Valor do PLD quase bate no teto
Maurício Corrêa, de Brasília (com apoio da CCEE e do MME) —
Acendeu uma enorme luz amarela nos segmentos que profissionalmente são obrigados a acompanhar o valor semanal do PLD, com a decisão da CCEE de fixar em R$ 510,81/MWh o valor válido para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Afinal, nem se chegou ainda ao meio de fevereiro, e o PLD quase já bateu no valor máximo, que é de R$ 513,89, o que dá uma dimensão exata da dramaticidade da hidrologia em 2019.
O valor altíssimo do PLD, hoje, já não surpreende os especialistas. Esta é a época tradicionalmente mais chuvosa do ano no Sudeste, mas em 2019 São Pedro tem sido cruel em relação às chuvas. Afinal, não adianta cair um temporal histórico na região Sul do Rio de Janeiro, como aconteceu no meio desta semana, pois, para o setor elétrico, isso não tem qualquer importância. O impacto no PLD só vai ser sentido dependendo da quantidade de água que cair sobre as montanhas de Minas Gerais e que depois escorrem para as principais bacias hidrográficas do Centro e Sudeste.
O fato é que se não descer água com vontade em Minas Gerais, o PLD vai subir, como está acontecendo agora. Curiosamente, alguns especialistas já estavam precificando a antecipação de alta do PLD, mas, há cerca de um mês, eles acreditavam que o valor máximo do PLD seria encontrado apenas por volta do final de abril ou início de maio. Hoje, 08 de fevereiro, o PLD já está oficialmente na porta do valor máximo.
O próprio Governo não consegue esconder o seu nível elevado de preocupação, o que ficou evidenciado através das decisões aprovadas pelo CMSE. Nesta sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, presidiu, no Rio de Janeiro, uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e, segundo um comunicado divulgado pelo MME no final da tarde, ficou claro que o Governo está raspando o fundo do tacho para controlar a situação de modo a evitar o desequilíbrio entre oferta e demanda.
Para se ter uma ideia, a reunião ordinária do CMSE já tinha sido realizada na última quarta-feira, há apenas dois dias. Agora, “tendo em vista os atuais armazenamentos dos reservatórios equivalentes das usinas hidrelétricas do País e as previsões meteorológicas para os próximos dias”, o CMSE decidiu despachar térmicas fora da ordem de mérito, em valores superiores aos indicados pelos modelos computacionais que regem o setor elétrico brasileiro como um todo.
Depois de implicitamente reconhecer, nesse comunicado, a falência dos modelos computacionais, o CMSE autorizou o despacho de usinas térmicas até o limite de Custo Variável Unitário (CVU) de R$ 588,75 por MWh, no Sudeste e no Centro-Oeste e Sul, já a partir deste sábado, dia 09 de fevereiro.
Além disso, o CMSE deliberou que o ONS precisa considerar a oferta de importação de energia do Uruguai e da Argentina, como recurso adicional. O CMSE mantém a garantia de que há energia suficiente para movimentar o País e que não há risco de desabastecimento, mas fez questão de deixar claro que agora existe uma vacina para se mudar o discurso: o suprimento será reavaliado a cada semana daqui para a frente e não uma vez por mês, como sempre foi a rotina normal do CMSE.
Este site conversou informalmente com agentes de comercialização e realmente existe uma preocupação, até porque uma comercializadora quebrou na semana passada em alto estilo e não se sabe ainda onde isso vai terminar. O mercado não tem dúvida que trata-se de um problema localizado, que não afeta consumidores. A questão por enquanto parece ser limitada ao agente que quebrou e, eventualmente, a um ou outro, se ocorrer algum tipo de contágio.
Na realidade, existe uma preocupação maior é com a geração de energia. Um especialista lembrou ao site “Paranoá Energia” que tem feito muito calor em todo o País e a carga tem batido recordes praticamente a cada dia.
“A queda na previsão de afluências para o Sistema é o principal fator para o aumento do PLD em todos os submercados. As ENAs esperadas para o SIN foram revistas de 62% para 57% da média histórica com índices em 60% no Sudeste, 65% no Sul, 19% no Nordeste e em 71% da média histórica no Norte”, afirma um comunicado distribuído pela CCEE nesta sexta-feira.
Para a próxima semana, a carga prevista deve ficar cerca de 1.210 MWmédios mais baixa, com elevação esperada no Nordeste (+305 MWmédios) e no Norte (+30 MWmédios). A carga deve ser reduzida no Sudeste (-865 MWmédios) e no Sul (-680 MWmédios).
Já os níveis dos reservatórios do SIN ficaram cerca de 1.210 MWmédios mais baixos frente à última previsão. A redução foi verificada no Sudeste (-1.020 MWmédios) e no Sul (-560 MWmédios). No Nordeste (+210 MWmédios) e no Norte (+160 MWmédios), por sua vez, os níveis estão mais altos.