Mercado avalia rebaixamento da Moody´s
Maurício Corrêa, de Brasília —
O setor elétrico é parte significativa da infraestrutura e está inserido dentro da economia. Nesse contexto, precisa ficar permanentemente atento aos grandes movimentos, como a perda do grau de investimento pela terceira grande agência de classificação de riscos, a Moody´s. Um cuidado especial que se deve ter, entretanto, é com os investidores estrangeiros, pois esse tipo de notícia assusta e pode estimulá-los a deixar o País.
Para Victor Kodja, presidente executivo do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Moody´s, ainda que esperada pelo mercado, de qualquer forma é muito ruim. “O cenário de negócios pode se deteriorar cada vez mais rapidamente e sem perspectivas de recuperação, muito pela simples falta de ação do Governo, que continua perdido”. Ele lembrou que o setor elétrico é afetado, tanto que muitos investidores simplesmente se afastaram do País e desistiram de manter ativos aqui. “Essa sangria precisa ser detida logo. Ou será tarde e a recuperação demorada e longa”, frisou Kodja.
Na avaliação de Mikio Kawai Jr., diretor da comercializadora Safira e conselheiro tanto da Abraceel quanto do BBCE, o rebaixamento anunciado pela Moody´s já era aguardado pelo mercado. A notícia divulgada nesta quarta-feira, 24 de fevereiro, “simplesmente vem ratificar a tendência de declínio da economia brasileira baseada na desconfiança que os investidores, neste caso internacionais, têm sobre a sua expansão. Afinal de contas, o índice do BC apresentou retração de mais de 4% no ano de 2015, com viés negativo para 2016 e quiçá 2017. São reflexos das expectativas com os grandes indicadores econômicos nacionais: juros para cima, bolsa para baixo, câmbio para cima, inflação para cima e PIB para baixo”, argumentou.
Na sua avaliação, isso tudo representa tendências de curto e médio prazo que tendem a permanecer, “frente a um cenário de política fiscal que não dá sinais de contração dos gastos do governo. O descompasso entre as políticas fiscal e monetária não ocorre somente agora, Já vem de tempos atrás. E ainda cogita-se estimular o crédito para combater a recessão, sendo que estamos num momento de índices de inflação com resiliência e altamente disperso entre os bens e produtos que os compõem”.
Mário Menel, presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), também acredita que o rebaixamento da nota soberana do Brasil pela Moody´s já estava precificado pelo mercado. “Sob esse aspecto não altera nossas dificuldades de captação de recursos no curto prazo. É claro que a concretização do rebaixamento traz consigo uma sinalização muito ruim: a bolsa cai e o dólar sobe de imediato sem, no entanto, afetar o ambiente de negócios”.
Para o presidente da Abiape, na verdade, o ambiente de negócios é influenciado por fatores que vêm, ao longo dos últimos três anos, principalmente, deteriorando sua qualidade: insegurança jurídica, falta de credibilidade, custo do dinheiro, condições de financiamento e expectativa do próprio investidor. (leia a “Opinião do Editor”, neste site, a respeito da perda do grau de investimento pelo Brasil)