Gigantes projetam rede de hidrogênio no Japão
Da Redação, de Brasília (Com apoio da Whec) —
Toyota, Nissan e Honda, os três grandes fabricantes de automóveis do Japão, se juntaram numa parceria para acelerar, nos próximos dois anos, a construção de 80 postos de abastecimento de hidrogênio. Este foi um dos exemplos com que Edson Orikassa, gerente da Toyota Brasil e presidente da Associação Brasileira de Energia Automotiva, ilustrou sua palestra na sobre a sociedade baseada no hidrogênio na WHEC 2018, que se encerrou nesta quinta-feira, 21 de junho.
— Para adotar o hidrogênio como combustível alternativo, é preciso ter uma infraestrutura, uma rede de distribuição própria. Países mais desenvolvidos, como Japão EUA e alguns da Europa, já estão construindo esta infraestrutura própria.
O Japão está na frente. Estipulou como meta 800 mil veículos e 900 postos de hidrogênio até 2030. Os “três grandes”, como são conhecidos Toyota, Nissan e Honda, formaram, com outras 11 companhias, a Japan H2 Mobility, que elaborou um plano de dez anos para montar esta infraestrutura. Postos espalhados por todo o Japão vão ajudar a disseminar a energia do hidrogênio entre o consumidor e baratear o preço dos carros movidos a pilhas de combustíveis.
O Mirai, que significa “futuro”, em japonês, da Toyota, é um exemplo desta corrida pela energia limpa. Lançado no Japão em dezembro de 2014, foi o primeiro carro movido a hidrogênio e células de combustível a chegar às concessionárias. Com 6 mil exemplares, o Mirai é o mais vendido entre os modelos a hidrogênio e tem autonomia de 650km. Leva aproximadamente 3 minutos para ser abastecido enquanto com o carro elétrico a média é de oito horas.
A meta da Toyota é chegar a 30 mil unidades anuais até 2020, dez vezes mais do que as 3 mil produzidas ano passado. Quanto mais vendido, mais barato fica, afirmou o gerente da Toyota Brasil.
— Desde que começou a ser desenvolvido, em 1992, o tamanho e o custo do carro foram reduzidos significativamente, enquanto suas características e benefícios aumentaram. Os esforços para a redução de custos vão continuar — afirmou Orikassa.
A Toyota vende o Mirai, movido a pilhas de combustível no Japão, nos EUA e em nove países europeus. Para isso, planeja montar uma fábrica de produção de pilhas de combustível na Toyota City.
Os veículos movidos a hidrogênio não se restringem apenas a automóveis. O plano da Toyota é introduzir 100 ônibus, com tecnologia semelhante à do Mirai, durante a Paraolimpíada de Tóquio, em 2020. No mesmo ano, a expectativa é de haverá 180 empilhadeiras.
É importante disseminar tecnologia e conhecimento. Para isso, segundo Orikassa, a Toyota abrirá cerca de 5.680 patentes relacionadas à energia do hidrogênio.
— Em 2030, o Japão terá sua energia totalmente sustentável e, 20 anos depois, movida a hidrogênio e livre do CO2– acrescentou.
Alemanha avança em financiamento
O ceticismo em relação à operação de trens a Hidrogênio passeava entre os cientistas até pouco tempo. No entanto, esta já é uma realidade na Alemanha desde o ano passado. Em palestra durante a Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio (WHEC 2018), o alemão Klaus Bonhoff, da NOW GmbH – uma organização governamental que coordena o programa de tecnologia do Hidrogênio – falou sobre o primeiro trem do mundo movido a esse gás.
Em parceria com o grupo industrial francês Alstom, a Alemanha começou a operar esse veículo sem ruído e sem emissão de poluentes em dezembro de 2017. O trem pode atingir 140 km/h e transportar 300 passageiros. Segundo Bonhoff, o país prevê a circulação de 160 trens a Hidrogênio até 2019.
Bonhoff aponta as vantagens das pilhas de combustível a Hidrogênio em comparação com o diesel e as baterias. Ele reforça que, devido à maior disponibilidade do gás, seu baixo nível de ruído, sua durabilidade e a emissão zero de poluentes, “não há como pensar no futuro sem Hidrogênio”. E, para Bonhoff, a eletrólise da água é a tecnologia chave do futuro. Ele afirma que, devido à versatilidade desse modo de obtenção do Hidrogênio, o gás poderá ser produzido aos tão sonhados preços competitivos.
Por isso, nos últimos dez anos, o país vem investindo 710 milhões de euros em produtos e infraestrutura do Hidrogênio. A Alemanha conta hoje com 50 estações de abastecimento de Hidrogênio – ainda um dos maiores desafios pelo mundo quando se trata desse combustível – e, segundo Bonhoff, as previsões apontam para 1000 estações até 2030. Outras iniciativas citadas pelo alemão foram os serviços de entrega com vans sem emissão de CO2 e a previsão do uso de Hidrogênio em aviões de curta distância.
A Alemanha, contudo, vai continuar investindo pesado na compra de produtos de tecnologia do Hidrogênio. Segundo Bonhoff, pelos próximos 10 anos, o gás receberá financiamento de 2 bilhões de euros da indústria e 1,4 bi do governo federal.
