Um perigo ronda o PL 1917
Aquilo que já se imaginava como hipótese, até uns dias atrás, aparentemente vai se concretizar. Uma fonte ultra-bem-informada do setor elétrico disse a este site que o deputado federal Fábio Garcia (DEM-MT) praticamente desistiu de uma candidatura à reeleição e deverá optar por por ser candidato a suplente de senador. No acordo com os políticos locais, caberia a ele assumir uma cadeira de secretário de Estado, o que, no momento, seria mais compatível com o seu projeto político de longo prazo. É um direito do deputado.
E o que isso tem a ver com o setor elétrico? Absolutamente tudo. Desde que o antigo senador Delcídio Amaral mergulhou no seu mundo de trevas políticas e deixou de ser o principal interlocutor do setor elétrico no Congresso Nacional, em consequência dos escândalos da Lava Jato, Garcia assumiu imediatamente a função. Jovem, dinâmico, profissionalmente egresso do setor elétrico, antenado com um modelo mais moderno para a área de energia como um todo, foi fácil para Fábio Garcia assumir a bandeira e seguir em frente.
Essa transição foi relativamente fácil, considerando não apenas o conhecimento e a experiência do parlamentar, mas, também, a sua ligação política muito próxima com o então ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho. Em pouquíssimo tempo, Garcia ocupou totalmente o espaço que era de Delcídio e passou a ser o interlocutor mais procurado por todas as associações empresariais e lobistas do setor elétrico.
Tornou-se o relator do PL 1917, que moderniza as relações comerciais do SEB, inclusive incorporando muitas das premissas que tinham sido estipuladas através da Consulta Pública 33 do MME e que estavam engavetadas na Casa Civil da Presidência da República.
Por uma série de situações típicas do mundo político, o PL 1917 ainda não foi votado e provavelmente nem o será no atual exercício parlamentar, considerando que os congressistas estão ausentes de Brasília e envolvidos de corpo e alma nas campanhas para reeleição em seus respectivos estados. Nesse contexto, acende-se uma luz amarela para aqueles que apostaram todas as fichas em Fábio Garcia, principalmente os comercializadores. Afinal, a principal medida que poderá surgir do PL 1917 é uma expressiva ampliação do mercado livre de energia elétrica no Brasil.
Mas há outras interpretações mais otimistas, mesmo considerando que Fábio Garcia não possa retornar à Câmara dos Deputados em 2019. O ex-ministro Fernando Bezerra Coelho desligou-se do MME exatamente para poder concorrer a uma cadeira pelo estado de Pernambuco. A sua eleição é considerada líquida e certa, considerando a liderança do clã dos Coelhos em Pernambuco, principalmente na região de Petrolina. Assim, uma quase certa reeleição de Fernando Bezerra Coelho também resolveria os problemas para o setor elétrico, pois o ex-ministro é uma espécie de “pai” do PL 1917 e, assim, ele assumiria com facilidade o papel de defensor da proposta, o que era feito por seu amigo Fábio Garcia.