A área de energia e a corrupção
Aos trancos e barrancos, nos últimos anos, o Brasil vem se esforçando para passar a sua História a limpo e, nesse contexto, a Operação Lava Jato exerce um papel muito significativo.
A prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, é emblemática desse duro acerto de contas que o País vem fazendo com a corrupção, o qual já levou à prisão o também ex-presidente Lula, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, entre outras dezenas de personalidades dos mundos político e empresarial.
É muito doloroso ver um País prender um ex-presidente da República por motivo de corrupção. Só que agora já são dois na gaiola e há mais dois na fila, esperando a hora em que a Justiça vai determinar que o camburão negro da Polícia Federal pare na porta.
Nisso tudo, também é deprimente saber que o setor elétrico, através da Eletronuclear, se prestou a esse papel pouco republicano. Bem, isso talvez seja apenas a ponta de um iceberg do que verdadeiramente aconteceu. Todos aqueles grandes projetos estruturantes na Amazônia, na gestão PT-PMDB à frente do MME, tinham oficialmente apenas objetivos elétricos. Mas sabe-se lá o que aconteceu nessas grandes usinas, pois as coisas ainda são nebulosas.
O mais incrível nessa história é perceber como poucos partidos escaparam dessa atração pela corrupção. Os grandes partidos estão todos devidamente representados na Lava Jato: PT, PMDB (agora MDB), PSDB, PP. Muita gente mordeu recursos públicos, que foram simplesmente desviados para os bolsos dos ladrões ou então destinados em menor parcela para as organizações partidárias, para que elas se perpetuassem no Poder.
Tem sido uma luta que não é fácil. A cada dia, alguém coloca um obstáculo à frente da Lava Jato. Os inimigos da limpeza ética estão em todos os lados, não apenas nas classes política ou empresarial, mas, também, no próprio Poder Judiciário, por mais incrível que possa parecer. Tem gente no alto escalão da Justiça que fica com urticária quando vê algum figurão podre da política ou dos negócios recolhido ao xadrez, provando que a Justiça, no Brasil, é feita para negros, mulatos, pobres e ladrões de galinha.
Ainda há muito chão pela frente, mas é incontestável que a Lavo Jato tem um efeito purificador e pedagógico. A operação também lava a alma dos brasileiros, quando é possível ver a perplexidade de ladrões, dentro de suas SUVs importadas, que se consideravam intocáveis indo para o xilindró.
Vai ficar na antologia histórica a imagem desta quinta-feira, de policiais federais invadindo o prédio onde mora um assecla da quadrilha de Michel Temer, portando um martelo tamanho família e um pé de cabra, para eventual necessidade de arrombamento de porta.
Também ficarão na antologia das imagens da luta contra a corrupção dois celulares escondidos pelo mesmo bandido sob uma almofadada, num prosaico sofá, do qual ele não se levantava, mesmo vendo a esposa (que também foi presa), passando mal. Aliás, esse cidadão era uma pessoa que até recentemente circulava livremente pelos corredores do Palácio do Planalto e quando Temer virou presidente descobriu-se que ele era uma figura-chave no esquema criminoso que agora está desvendado.
Enfim, o País está aprendendo a dizer não à corrupção. Tudo indica que essa grande corrupção diminuirá bastante. Deverá permanecer uma corrupção menor, igualmente detestável, de funcionários públicos que recebem uma gorjeta ridícula para fingir que não vêem determinadas situações. De qualquer modo, o Brasil está caminhando para a frente em relação à luta contra a corrupção.