As cooperativas são a chave para a expansão das energias renováveis no Brasil.
Raphael Sampaio Vale (*)
Constituída em fevereiro deste ano, será inaugurada, neste dia 05 de agosto, na cidade paraense de Paragominas (cerca de 300 km da capital do estado, Belém), a primeira cooperativa de energia renovável do Brasil. É um grande feito e motivo de muito orgulho para todos nós que nos unimos, através de uma cooperativa, para colocar o projeto em funcionamento.
A produção de energia renovável é um dos principais pilares de uma sociedade ambientalmente sustentável e as cooperativas de energia renovável são o futuro de uma geração socialmente sustentável. Agimos movidos pela idéia de unirmos esses dois mundos (energia renovável e cooperativismo) no Brasil, e produzirmos a energia que consumimos. A possibilidade legal de fazermos isso por meio da geração distribuída foi possível através da alteração da resolução da nº 482/2012 da Aneel pela 687/2015, que entrou em vigor em março passado.
Um grupo de 23 pessoas, com média de idade de 41 anos, com diversas atividades profissionais liberais (advogados, engenheiros, economistas, contador, biólogo, médico, dentista), empresários e empreendedores, originários de vários estados brasileiros (Pará, Minas Gerais, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, São Paulo e Bahia) se uniu para alcançar o objetivo comum de se tornar prosumidores (produtores e consumidores) de sua energia elétrica de fonte renovável de uma cooperativa.
A assembleia de constituição foi realizada em 24/02/2016, com apoio institucional da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil) e da DGRV (Confederação Alemã das Cooperativas).
Cooperativas de energia renovável já existem em outros países, com destaque para aAlemanha, onde já funcionam mais de 700 projetos com essa característica. Na cooperativa de Paragominas, por enquanto somos 23 associados. Todos nós temos sido consultados por pessoas de outras partes do País, que perguntam a razão pela qual nos lançamos nessa empreitada. A resposta é simples: queremos gerar a própria energia elétrica que consumimos.
Nesta primeira etapa, o projeto é de pequeno porte, reconheço, mas trata-se de uma decisão de natureza prática. Nós, da cooperativa, queremos conhecer todo o processo, ver como funciona uma usina solar fotovoltaica em detalhes e como ela se encaixa no complexo sistema elétrico brasileiro. Depois, com experiência e mais conhecimento, nosso objetivo será o ingresso de novos interessados em participar da cooperativa e ampliar o projeto. Não queremos dar um passo maior do que a perna.
O setor elétrico brasileiro tem mais de 100 anos e uma organização complexa e estamos plenamente convencidos que não estamos inventando a roda e tampouco vamos virar esse mesmo setor elétrico pelo avesso. Entretanto, também temos consciência que estamos plantando uma semente, que, depois de germinar em Paragominas, poderá brotar em outras partes do País. O nosso País é vasto e temos certeza que em outros lugares existem pessoas acompanhando o nosso projeto pioneiro para seguir na mesma trilha.
Muitos desafios já foram enfrentados e superados. Inúmeros ainda serão enfrentados. Entre esses desafios estão a operacionalização da compensação da energia gerada nas contas dos cooperados, a isenção tributária e a administração da cooperativa.
As vantagens de se produzir energia renovável (solar fotovoltaica) em cooperativa e não de maneira individualizada são: 1. menor valor investido pois somos 23 investidores; 2. mobilidade na produção, você pode mudar de endereço sem se preocupar com os equipamentos; 3. desenvolvimento de uma cultura de colaboração; 4. melhor escolha/avaliação das opções, mais pessoas pensando com o mesmo objetivo; 5. melhor relação com a concessionária; e tratativas mais adequadas de benefícios e isenções fiscais.
Sabemos que nosso pioneirismo abrirá um grande campo para novas cooperativas de energia renovável e assim a produção descentralizada se tornará uma realidade cada vez maior.
Façamos uma reflexão: procure saber quantos quilômetros de linhas de transmissãode energia elétrica ligam a sua casa e/ou escritório até o local de produção dessa energia. São centenas de quilômetros! Em alguns casos milhares de quilômetros! Além disso, o futuro da matriz energética brasileira (e mundial) é renovável e descentralizada! Com linhas de transmissão menores.
A Coober é um passo para esse futuro! Dia 05/08 inauguraremos a primeira usina de uma cooperativa de energia renovável do Brasil! Geralmente uma usina hidrelétrica tem impacto ambiental, econômico e social na sua instalação.
Estamos logicamente pagando o preço do pioneirismo, mas, de qualquer forma, temos muitos agradecimentos a fazer a todos aqueles que nos ajudaram a colocar o projeto da cooperativa de energia renovável em operação. Não vamos citar nomes para não correr o risco de esquecer alguém. Mas aproveitamos o espaço deste artigo no site “Paranoá Energia” para registrar os nossos sinceros agradecimentos a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para que isso acontecesse. O agradecimento maior, evidentemente, vai aos integrantes da cooperativa, que acreditaram na idéia e que decidiram levá-la adiante, superando inúmeras dificuldades.
(*) Raphael Sampaio Vale, advogado, idealizador, cooperado fundador e presidente da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável e Desenvolvimento Sustentável – Coober.