A energia na era Bolsonaro
Uma recente declaração feita pelo professor Luciano de Castro, que contribui para a formatação de um programa na área de energia para um eventual Governo Bolsonaro, está sendo interpretada como parte da disputa feroz pelo Poder que ocorre nas fileiras do candidato favorito nas pesquisas, em relação ao futuro da área de energia.
Segundo a Agência Infra, Castro disse que um provável Governo Bolsonaro não terá, na área de energia, nomes de expressão que tenham integrado outros governos.
Na avaliação de especialistas ouvidos pelo site Paranoá Energia, Castro estaria falando apenas em nome próprio e não seria uma decisão que conta com o respaldo do núcleo mais próximo de Jair Bolsonaro. O próprio candidato, aliás, já manifestou que poderá absorver, na área econômica, técnicos de alta qualificação que no momento trabalham para o Governo Temer.
No entendimento do mercado, Luciano de Castro, um professor da Universidade de Iowa, que vive há muitos anos nos Estados Unidos, está picado pela mosca azul e gostaria de ser ungido à posição de ministro de Minas e Energia, caso se confirme a vitória de Bolsonaro no próximo dia 28 de outubro.
Entre executivos da área de energia, existem muitas restrições ao eventual papel de Castro na condição de titular do MME. Embora as suas qualificações universitárias sejam bastante razoáveis, argumenta-se que isso não é suficiente para que o professor de Iowa seja catapultado à posição de ministro, pois lhe faltaria muita experiência sobre o Brasil, do ponto de vista da vida prática. Nesse raciocínio, ele poderia ser premiado, por exemplo, com uma função de nível intermediário, como a presidência da EPE.
Segundo as mesmas fontes ouvidas por este site, o próximo ministro de Minas e Energia precisará reunir suficiente experiência para lidar em situações complicadas com atores diversos, como congressistas, dirigentes empresariais, técnicos qualificados de outros ministérios, Petrobras, Eletrobras e a própria máquina funcional do MME. É um serpentário no qual Castro poderia naufragar com relativa facilidade, pois ele não tem a experiência de lidar com o mundo de Brasília.
Para o mercado de energia, o setor está numa posição difícil, pois, a rigor, ninguém sabe com exatidão o que se passa pela cabeça do presidenciável Bolsonaro. Um especialista lembrou que ele está desatualizado, inclusive, em relação às próprias ideias do Exército sobre a área de energia.
O argumento tem sentido. Afinal, Bolsonaro se formou como militar em 1977, no auge da ditadura, e deixou a vida militar ativa no final dos anos 80, quando ainda era um jovem capitão. Foi no máximo o que na atividade militar se chama um “troupier”, ou seja, um homem da caserna, nunca um pensador. Um militar voltado totalmente para a atividade militar.
Nesse contexto, o que ele conheceu na área de energia foi o chamado “Brasil Grande”, de grandes hidrelétricas estatais construídas a qualquer custo e sem qualquer tipo de preocupação com a preservação do meio ambiente.
Bolsonaro, hoje, tem seus méritos como político e como candidato à Presidência da República, mas o fato é que ele não tem qualquer intimidade com a sofisticação que o setor elétrico, por exemplo, alcançou ao longo das últimas décadas. Precisará delegar a alguém que saiba como esse negócio funciona.
A interrogação que surge é quem será esse alguém e para trabalhar que tipo de modelo. Existe uma espécie de unanimidade em torno da percepção que Jair Bolsonaro, por enquanto, não tem a mínima ideia sobre o que fará com a área de energia. As suas indefinições em relação à privatização são citadas por 10 entre 10 especialistas ouvidos por jornalistas.
Mesmo que não tenha ainda uma concepção de modelo, até porque a campanha é muito mais profunda do que isso e existem outras prioridades no campo político, a outra dúvida é quem será o nome que ficará responsável pela área de energia no hipotético Governo Bolsonaro.
Especula-se que poderia ser um oficial do Exército, de alta patente. Se for, a tendência é que em pouco tempo ocorra um desastre. Não porque os militares sejam incompetentes, até porque eles são razoavelmente preparados nas artes militares. Só que há uma distância imensa entre comandar uma unidade de Artilharia e conduzir o setor elétrico.
De modo geral, eles são apenas simplesmente desatualizados. A concepção deles sobre o setor elétrico remonta aos anos 70. São contra as privatizações. Ainda são possuidores de uma visão estratégica equivocada, segundo a qual investidores estrangeiros não podem possuir hidrelétricas no Brasil, como se alguém pudesse pegar uma UHE e transportar lá para o fim do mundo. Provavelmente sequer sabem o que é o mercado livre. Um deses generais que assessoram Bolsonaro deitou falação, há poucos dias, sobre a construção de estradas na Amazônia. Disse barbaridades.
Bolsonaro também não pode se apegar a veteranos dirigentes do setor elétrico que se formaram nas estatais e pensam exatamente como os militares, embora não usem e nunca tenham usado uniformes. O tipo de pensamento é rigorosamente o mesmo. São visões ultrapassadas de um mesmo problema.
O ideal é que Bolsonaro, se virar presidente, possa indicar para o MME alguém que tenha ao mesmo tempo a visão liberal do seu guru econômico Paulo Guedes e o conhecimento técnico alicerçado em muitos anos de atividade profissional. Que tenha uma visão moderna da área de energia. Que seja possuidor de razoável experiência para enfrentar a selva burocrática que é Brasília, que não costuma perdoar os inexperientes.
Tudo indica, segundo as últimas pesquisas, que Jair Bolsonaro segue inabalável na sua corrida em direção ao Palácio do Planalto. Se isso acontecer de fato, terá muitos pepinos pela frente, dos quais a área de energia será apenas mais um.
O que todo mundo espera é que ele pelo menos tenha bom senso e não faça loucuras, como a ex-presidente Dilma e a sua irresponsável MP 579, que quebrou o setor elétrico como um todo.
O Governo do presidente Temer, por exemplo, que está chegando melancolicamente ao fim, foi um desastre total sob vários aspectos, principalmente o moral. Mas curiosamente teve bom senso na área de energia, onde em determinados momentos alcançou uma gestão que obteve nota muito superior a outros setores governamentais.
É verdade que, nos últimos meses, por falta de governabilidade e infelicidade na troca de comando no MME, a área de energia também fracassou. Mas durante um bom tempo a área de energia, sob Temer, foi um setor bastante produtivo e cheio de ideias positivas, até o momento em que o presidente sucumbiu às serpentes do seu Partido e ele mesmo se encarregou de prejudicar uma das poucas áreas que não lhe causavam problemas e que, ao contrário, tinham resultados positivos a oferecer.
Bolsonaro não precisa ser um especialista em energia para tomar boas decisões. Repetindo, só precisa ter bom senso. Ele já mostrou que tem uma estrela que o protege. O que todos esperam é que ele saiba decidir com sabedoria e que seja feliz na hora de tomar as suas decisões. Há muito trabalho pela frente, na área de energia, esperando o futuro presidente.