Abraceel renova Conselho de Administração
Maurício Corrêa, de Brasília —
Na eleição direta realizada nesta quinta-feira, 14 de março, em São Paulo, a associação dos comercializadores, a Abraceel, trocou cinco dos seus oito conselheiros, mas ao contrário do que se poderia pensar o resultado da eleição não significou uma forte expectativa de mudança. A avaliação inicial da eleição mostra desalento com os rumos da associação, que estaria perdendo a capacidade de influenciar politicamente o mundo de Brasília.
Ricardo Lisboa, da comercializadora Delta, foi mantido na presidência do CA, ao bater Daniel Marrocos, da Newcom, por 40 votos a 38. Também foram reeleitos Alessandra Amaral, da Energisa, e Rafael Mathias, da Capitale. Os cinco novos conselheiros são: o próprio Marrocos (que estava no CA anterior, mas teve que renunciar no meio do mandato, pois havia deixado a empresa associada pela qual tinha sido eleito em 2017), Alessandro Brito (da BC Energia), Paulo Tarso (da Petrobras, que acabou sendo o mais votado, com 65 votos), Luiz Macedo (da WXE) e Eduardo Takamori (da Engie).
Embora tenha sido elogiado o desempenho pessoal de Paulo Tarso, da Petrobras, como candidato, o fato é que não se pode dissociar o seu nome do nome da empresa que representa. Este site conversou com um associado, que não poupou críticas à expressiva votação dada a Tarso, lembrando que a Petrobras não tem exatamente um perfil de agente de comercialização como os demais e defende mais os interesses dos geradores térmicos.
“Dentro da Abraceel, é uma espécie de nação quase amiga”, ironizou a fonte, lembrando ainda que a Petrobras está mais interessada em geração fora da ordem de mérito (Gfom) e no bloqueio à liberdade de operação no mercado de gás natural. “A Petrobras defende bandeiras que contrariam a Abraceel e o seu candidato foi o mais votado. Isso é estranho e preocupante e, em vez de comemoração, certamente precisa ser melhor avaliado”, argumentou a mesma fonte.
Embora seja um associado antigo, a Petrobras sempre optou por ficar nos bastidores e nunca teve uma cadeira no Conselho. Isso representa uma situação muito nova, pois sempre houve fortes críticas ao papel da Petrobras dentro da Abraceel, sob o argumento que os seus interesses — como principal empresa do País e maior estrela da constelação das estatais — nem sempre coincidem com os interesses dos agentes de comercialização. Embora um associado de perfil discreto, a Petrobras é grande comercializadora e acompanha com lupa tudo o que acontece com o mercado livre de energia elétrica, gás natural ou térmicas a gás.
Alguns nomes importantes dentro do ambiente da comercialização de energia ficaram de fora do conselho, como Paulo Mayon, da Compass; Marcos Junior, da Cemig (não foi reeleito), Paulo Toledo, da Ecom; e o professor Edvaldo Santana, da Electra. Com Santana, não foi a primeira vez que um ex-diretor da Aneel se candidatou ao CA da Abraceel e perdeu. Já havia acontecido antes com o também professor Afonso Henriques Moreira Santos.
Embora a renovação tenha sido muito expressiva e de certa forma equivale a um tsunami no comando da associação dos comercializadores, algumas fontes observaram que existe um pouco de desencanto entre os associados com o trabalho que vem sendo executado. Esse pessimismo se refletiria, principalmente no distanciamento voluntário feito por alguns comercializadores históricos, que preferiram tocar os seus negócios a se envolver com os interesses corporativos da associação. A abstenção registrada nesta quinta-feira também é indicada como exemplo. Nesse contexto, a Abraceel teria se tornado burocrática.
Também não resta dúvida que o processo eleitoral foi impactado pela crise atual de algumas comercializadoras. A rigor, ninguém sabe o que vem pela frente, embora a Aneel já tenha vazado algumas propostas que estão em análise, todas elas representando restrições à operação atual de comercializadores. O modo como a associação vai avaliar e reagir a essas propostas é fundamental para os agentes. Nessa visão, os eleitores optaram pela prudência e por manter a mesma presidência.
De qualquer forma, a nova composição do Conselho de Administração da Abraceel reflete as várias situações que caracterizam os seus associados. Curiosamente, a escolha de Tarso, da Petrobras, o candidato mais votado, mostra que a Petrobras jogou o seu peso político na eleição.
Eduardo Takamori, da Engie, ficou em oitavo lugar, ganhou uma cadeira no Conselho e representa o segmento da geração. Alessandra Amaral, da Energisa, foi reconduzida e garante uma cadeira para os distribuidores de energia que têm comercializadoras (mas uma foi perdida com Marcos Junior, da Cemig, que não foi reeleito).
De certa forma, surpreendeu a votação dada a Alessandro Brito, da BC Energia, que teve 48 votos, mesma quantidade de votos atribuída a Luiz Macedo, da WXE Energy. A BC é uma comercializadora considerada de média para pequena e fica situada em Goiânia, um pouco distante do eixo principal da comercialização. Mas entre os associados é bastante valorizada a atuação na política interna de Alessandro Brito, que sabe se movimentar de forma competente no ambiente da Abraceel, onde todos os associados competem entre si.