Saída de Parente é retrocesso
Ninguém é insubstituível em qualquer situação, seja em governos, empresas, ONG´s ou grupos de escoteiros. Mesmo assim, embora não exista uma escala de valores, não há dúvidas que Pedro Parente tem sido, ao longo de sua carreira, um dos servidores públicos mais qualificados que o Brasil já produziu em todos os tempos. Poucos especialistas conhecem a administração pública e privada do Brasil como Parente. Dedicado, criativo, correto, a sua saída da presidência da Petrobras pode ser resumida em poucas palavras: é uma grande perda para o País.
Há exatos dois anos, quando começou a sua gestão à frente da Petrobras, a estatal estava arrebentada pela ineficiência e pela corrupção. Ele recebeu um mandato para recuperar a empresa e a garantia presidencial que teria autonomia e que não haveria interferência na política de preços. O balanço divulgado pela estatal contendo os números do primeiro trimestre mostra com clareza que a empresa, com um lucro líquido de quase R$ 7 bilhões no período, havia superado a má fase. Com novas regras de governança, o caminho da roubalheira ficou mais difícil de ser trilhado.
Quem conhece Pedro Parente já sabia que os seus dias estavam contados no comando da Petrobras desde o momento em que o Governo começou a trabalhar contra a rigidez na política de preços. Aliás, nessa questão da greve dos caminhoneiros, foi surpreendente a forma como o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, mergulhou e se ausentou da crise. Em Brasília, garante-se que ele bateu palmas para a saída de Parente.
Aliás, não se pode fulanizar a crise em torno de Parente ou Moreira Franco. Talvez fosse mais preciso colocar o foco no Palácio do Planalto. Afinal, quando o atual Governo iniciou as suas atividades, há dois anos, havia um fio de esperança em torno de que alguma coisa positiva poderia ocorrer na área de infra-estrutura depois da longa gestão petista.
Em pouco tempo, contudo, ficou claro que uma folgada maioria do MDB tem outro estilo e aprecia bastante a demagogia. Por isso, ao longo do tempo deixaram o Governo Maria Silvia Bastos Marques (foi presidente do BNDES), Paulo Pedrosa (foi secretário-executivo do MME e seria o candidato natural a titular da Pasta), Luiz Barroso (foi presidente da EPE) e agora Pedro Parente. Aparentemente, o presidente Michel Temer é uma espécie de Rei Midas ao contrário, pois tem o dom de perder quadros qualificados no seu polêmico Governo. De acordo com o andar da carruagem, é provável que daqui a pouco o ministro Eduardo Guardia pegue o boné e rape fora lá da Fazenda. É um técnico de qualidade, mas também não é de engolir sapos cururus preparados pelos cozinheiros do MDB.
Ainda vai passar muita água debaixo da ponte e, há poucas horas da demissão de Parente, ainda é prematuro dizer o que vai acontecer na estatal e na política de preços dos combustíveis. Nem se sabe ainda quem vai sucedê-l0 na presidência da Petrobras.
Ao longo da vida profissional, em Brasília, este editor aprendeu a admirar e a respeitar Pedro Parente. Ocupou várias funções relevantes na administração federal. Foi um notável ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República e, nessa condição, cumpriu de modo extremamente competente a missão de coordenar a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, mecanismo criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para tentar resolver os problemas que a sua própria (e ineficiente) gestão no MME causou, levando o País ao racionamento de 2001/2002. FHC deve ter levantado as mãos para o Céu ao ter Parente ao seu lado no Palácio do Planalto, resolvendo os problemas, costurando as soluções e deletando as lambanças feitas por outros integrantes do Governo FHC.
A sua saída da Petrobras também serve para levantar um debate sobre a estatal. O País precisa definir, com urgência, o que deseja da Petrobras. Quer que ela atue “socialmente” e se transforme numa espécie de PDVSA da Venezuela? Esta era a fórmula desenhada pelo PT, que quase faliu a Petrobras.
Quer que a Petrobras seja uma espécie de lar de amparo aos necessitados, administrando preços socialmente e transferindo prejuízos para a sociedade via Tesouro? Ou quer que a Petrobras seja uma empresa ativa, que remunere os seus acionistas (inclusive a União), praticando uma política eficiente e moderna?
A sociedade precisa dizer o que quer da Petrobras. Como na gestão do PT já vimos o filme que foi a quase falência da Petrobras (nem se fala aqui da transformação da estatal numa máquina de corrupção que beneficiou vários partidos políticos, principalmente o PT), talvez se poderia arriscar um pouco mais nesse debate e perguntar por que não se privatiza a Petrobras?
Diante da impossibilidade de ter no Brasil estatais que sejam imunes às pressões do Palácio do Planalto, a solução talvez seja transferir o controle acionário da Petrobras à iniciativa privada. É menos espaço para que a classe política possa fazer as suas manobras.
A saída de Parente deixa todas essas perguntas no ar. Sabe-se há muito tempo que o presidente Temer e o ministro Moreira Franco definitivamente não estão à altura do que fazem. Mas estamos a quatro meses de uma eleição presidencial e, portanto, este é o momento adequado para se colocar as cartas na mesa. O que vamos fazer com a Petrobras? Que futuro queremos para a estatal mais importante do País?