Eletrobras pode ser desastre à vista no CN
Maurício Corrêa, de Brasília —
Não adianta dourar a pílula e dizer que houve apenas uma falha momentânea das lideranças que apóiam o Governo, na sessão de instalação da comissão que apreciará a proposta de privatização da Eletrobras, como alegou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.
A situação altamente constrangedora passada pelo Governo, nesta terça-feira, 13 de março, durante a sessão para indicar o presidente da comissão do Sistema Eletrobras, mostrou que o sofrimento dos líderes governistas deverá continuar até o fim do período do presidente Michel Temer.
Na avaliação do cientista político Leandro Gabiati, da empresa de consultoria Dominium, que acompanha temas relacionados com a área de energia dentro do Congresso Nacional, “assim deverá ser a vida do Governo, dentro das duas Casas do Congresso, até dezembro, quando termina o mandato do presidente Temer. Uma verdadeira agonia a cada votação, a cada sessão de comissão”.
De fato, houve uma forte resistência de deputados da Oposição na hora de indicar o presidente da comissão, que acabou sendo Hugo Motta, MDB da Paraíba. Os capitais chineses, que têm sido muito bem recebidos no Brasil nos últimos anos, inclusive na gestão petista, de repente viraram inimigos públicos. O deputado petista Henrique Fontana, do Rio Grande do Sul, deu um chilique na comissão e só agora descobriu, com ligeiro atraso, que a gigante chinesa State Grid domina boa parte do setor elétrico brasileiro.
Os chineses, obviamente, representam apenas um bode expiatório no momento. Politicamente, a questão é mais profunda, pois faltam poucos meses para as eleições e dificilmente haverá congressistas, na base aliada, dispostos a correr o risco de não se reeleger, com um eventual apoio ao projeto de privatização do Sistema Eletrobras.
Vale lembrar que as bancadas dos estados de Minas Gerais, do Nordeste e do Norte trabalham intensamente contra a proposta da privatização da Eletrobras e não estão brincando em serviço. Os mineiros não abrem mão de Furnas estatal, os nordestinos querem continuar tendo uma Chesf controlada pelo Governo e os congressistas do Norte consideram fundamental que não se mexa no controle acionário da Eletronorte.
O que está por trás de tanto nacionalismo e tanto amor por grandes empresas estatais é mais do que óbvio: a garantia de manipulação política dessas estatais em favor de deputados e senadores e que o contribuinte — que acaba pagando a conta pelos desmandos administrativos — que se dane. Enfim, se a privatização da Eletrobras sair dentro do Governo Temer merece uma missa em ação de graças, pois será muita sorte e verdadeiro milagre.
O Governo errou feio, mas não foi apenas no trabalho das suas lideranças dentro de uma simples comissão. O erro principal foi no “timing”, de deixar a privatização do Sistema Eletrobras para o apagar das luzes do Governo Temer. É um Governo desmoralizado, que tem alguns poucos ministros competentes e sabem fazer o dever de casa, mas, em compensação, tem muito ministro incompetente perdido na Esplanada dos Ministérios. Isso, sem contar as inúmeras denúncias de corrupção envolvendo inclusive a figura do próprio presidente da República.
De um governo que nomeia um garoto de 19 anos, cuja única experiência na vida tinha sido vendedor de óculos, para ser o gestor de contas a pagar de um ministério, processando milhões de reais, bem, de um governo assim não se deve mesmo esperar muita coisa.
Nessa quadro, não se aprova nada de interessante dentro do Congresso. A reforma da Previdência já era, a privatização da Eletrobras corre o grande risco de ir pelo mesmo caminho e a proposta do novo modelo do SEB está engavetada no Palácio do Planalto.