nome para suceder o atual ministro de Minas e Energia é o do secretário-executivo Paulo Pedrosa.
De acordo com esse especialista, que é reconhecido pela ponderação, não se trata de fulanizar a sucessão do ministro Fernando Coelho Filho. “Não é apenas uma questão de preferência por um nome”, argumentou, esclarecendo que Pedrosa tem uma bagagem técnica, hoje, que poucos executivos têm.
Na avaliação desse dirigente, Pedrosa tornou-se uma espécie de garantia que os temas pendentes do setor elétrico serão tocados para a frente nos próximos meses, de modo que, quando se chegar ao final do governo do presidente Temer, a área de energia como um todo — e não apenas o setor elétrico — terá as suas questões institucionais básicas resolvidas.
“O Brasil precisa ter continuidade administrativa”, disse o dirigente, citando exemplos. Na Pasta da Educação, Paulo Renato Souza foi ministro entre 1º de janeiro de 1995 a 1º de janeiro de 2003. Na gestão seguinte, do PT, Fernando Haddad teve um período igualmente longo: de 29 de julho de 2005 a 1º de janeiro de 2011. “Mesmo com visões ideológicas diferentes, com certeza quem ganhou foi o ensino brasileiro”, alegou o especialista. “Durante 14 anos, milagrosamente houve apenas dois ministros da Educação no Brasil”, frisou.
No campo econômico, existem outros exemplos notáveis de continuidade administrativa. Mário Henrique Simonsen comandou a Pasta da Fazenda durante a gestão do presidente Ernesto Geisel, ou seja, de 16 de março de 1974 a 15 de março de 1979. Mais recentemente, durante o Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Pedro Malan tocou a Fazenda durante dois mandatos, de 1º de janeiro de 1995 a 1º de janeiro de 2003.
Nada se iguala, entretanto, ao ministro da Fazenda Artur de Sousa Costa, que comandou a Pasta da Fazenda de 24 de julho de 1934 a 29 de outubro de 1945. Ou seja, durante quase todo o período em que Getúlio Vargas mandou no País, iniciando a sua gestão antes mesmo da edição do período ditatorial do Estado Novo. Foram 11 anos à frente da Pasta, embora a maior parte durante a ditadura do Estado Novo.
A tese da continuidade é razoável e pode ser aplicada tanto em regimes democráticos quanto ditatoriais. Tudo depende exclusivamente das variáveis políticas e das condições de apoio do ungido pelo Poder.
O MME, ao longo do tempo, tem sido exatamente o oposto. Embora seja uma Pasta importantíssima por todo o seu significado em relação à infraestrutura nacional, nunca se deu muita bola para ela. Desrespeito total da parte de alguns presidentes da República. Tem sido uma espécie de patinho feio e por ela tem passado verdadeiras antas, que nada entendem do setor. Uma dessas antas inclusive virou até presidente da República, o que é uma barbaridade, mas foi o que as urnas quiseram e paciência.
Basta ver os quadros de fotografias dos ex-ministros do MME que existem no 8º andar do MME e que podem ser acessados através da internet. É um horror. Raros são os competentes.
O setor empresarial (ou pelo menos grande parte dele) tem razão quando briga pela indicação de Pedrosa. Mas o nome que vai suceder o ministro Coelho Filho vai depender de muitas variáveis, uma das quais é a própria dificuldade que o presidente Michel Temer tem para indicar seus principais assessores.
Vide o nome da deputada Cristiane Brasil. Saiu a deputada e entrou um cara no Ministério do Trabalho que ninguém conhece, mas que sabe-se está sendo processado por um gato no fornecimento de energia elétrica. Como se diz na roça, cruz credo. O presidente Temer poderia fazer um cursinho para aprender a indicar alguns ministros e errar menos.
Embora qualificado, Pedrosa pode ser vítima dessa incompetência. O ministro Coelho Filho não entendia nada de energia elétrica, mas foi um ministro de bom senso, delegou a parte técnica para Pedrosa e acabou sendo um ministro prá lá de razoável. Ele provavelmente está trabalhando em favor do nome do seu atual secretário-executivo, mas não é ele que dará a palavra final.
Enquanto isso não acontece, é bom pegar o terço e rezar pois sabe-se lá o nome que será encaminhado ao “Diário Oficial”. Não seria de estranhar, se graças às conveniências da política que se pratica no Palácio do Planalto, o novo ministro for um tal de “Zé das Couves”, ou seja, um nome bastante qualificado, dentro das circunstâncias atuais, para virar ministro.