Canadá defende redução dos custos
O mundo vem compreendendo aos poucos que o Hidrogênio é a energia do futuro, pois, além de não emitir poluentes, é um elemento abundante no planeta. No entanto, a tecnologia para concretizar o uso desse gás como combustível para mobilidade, aquecimento e energia ainda custa muito caro. Durante a WHEC 2018, Daryl Wilson, CEO da Hydrogenics – uma fornecedora global de soluções de Hidrogênio, sediada no Canadá, defendeu fervorosamente uma agressiva redução dos custos na infraestrutura desse gás.
Para o canadense, as grandes empresas precisam acelerar a adoção de medidas concretas rumo à viabilização da tecnologia do Hidrogênio. Daryl afirma que somente seguindo esse caminho é que a melhor alternativa de energia renovável será entregue à população a custo praticável. Com o potencial incrível do Hidrogênio, ao menos 50 milhões de usuários no mundo deveriam ter sido alcançados ao longo dos últimos 40 anos. “Mas o resultado pretendido ainda não foi alcançado por uma série de fatores, entre as quais, a magnitude do custo de produção”, explicou.
Wilson mostrou como o Canadá começou timidamente a descarbonização energética no país, com destaque para a substituição do diesel em veículos pesados, e aponta transição energética brasileira como exemplo de que é possível adotar, em larga escala, energias de fontes renováveis. “O Brasil foi bem sucedido na adaptação de veículos ao uso do etanol – uma energia de fonte renovável. Mas 40 anos é muito tempo diante da emergência mundial de diminuição do impacto ambiental”, afirmou o CEO.
Segundo Daryl, mundo precisa se engajar rumo ao colapso gradual do paradigma dos combustíveis fósseis e à aplicação de atividades do Hidrogênio em larga escala. “O Hidrogênio pode fazer a diferença, mas cabe a nós agirmos e nos comportarmos de maneira diferente do passado”, concluiu.
Mesa-redonda debate transporte e implantação de veículos movidos a pilhas de combustível
Iniciativas e políticas para o transporte do hidrogênio, assim como as abordagens para facilitar a implantação de veículos movidos a pilhas de combustível foram temas da mesa-redonda que reuniu nesta quinta-feira debatedores especializados do setor em Brasil, EUA, Alemanha, China e Suíça.
O debate ocorreu na Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio (WHEC 2018) e foi moderado por Tim Karlsson, do IPHE, e Romulo Orrico, da Coppe/UFRJ. Contou com a participação de Sunita Satyapal, diretora do Setor de Hidrogênio do Departamento de Energia dos EUA; Chang Wei, presidente do Instituto Nacional de Energia Limpa, da China; Klaus Bonhoff, diretor da Organização Now GmbH, da Alemanha; Cory Shumaker, do Conselho de Negócios de Hidrogênio da Califórnia; e David Hart, da E4Tech, da Suíça.
O papel do governo como comprador também foi discutido, assim como as abordagens políticas e seus impactos. Sunita Satyapal elogiou o panorama sobre a China, traçado por Chang Wei:
— Estamos diante do principal produtor de carvão e também do principal produtor de energias renováveis. Isso é muito importante — disse ela.
O coordenador do Laboratório de Hidrogênio (LabH2) da COPPE/UFRJ e presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio, Paulo Emílio de Miranda, deu o exemplo do Brasil e quis saber dos participantes, por que é tão difícil implantar ônibus a hidrogênio, na sociedade.
— Eu estou certo de que se você tem a infraestrutura adequada, você consegue pôr estes veículos em circulação — respondeu Chang Wei.
Com 800 inscritos de 51 países, a Conferência Mundial de Energia do Hidrogênio (WHEC 2018) reuniu, durante quatro dias, 379 oradores, que debateram o que há de mais avançado em pesquisas sobre o assunto e os caminhos para uma transição energética sustentável. Segundo o coordenador do Laboratório de Hidrogênio (LabH2) da Coppe/UFRJ e presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio, Paulo Emílio de Miranda, todas as expectativas foram superadas.
— Destaco a relevância das personalidades reunidas aqui, profissionais que são referência em suas áreas de atuação. Foi um evento de alto nível tanto do ponto de vista da organização como do conteúdo — avaliou.
Realizada pela primeira realizada no Rio, a conferência as apresentou as pesquisas mais avançadas sobre a transformação de biomassas em hidrogênio. Estudos e técnicas para a geração, armazenamento, distribuição e infraestrutura de hidrogênio foram abordados em 21 plenárias, além de workshops e mesas-redondas.
Participaram também da cerimônia de encerramento, o presidente do CNPq, Mário Neto; e o presidente de Furnas, Ricardo Medeiros. Jens Oluf Jensen e Soren Kaer, representantes da WHEC 2020, que se realizará na Dinamarca; e Nishimiga Nobuyki, da Convenção Mundial de Tecnologias do Hidrogênio (WHTC), que será em 2019, em Tóquio, expuseram o planejamento para as duas conferências.
Mário Neto anunciou parcerias entre o CNPq e a Comissão Europeia. O presidente de Furnas, Ricardo Medeiros, por sua vez, destacou o trabalho conjunto com a Coppe no desenvolvimento de ônibus híbridos movidos a eletricidade, etanol e hidrogênio, e barcaças para transporte de passageiros e veículos também a hidrogênio.
— Investimos quase 1% da nossa receita líquida anual em projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológicos, voltados para desenvolver, testar e constatar a viabilidade operacional e econômica da expansão de energias renováveis no Brasil — afirmou.