O gato subiu no telhado
O resultado que começa a emergir das urnas, com a escolha feita pelos eleitores no dia 07 de outubro, é uma espécie de tsunami para as elites partidárias. Embora desde 2013 tivessem surgido ameaças ao sistema, as elites partidárias fizeram aquilo que sempre fazem: fingiram que não era nada com elas e empurraram com a barriga. A força do tsunami varreu todo mundo.
Ainda há um segundo turno para se resolver quem vai ocupar a Presidência da República e alguns governos estaduais. Então, aqui, o propósito é avaliar preliminarmente apenas alguns impactos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, considerando a relevância das duas casas para o tratamento ao arcabouço legal do setor energético como um todo.
O impacto foi fulminante. Durante anos, as associações empresariais desenvolveram relacionamentos profissionais com muitos senadores e deputados, o que não é fácil. Leva-se anos e anos para estabelecer uma relação de confiança com a autoridade, de modo que ela possa compreender como atuam os diversos segmentos e trabalhar politicamente para o avanço ou descarte de determinadas propostas técnicas.
Esse trabalho precisará ser todo refeito. Velhas raposas do setor elétrico, por exemplo, que davam as cartas durante anos no Congresso, não renovaram seus mandatos. Uma exceção foi o ex-ministro de Minas e Energia Eduardo Braga, que conseguiu a duras penas renovar o seu mandato de senador pelo Amazonas.
Mas foram para o sal nomes como Edison Lobão, durante vários anos titular do MME. Ou o deputado Antônio Imbassahy, da Bahia, que sempre foi um interlocutor confiável para a área de energia. Figura carimbada do PSDB, Imbassahy foi varrido do mapa pelo tufão que atingiu o seu partido.
Aqueles que gostam do viés estatizante já estavam comemorando uma vitória da ex-presidente Dilma Rousseff, em Minas Gerais, que, no Senado, poderia apoiar propostas intervencionistas para o setor energético. Bom, Dilma sofreu talvez a mais fantástica derrota do processo eleitoral e até agora não deve ter compreendido direito o que aconteceu. Na véspera da eleição, tinha 25% da intenção de voto no seu estado. Abertas as urnas, verificou-se que tinha cacife apenas para o quarto lugar. Não se pode esquecer que ela também é uma ex-ministra de Minas e Energia.
E o que dizer de Romero Jucá, que também não se reelegeu? Ele foi durante anos o mais poderoso parlamentar para encaminhamento de questões complexas no mundo político, considerando a sua enorme experiência na tramitação de matérias legislativas. Outro nome do seu partido, o MDB, que não se reelegeu foi Waldir Raupp, que discretamente sempre se interessou por questões do setor elétrico.
Agora, as associações empresariais do setor energético estão remontando os seus cadastros, pois todas elas terão muito trabalho pela frente. Primeiramente, terão que identificar os parlamentares que se interessam pela área, tanto na Câmara quanto no Senado. Feito o primeiro filtro, precisarão planejar a abordagem, o que é sempre uma situação difícil, pois às vezes gera mal-entendidos.
Além disso, é preciso saber o que a futura administração federal pensa a respeito de várias propostas relevantes que já tramitam no Congresso. Enfim, não é um trabalho fácil. É por isso que houve equívocos na condução dessas propostas, no ano passado. Era fundamental fazer com que todas as reformas do SEB, por exemplo, fossem aprovadas até meados deste ano, de preferência antes da Copa do Mundo. Não foram. Veio a Copa, depois veio o processo eleitoral e agora o gato subiu no telhado. Será preciso muita artimanha para tirá-lo lá de cima.