Modernizar o SEB é prioridade
Leandro Bertoni (*)
Na indústria, o ganho de eficiência está diretamente ligado ao desenvolvimento da sustentabilidade, principalmente no que se refere à energia. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o setor industrial responde por quase 40% da energia consumida no Brasil. Por isso, a modernização do sistema elétrico passa a ser fundamental tanto para o avanço do segmento quanto para o bem do meio ambiente.
Em relação aos negócios, ao implementar soluções que garantem a eficiência e segurança do sistema elétrico, a indústria obtém economias de custo – desde a produção até a logística de entrega ao cliente.
Adotar tecnologias que permitam a manutenção preditiva, por exemplo, permite que as empresas tenham intervalos maiores entre as revisões dos equipamentos sem aumentar o risco de falha de um ativo. Isso impacta diretamente o custo de operação de uma planta, pois, com menos tempo de inatividade, é possível aumentar a produção e diminuir as falhas inesperadas que causam grandes transtornos.
Além disso, essas ações podem estender a vida útil dos equipamentos e sistemas, retardando seu descarte e substituição, o que impacta diretamente na sustentabilidade.
Por ser um segmento ainda muito dividido entre parques industriais obsoletos e indústria 4.0, em um primeiro momento a modernização do sistema elétrico pode parecer algo complexo, exigindo investimento, adaptações e treinamentos. Mas, se houver objetivos a longo prazo e entre eles estiver o ganho de produtividade mantendo a qualidade, é preciso avançar com a digitalização e, acima de tudo, com a sustentabilidade.
Para que possa fazer sentido para os negócios, além de autoconhecimento, as empresas podem optar por ações com resultados tangíveis em médio prazo. A melhor estratégia é entender quais são os ativos críticos de sua planta e qual é o nível de obsolescência pela idade.
A análise de criticidade e “estresse” dos ativos, é essencial para entender quais devem ser os primeiros passos e o que é possível fazer dentro do que as companhias esperam e do que têm para oferecer.
Mercado livre de energia
Fora os ganhos comerciais, a modernização do sistema elétrico tende a beneficiar o País como um todo. Sobretudo, nos preços e na qualidade dos serviços entregues. Diante de um mercado com diversos “gargalos” na transmissão para escoamento da energia e com alta necessidade de modernização em toda a cadeia, geração, transmissão e distribuição, os consumidores no geral estão longe de estar satisfeitos. Especificamente na distribuição de energia – parte da cadeia que entrega a energia no ponto de consumo – o sistema é gerido por poucas empresas.
Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), oito entre 10 brasileiros acham o preço da energia elétrica caro ou muito caro. Para 53%, o motivo é justamente a falta de opção na escolha da empresa fornecedora de energia.
Por isso, acredito que para impulsionar a modernização do sistema elétrico é fundamental a abertura total do mercado de energia, migrando de um modelo atual mais centralizado para um modelo híbrido. Outro fator é uma regulamentação mais robusta para diversos tipos de produtores, onde as grandes concessionárias de energia assumem a responsabilidade por orquestrar esse mercado.
Além de aumentar a disponibilidade e qualidade da energia, abre espaço para uma diversificação de matrizes energéticas e fortalece o quesito renovável, que possui grande potencial no Brasil.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até 2019, a matriz nacional foi formada por 45% de fontes renováveis, o que fez que o País liderasse o indicador dentro do bloco dos Brics, composto ainda por Rússia, Índia, China e África do Sul.
Descarbonização
Outro fator crucial na modernização dos sistemas de energia é a descarbonização. Diminuir a utilização de hexafluoreto de enxofre (SF6), por exemplo, pode representar grande avanço para o mercado, principalmente para a indústria. Esse é um gás de efeito estufa listado no Protocolo de Kyoto e ainda bastante utilizado no segmento
elétrico.
No entanto, ainda há alguns desafios a serem ultrapassados quando falamos em _net zero_. Segundo levantamento da Disclosure Insight Action (CDP), até 2050, para o Brasil alcançar esse status, seriam necessárias algumas mudanças estruturais – como evitar que aproximadamente 21 bilhões de toneladas de CO2 sejam lançadas na atmosfera no período. Além disso, seria preciso que o setor energético alcançasse emissões negativas após 2035.
Como um voto de confiança, atualmente, conseguimos perceber uma mudança na percepção das empresas sobre sustentabilidade. Este movimento é observado mais fortemente no setor industrial, mas já há discussões nas companhias de energia. Para alavancar ainda mais este movimento, é fundamental o desenvolvimento de uma regulamentação que incentive as concessionárias a investir em sustentabilidade, tanto quanto em confiabilidade e qualidade.
O mercado brasileiro leva o tema cada vez mais a sério e, com isso, os investimentos em ações ambientais, mas intenso no setor privado, estão se tornando uma “prova” do avanço de cada planta perante investidores e até mesmo consumidores.
Portanto, avançar com a modernização do sistema elétrico, incluindo soluções sustentáveis, é um caminho sem volta. A demanda tende a aumentar a cada ano e o mundo corporativo tem claramente uma grande responsabilidade e um papel maior de agente transformador.
(*) Leandro Bertoni é vice-presidente da divisão de Power Systems da Schneider Electric para a América do Sul