Bento: volta por cima e nova cara para MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
Com um pouco menos de três meses à frente do Ministério de Minas e Energia, o ministro Bento Albuquerque vai aos poucos impondo a sua marca e mostrando ao que veio.
Nas primeiras semanas, quando ainda estava se familiarizando com a Pasta, suportou estoicamente as críticas — inclusive deste site, mas ao que tudo indica está aprendendo rápido.
Afinal, não é fácil mudar de uma hora para outra de um programa de construção de submarino nuclear, que é algo cheio de segredos, para um ministério carregado de penduricalhos burocráticos e voltado para o grande público, como o MME.
Infelizmente, o MME há muito tempo vinha servindo apenas como moeda de troca nos acertos dos partidos políticos, o que acabou gerando às vezes até perplexidade, devido à absoluta falta de qualificação de alguns ministros.
O presidente Bolsonaro não tem sido exatamente feliz naquilo que todos esperam de um presidente da República. Não só escolheu mal alguns auxiliares, como se especializou em falar o que não deve e tem atitudes que são constantemente desmentidas.
No caso do MME, entretanto, Bolsonaro ao que tudo indica acertou, pois o ministro é organizado, é focado e não tem os chiliques das estrelas políticas que passaram pela Pasta. Além disso é possuidor de duas características que deveriam ser de todas as pessoas, mas não é o que acontece: tem humildade, bom humor e educação.
Não é pouco para quem se acostumou a encontrar verdadeiras antas pastando na Esplanada dos Ministérios ao longo de décadas de cobertura do Governo.
O ministro não toca uma Pasta fácil. Ao contrário, é um lugar de muitos problemas: como implantar um mercado livre de gás natural, como ampliar o mercado livre de energia elétrica, como garantir o retorno dos investimentos em geração, como compensar a distribuição das perdas que sofre a cada dia devido ao avanço da tecnologia. E por aí vai.
Não é pouca coisa, sem contar que a Pasta ainda tem a gestão da área de mineração, que teima em gerar más notícias, embora o País seja um magnífico parque mineral, com riquezas extraordinárias escondidas sob a terra.
Vencidos os primeiros momentos de dificuldades, Bento Albuquerque está claramente animado com as perspectivas de trabalho. Está trabalhando na organização de uma reunião do Fórum de Energia recentemente anunciado nos Estados Unidos, quando técnicos do Departamento de Energia virão ao Rio de Janeiro para trocar ideias com os brasileiros sobre petróleo, gás natural, energia renováveis e área nuclear.
Participarão, aliás, não apenas técnicos governamentais, mas, também dirigentes das associações empresariais que manifestarem interesse nesse encontro de alto nível entre os dois países.
Em relação ao GSF (sigla em inglês para o risco hidrológico), que tem sido uma enorme dor de cabeça para o governo e as empresas do setor elétrico, desde que a presidente Dilma Rousseff tomou a decisão nefasta de manipular as tarifas de energia elétrica, o ministro garantiu que a atual gestão do MME está disposta a resolver o problema. Não apenas as questões pendentes do passado, como também tomar providências para que não se repitam no futuro. É um grande avanço, pois o GSF trava o mercado de energia elétrica e provoca insegurança e muita especulação.
Em relação a outro “pepino”, a obra da usina Angra 3, o ministro Bento acredita que até 10 de abril será possível realizar uma reunião do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para definir os detalhes quanto à finalização da terceira usina nuclear. Ele entende que até junho será possível publicar o edital, de modo que Angra 3 possa ter o reinício das obras no segundo semestre, entrando em operação comercial no ano de 2026.