A visão enviesada da questão energética
Fernando L. Zancan (*)
Como afirmou o secretário de Energia dos Estados Unidos, Rick Perry, na África do Sul, sobre como suprir energia para os milhões que não a tem, “se você admite que apóia os combustíveis fósseis, afirmam que você está cometendo um grande erro social, mas são os combustíveis fósseis que trazem o crescimento real das economias”.
Ele disse ainda que não existe uma escolha binária entre a proteção ambiental e o desenvolvimento. Pode-se conseguir os dois e ratificou que é o tempo de quebrar a “cultura da vergonha” sobre o uso de petróleo, gás e carvão.
No mundo da energia, espera-se que deveremos dobrar o consumo até 2050, devido ao aumento da população em 2 bilhões, à urbanização, além de prover energia para 1,2 bilhão que hoje não tem energia, e 1,3 bilhão que não dispõe de um nível adequado de consumo.
Para atender essas necessidades será preciso utilizar todas as fontes de energia disponíveis, mantendo a segurança, a racionalidade econômica, e atendendo ao meio ambiente, dentro da visão da Meta 7 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, proposto pela ONU.
Por outro lado, a comunidade mundial precisa viabilizar esse crescimento com a redução de gases de efeito estufa definida no Acordo e Paris e na Meta 13 dos ODS. Para atender as necessidades energéticas e mitigar as mudanças climáticas isso não poderá ser feito sem o uso do carvão, que é o mais estigmatizado de todos os combustíveis fósseis.
No Brasil, temos mais uma vez um stress hídrico onde as térmicas dão a confiabilidade e segurança ao sistema, sendo as que utilizam o carvão são as mais baratas.
Vemos que nos países em crescimento e nos países desenvolvidos, há uma visão pragmática de que necessitamos dos combustíveis fósseis, que hoje são 80% da matriz mundial e que permanecerão com mais de 50% em 2050.
Ao mesmo tempo que no Brasil são aplaudidos os leilões do pré-sal, e a produção de petróleo e gás cresce no mundo, é o carvão que é sempre citado na mídia mundial como o combustível que deve ser eliminado. Colunistas econômicos brasileiros e outros entendidos em mudanças climáticas, na esteira da mídia mundial, elegem o carvão como vilão.
Portanto, é necessário que comunidade ligada ao setor de energia, de mudanças climáticas e de financiamento, passem a trabalhar sem o viés ideológico e olhem o segmento energético de forma isenta de lobbies de disputa de mercado.
Esperamos que nas discussões do mundo da energia após a mais nova Conferência de Mudanças Climáticas – COP 23, realizada no início de novembro, haja uma visão holística e equilibrada da energia visando atender as Metas do Desenvolvimento Sustentável (agenda 2030) defendida pela ONU e pelos países signatários, dentre os quais o Brasil.
(*) Fernando L. Zancan é presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM)