A diversidade energética brasileira
Fernando Luiz Zancan (*)
Em termos de produção, o Brasil é um país muito rico em recursos energéticos renováveis, fósseis e nucleares; há quase uma infinidade deles. Cada fonte tem suas características, seus impactos ambientais, seus impactos sociais e econômicos. O segredo é otimizar o seu uso pois o conceito de sustentabilidade requer pensar na questão econômica associando-a ao social e ao ambiental.
Por outro lado, o Brasil é um pais pobre energeticamente, visto que tem um consumo per capita de eletricidade equivalente à metade de Portugal e um quarto da Alemanha. Sim, as fontes renováveis são importantes, mas a realidade é que nenhum pais se industrializou usando painéis solares e usinas de vento. Com a urbanização, com a necessidade de infra-estrutura são necessários energia, cimento e aço, que usam combustíveis fósseis em especial o carvão.
Segundo os ambientalistas, “o uso de carvão está na contramão do mundo”, mas essa afirmação como várias usadas na grande mídia, são eivadas de meias verdades. Esqueceram de olhar para a revolução industrial que está novamente em curso na Ásia. Na vida real vemos que no mundo, em 2017, 40 % do suprimento novo de energia elétrica veio de usinas a carvão.
O crescimento da produção do carvão desde 2006 até hoje foi de 3,1% ao ano e visualiza-se o crescimento de 0,7 % ao ano até 2035. O sudeste asiático (Filipinas, Indonésia, Tailândia. Vietnam, Paquistão, Malásia, etc) tem uma população de 640 milhões habitantes, dos quais 65 milhões permanecem sem eletricidade e 250 milhões não tem energia limpa para cozinhar.
Na Indonésia, que tem enormes reservas de carvão, o custo da geração é cerca 50 U$/MWh – metade do gás natural e prevê-se a construção de cerca 15 GW até 2025. Como o carvão é o combustível mais barato, no sudeste asiático estima-se que cerca de 82 GW serão construídos até 2035 o que gerará uma demanda de 180 milhões de toneladas de carvão por ano.
A China e Índia, com seu significativo crescimento, por décadas tiveram o carvão como suporte e continuam aumentando a demanda de carvão. Na Índia, por exemplo, até 2035 deverá crescer 500 TWh a geração elétrica a partir do carvão. Como a experiência européia mostra, as expansões das energias renováveis ainda não levaram a uma redução uniforme no uso do carvão. No caso da Alemanha o carvão ainda participa com 40% na matriz de geração de energia elétrica.
Portanto, pelo que demonstramos, mesmo que nos Estados Unidos e na Europa exista a previsão de reduzir o carvão nos próximos anos, o carvão no mundo continuará a ser resiliente e a crescer nos mercados emergentes da Ásia e, nas próximas décadas, na África. Os países que anunciaram uma aliança pelo encerramento de seus programas a carvão até 2030, entre eles Reino Unido, França, Canadá, Portugal e México são na maioria importadores de carvão e, portanto, buscam alternativas domesticas para seu abastecimento de energia, especialmente nas intermitentes renováveis.
No último verão no Reino Unido com muito calor e pouco vento, foi necessário usar usinas térmicas como backup, levando-se à discussão de ter uma diversidade de fontes no mix como forma de solução no longo prazo.
Olhando o exemplo da revolução energética alemã, um experimento de mais de 200 bilhões de euros, vemos a conta da luz de cada cidadão ser 50% mais cara que a média de outro país europeu e os empregos renováveis, depois do boom da geração distribuída solar e da eólica em 2012/13 reduzirem um terço em 2017, pois a grande maioria é não permanente.
Cabe salientar que o custo da intermitência deve ser quantificado, visto que os países com maiores percentuais de renováveis na matriz tem o maior custo de energia no mundo. No Brasil, que tem mais de 80% de energia renovável na matriz elétrica, meta de vários países para 2050, mesmo que continue fazendo usinas a carvão, continuará com esse mesmo percentual.
Em termos de emissões de gases de efeito estufa na energia, o Brasil permanecerá cerca de 1,4% das emissões globais, não sendo o carvão termelétrico o problema brasileiro, já que ele representa 3,7 % das emissões de energia e 0,7 % das emissões totais. Portanto, uma usina de 600 MW incrementará muito pouco nas emissões brasileiras, que tenderão a crescer mais em outros setores, mas agregará segurança energética (estocagem) preservando água nos reservatórios do Sudeste.
Acreditamos que o discurso ambientalista está fora de foco, pois primeiro deveria ter uma visão holística da questão ambiental, analisando o meio ambiente na ótica dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS – Agenda 2030 da ONU que é buscar o equilíbrio sócio, econômico e ambiental. A análise e o foco no segmento fóssil, em especial no carvão, demonstram o apoio a determinadas fontes de energia, sem o compromisso do conceito da sustentabilidade. Devemos buscar a redução de emissões de todas as fontes de energia e não simplesmente discriminar as fontes.
Devemos apoiar iniciativas para redução das emissões como o desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono – CCUS e não buscar acabar com fontes que movem a economia e propiciam a redução da miséria e do caos social. Felizmente no Brasil temos a diversidade de fontes e a busca do equilíbrio, traduzido pelo atingimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável, que deve ser o compromisso de todos.
(*) Fernando Luiz Zancan é presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral. – ABCM.