O MME e a terapia ayurvédica
Existe uma expectativa generalizada em relação às próximas iniciativas do futuro ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque Júnior. Como o novo titular do MME foi o penúltimo do alto escalão do Governo a ser anunciado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, é natural que a sua equipe seja uma das últimas que serão conhecidas pelo público.
Acredita-se que, até a próxima sexta-feira, dia 21, o futuro ministro já estará em condições de informar quais serão os seus auxiliares mais próximos. Afinal, não é conveniente que, na semana seguinte, que antecederá a posse do novo Governo, o anúncio da equipe do almirante Bento se misture com árvores e cestas de Natal ou então com o feriadão da passagem do ano.
Embora algumas pessoas se lembrem apenas do nome do secretário-executivo — que, de fato, é um técnico altamente estratégico em qualquer Pasta — a equipe direta de um ministro de Minas e Energia é muito mais do que isso.
Por isso, tem muita gente aguardando quem são os técnicos que deverão indicados pelo almirante Bento para ocupar, entre outros cargos, a chefia da Assessoria de Assuntos Econômicos, a Secretaria de Energia Elétrica, a Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético, além de toda a diretoria da EPE.
Coincidentemente, as mudanças no campo das autoridades do MME ocorrem ao mesmo tempo em que algumas associações empresariais que se reportam ao ministério também alteram os seus comandos.
Na associação dos distribuidores de energia elétrica, a Abradee, Nélson Fonseca Leite, deverá se afastar do cargo ao final do primeiro trimestre, depois de nove anos na função. Está cansado e resolveu cair fora do setor elétrico. Algumas fontes consideram natural que ele seja substituído por Marco Delgado, seu atual colega de diretoria, mas isso é mera especulação. Um nome que não tenha hoje qualquer ligação com a Abradee poderá ser indicado para a dirigir a associação.
Na Abragel, houve uma mudança muito recente na presidência executiva, com o retorno do engenheiro Charles Lenzi. Ele reassumiu há pouquíssimos dias e o começo desse novo período à frente da associação praticamente coincide com o início da gestão do almirante Bento.
Nessas duas associações, concentram-se questões que merecem toda a atenção do novo ministro. Ambas, por sinal, centralizam uma boa parcela da resistência ao movimento de ampliação do mercado livre de energia elétrica. É natural que nem a Abradee queira que os seus associados, os distribuidores, percam clientes cativos para o ML, enquanto a Abragel também não quer que os seus associados percam o subsídio à energia incentivada, inviabilizando o negócio. O fim desse subsídio está previsto na proposta de novo modelo comercial para o SEB.
Dependendo de como o almirante Bento moverá as pedras no tabuleiro, as associações em geral terão maior ou menor grau de angústia. A associação que trata da energia nuclear (Abdan) terá um Natal tranqüilo, pois o próprio almirante já informou que o governo Bolsonaro pretende investir no término das obras da usina Angra 3.
Em compensação, os comercializadores estão em compasso de espera e as suas bases estão agitadas. Nos bastidores, todo mundo está entusiasmado com o novo ministro, pois ele já teria compreendido qual é a importância do mercado livre na economia brasileira. Entretanto, em público ninguém nunca ouviu uma palavra sequer do novo ministro sobre o assunto. A rigor ninguém sabe o que ele pensa sobre a ampliação do ML, o que gera angústia.
Todos os agentes também estão na expectativa em torno da eventual solução que será dada ao risco hidrológico. A questão se arrasta indefinidamente no Executivo e no Legislativo e, enquanto isso, o SEB vai vivendo de liminares, o que revela uma insensatez absoluta. É possível imaginar a aflição de um executivo de empresa estrangeira, tendo que explicar aos seus chefes, lá fora, que o Brasil não consegue resolver a questão do GSF.
O almirante Bento e seus principais auxiliares, a partir do dia 1º de janeiro, passarão a ser responsáveis por todas essas questões. Embora os agentes tenham gostado da indicação do almirante, há muita preocupação em relação a sua equipe. Existe, por exemplo, o receio que a Secretaria-Executiva possa ser ocupada por alguém que tenha excelente currículo, mas que seja um teórico com pouca ou zero de vivência nas práticas do dia a dia da área de energia.
Afinal, existe uma larga distância entre as salas de aula e os problemas das empresas. Um exemplo relativamente recente dentro do próprio MME tem sido lembrado por alguns agentes, que não se esquecem do mundo de dificuldades criadas na gestão do professor Maurício Tolmasquim. Provavelmente é um bom professor, autor de vários livros, mas que acabou se perdendo na gestão prática dos problemas básicos do SEB.
Essa é exatamente a preocupação número um dos agentes. Se ao novo ministro não seria razoável atender aos lobbies da energia elétrica, do setor de óleo e gás ou da academia, quem poderia ocupar a Secretaria-Executiva? Logicamente, não poderia ser um outro militar com patente inferior a dele.
Nos próximos dias, todas essas dúvidas finalmente desaparecerão e serão conhecidos os nomes da equipe do almirante Bento. Até lá, recomenda-se o uso de Maracugina, Prozac ou a terapia ayurvédica para afastar a ansiedade.