Diálogo do MME com agentes é ruim
Quem já é leitor habitual deste site (e felizmente eles já são mais do que meia-dúzia) sabe muito bem que este editor procura expressar com clareza as suas opiniões, para que não restem dúvidas. O editor entende que, desde que feito com elegância, qualquer coisa pode ser dita, inclusive contra o site, pois assim funciona o mundo civilizado.
Agora, por exemplo, não dá para dizer que a primeira visão que se tem da gestão do ministro Bento Albuquerque Junior é boa. Não, não é. Alguém pode até querer enganar o ministro e dizer que a imagem atual do MME é boa entre os agentes, mas é cascata pura. Ao contrário, os agentes estão insatisfeitos com a forma como o governo Bolsonaro está conduzindo a área de Energia.
Este site não acha qualquer graça ao escrever isto. Está profundamente equivocado quem entende que o site “Paranoá Energia” só enxerga o lado negativo das coisas e está torcendo pelo time do quanto pior, melhor. Longe disso. O site torce, sim, para que o governo acerte o passo e que as coisas fluam com objetividade, no interesse da sociedade, dos consumidores, dos investidores, etc.
O fato é que este editor conversa com as pessoas e percebe claramente que as opiniões não são boas. É muito difícil para um gestor de grande empresa no Brasil, controlada por investidores estrangeiros, explicar determinadas situações. Por exemplo: um diretor lá na Europa ou na Ásia liga e pergunta o que o novo governo pensa sobre a questão “X”. O cara aqui responde “não sei”. O outro lá retruca: “como não sabe? O ministro nunca falou sobre isso? A secretária-executiva também não se manifestou”? O cara aqui responde: “não. Ninguém na equipe nova do MME jamais se manifestou sobre isso”.
Talvez tenha alguma ficção nesse diálogo, mas lamentavelmente ele é verdadeiro. O ministro Bento e a secretária-executiva Marisete estão desconectados da realidade. Não recebem agentes, não recebem jornalistas e ninguém sabe o que eles estão pensando.
O setor energético, seja só de energia elétrica ou de óleo e gás, não pode viver desse modo. São segmentos organizados, cujos projetos demandam anos para se materializar e exigem milhões ou bilhões em investimentos por parte dos agentes. O diálogo e a transparência, neste caso, não são mero capricho, mas, sim, absoluta necessidade.
O setor energético só funciona se houver diálogo, se as autoridades conversarem com os agentes e, na outra ponta, se esse trabalho chegar à sociedade através da mídia. Enfim, se não existir a tal transparência o negócio vai pro espaço.
O mais curioso é que essa situação pode ser facilmente corrigida. No caso dos agentes, por exemplo, o ministro Bento pode começar a dar a volta por cima, ouvindo imediatamente o que o Fase tem a dizer. Se ninguém explicou ao ministro o que é o Fase, é o Fórum das Associações do Setor Elétrico, uma organização que reúne todas as associações empresariais que atuam no segmento e cuja opinião é muito respeitada. Não é pouco respeitada, não. É muito respeitada, vale a pena repetir.
Com certeza, nessa eventual reunião com o Fase o novo ministro receberia um diagnóstico neutro, que não estaria puxando a sardinha para o lado de nenhum segmento específico, pois o objetivo do Fase é exatamente oferecer uma visão geral do setor e servir como facilitador do canal de comunicação com os interlocutores públicos. O Fase não se preocupa com questões específicas de um determinado segmento.
Isso não é pouca coisa, para um ministério que está travado, onde ninguém fala nada. O Fase tem uma visão abrangente e, no contexto atual, uma conversa com o Fórum pode se configurar em opção mais do que adequada.
Existem muitos gargalos no MME, hoje. Não há como negar, os agentes receberam muito friamente a indicação de Marisete Dadald para ocupar a Secretaria-Executiva da Pasta. Nada contra as mulheres. Os agentes não tinham preferência para nomes, mas com certeza preferiam uma pessoa com outro perfil. A Sra. Marisete é uma boa pessoa, mas é uma contadora. Não é o tipo de nome que se esperava para ocupar a Secretaria-Executiva. Existem várias mulheres que têm um perfil técnico mais adequado, no caso. Em geral, acredita-se que o ministro não fez a melhor escolha.
Este site tem conversado com vários especialistas do mercado (dirigentes ou investidores) e a visão geral é que o ministro Bento pisou na bola ao comprar a sugestão do seu amigo, ex-ministro Moreira Franco, para que Marisete fosse designada para a SE. O fato é que, hoje, a interlocução do MME com os agentes é igual a zero, pois o ministro não fala e a secretária, idem.
O que se pergunta é até quando vai perdurar a situação atual. Nesta segunda-feira, dia 14 de janeiro, este editor estava conversando pessoalmente com um especialista, quando tocou o telefone fixo e, no outro lado da linha, era o diretor-geral de todas as operações da empresa no Brasil, perguntando exatamente isso, em português claro: “Até quando vai perdurar a situação atual”? Estava tão irritado, que foi possível ouvir a voz no telefone.
Essa empresa tem muitos milhões aplicados no Brasil. Não são poucos investimentos. Seus diretores prestam contas aos diretores lá fora e todos devem satisfação aos investidores. É um mundo cruel e objetivo, no qual é praticamente impossível alguém de alto coturno dizer que não tem uma resposta. Os executivos ganham muito bem exatamente para oferecer respostas que sejam razoáveis.
Esse é o mundo real das corporações empresariais. No governo funciona de outro jeito, mas enganam-se os servidores públicos que eventualmente entendam que não precisam oferecer satisfações ao setor privado. Ao contrário, precisam sim. Afinal, o governo não cria riquezas. O governo apenas administra as riquezas que, através dos impostos, são geradas no setor produtivo. E servem, inclusive, para pagar o pessoal que trabalha no governo.
No governo, as autoridades precisam prestar satisfação aos agentes, para que estes possam programar corretamente os investimentos, de modo que novas riquezas sejam criadas e outros impostos sejam cobrados.
O mundo funciona dessa forma. Como se pode observar, é muito mais complexo do que alguma coisa que se possa ver sob o ângulo limitado de um periscópio.
Enfim, este site torce para que as coisas melhorem e que opiniões como estas não sejam mais escritas. De modo geral, o que se observa em relação ao governo Bolsonaro é que, passado o momento inicial, em que as pessoas ficaram batendo cabeças e falando abobrinhas, aparentemente a máquina pública começa a ajustar os seus procedimentos e hoje já se erra menos do que há 10 dias, por exemplo.
Todos torcem para que o MME entre nesse ritmo e fale a mesma língua dos agentes. A bola está com o governo.