A força da energia da cana
Zilmar José de Souza (*)
A geração de bioeletricidade sucroenergética acumulada nos últimos 10 anos foi de 309.412 GWh, equivalente ao consumo anual somado de energia elétrica das Regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país. É o que mostra recente levantamento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única).
Essa produção de bioeletricidade acumulada também é equivalente ao suprimento de energia elétrica, por 11 anos para o município de São Paulo, com mais de 12 milhões de habitantes, ou atender, por quase 50 anos, todo o Distrito Federal.
Em 2019, a produção de total de bioeletricidade no setor sucroenergético foi de 36.827 GWh, crescendo 1.392 GWh ou 3,9% em relação a 2018. Essa produção anual de bioeletricidade sucroenergética é superior ao consumo anual dos três municípios paulistas mais demandantes de energia elétrica, com base em 2018: São Paulo, Alumínio e Campinas. E ainda sobraria energia para atender quase uma Ribeirão Preto inteira.
Ano passado, a oferta de energia elétrica pelo setor sucroenergético para a rede foi de 22.509 GWh, representando um crescimento anual de 4,3% e a geração para o autoconsumo das usinas sucroenergéticas foi 14.318 GWh, um aumento de 3,4% em relação a 2018.
Desde 2013, o setor sucroenergético produz bioeletricidade utilizando bagaço e palha mais para a rede elétrica nacional do que para o consumo próprio das usinas canavieiras. A bioeletricidade sucroenergética ofertada para a rede chegou a crescer 32,5% entre 2012 e 2013, porém, entre 2016 e 2019, o crescimento médio não passou de 2% ao ano.
Já neste ano, do período de janeiro a maio, a bioeletricidade sucroenergética ofertada para a rede foi 5.686 GWh (crescimento de 8% em relação a janeiro e maio de 2019). Trata-se de uma geração equivalente a ter poupado 4% da energia armazenada sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste, por conta da maior previsibilidade e disponibilidade da bioeletricidade justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro.
Atualmente, o Brasil utiliza somente 15% do potencial de geração de energia elétrica pelo setor sucroenergético. Segundo a EPE (2020), dentre as 366 usinas a biomassa de cana-de-açúcar em operação em 2019, 220 comercializaram eletricidade (60% do total de usinas).
Dessa forma, havia um total de 146 usinas que ainda não ofertam excedentes de energia elétrica para a rede (40% do total em operação em 2019), mostrando o potencial de geração renovável e sustentável de energia elétrica presente no setor sucroenergético brasileiro.
O setor elétrico brasileiro passa por um momento de discussão em torno de sua modernização, com a promessa de valorizar mais adequadamente os atributos das diversas fontes de geração no país.
Para a bioeletricidade da cana isso passa por valorizar apropriadamente atributos como sua geração renovável evitando emissão de gases de efeito estufa, a firmeza e previsibilidade de sua geração estável (não-intermitência), a produção perto dos centros de consumo e complementar à fonte hídrica, dentre outras externalidades.
(*) Zilmar José de Souza é gerente de bioeletricidade na União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única).