A energia do lixo
Ricardo Lazzari Mendes (*)
O Brasil tem pela frente a oportunidade de transformar as 82,5 milhões de toneladas de lixo produzidas por ano em energia. Um dos primeiros passos dessa jornada começa com os leilões de energia, que devem incluir 19 projetos de resíduos sólidos urbanos (RSU) nos certames, que podem viabilizar três novas Unidades de Recuperação Energética (URE) em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ainda é um avanço tímido diante de um horizonte promissor. O país conta com um Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a destinação de 63,4% dos resíduos para recuperação de biogás até 2040.
A energia elétrica gerada por essas usinas seria suficiente para atender 9,5 milhões de domicílios. Estudos da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos mostram a viabilidade técnica e econômica para a criação de 274 usinas para aproveitamento energético de RSU em 28 regiões metropolitanas.
Os empreendimentos demandam investimentos da ordem de R$ 80 bilhões e têm capacidade para criar 15 mil empregos diretos, bem como mitigam cerca de 64,5 milhões de toneladas de CO2 por ano.
Apenas na Região Metropolitana de São Paulo, há um potencial para a geração de energia a partir dos RSU com capacidade de alcançar uma economia superior a R$ 20 bilhões em 40 anos, considerando apenas os benefícios à saúde pública e a mitigação de danos ambientais.
Seriam necessárias 23 UREs com 20MW de potência instalada cada. Os investimentos alcançam R$ 16,6 bilhões.
O avanço tecnológico tem permitido construir usinas sustentáveis, sem riscos à população. Hoje, mais de 1.500 UREs já funcionam em várias localidades do mundo, em cidades como Mônaco, Minneapolis e Vienna. Em Paris, uma planta está instalada a poucos metros da Torre Eiffel e a maioria dos turistas sequer tem ideia da sua presença.
Nessas unidades, os resíduos passam por processos tecnológicos controlados, em conformidade com parâmetros internacionais para a qualidade do ar a ser devolvido para a atmosfera após o tratamento.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, a América Latina produz, em média, 1 kg de resíduos sólidos por habitante ao dia, sendo o Brasil e o México os maiores geradores na região.
A instituição considera ainda que uma melhor gestão de resíduos sólidos é capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável da América Latina, bem como ajudar na recuperação do clima. Com novas tecnologias, ampliamos o potencial energético e abrimos oportunidades de avançar no reaproveitamento dos resíduos sólidos.
(*) O engenheiro Ricardo Lazzari Mendes é presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs).