Sinal verde para lobistas no MME
A atual gestão do Ministério de Minas e Energia tem tido algumas atitudes surpreendentes e reveladoras de uma maneira incomum de pensar no serviço público.
Depois de convidar a Petrobras, que, embora seja uma estatal muito importante, no fundo é um agente de mercado como outro qualquer, para participar das reuniões do CMSE, onde são discutidas questões de interesse estratégico de servidores públicos, agora o MME inovou mais uma vez e distribuiu ao público um artigo assinado em jornal de grande circulação por conhecido lobista e pela presidente executiva de uma associação empresarial do setor elétrico.
Ou seja, o artigo é assinado por dois lobistas, pois um dirigente de associação, com todo o respeito, não passa disso: também é um lobista. Este editor sabe do que fala, pois já foi um deles.
Setores privados e públicos contam com os seus mecanismos de clipping, para que as pessoas possam se informar a respeito do que se passa nas respectivas áreas.
Nesse contexto, é absolutamente natural, portanto, que um setor importante como o MME tenha o seu clipping e que um artigo assinado por dois lobistas de renome seja disponibilizado para leitura dos servidores qualificados do MME, para que possam se informar, contribuindo para formar uma opinião a respeito do tema, no caso os subsídios das fontes renováveis de energia elétrica.
Sem entrar no mérito do mencionado texto — que é polêmico — este site considera estranho que o MME, utilizando a sua estrutura de Comunicação, o envie através de mala direta para jornalistas. É um assunto tão polêmico, que essa foi uma das questões que travaram o desenvolvimento da proposta de novo modelo comercial para o setor elétrico brasileiro.
É plenamente aceitável que o MME faça a divulgação de artigos assinados pelos seus próprios especialistas (ministro e sua equipe de assessores). Até aí tudo bem, pois é natural que o poder público tenha a sua própria opinião e a torne conhecida pelos meios de comunicação.
Mas divulgar por mala direta opiniões polêmicas de profissionais estranhos ao MME, que não integram o seu quadro de servidores, como lobistas do setor elétrico, é uma situação complicada, temerária, a respeito da qual o MME talvez deveria refletir um pouco mais antes de continuar a prática de tais atos.