Eletrobras poderá ficar com ativos da Abengoa
Maurício Corrêa, de Brasília —
Ao que tudo indica, os 13 mil km de linhas de transmissão da espanhola Abengoa no Brasil (7 mil km construídos e já em operação e 6 mil km na fase de pré-construção) deverão ficar com a Eletrobras, segundo este site apurou junto a fontes do Ministério de Minas e Energia. Bem que o governo brasileiro tentou “empurrraR”a Abengoa para cima dos chineses da State Grid, mas como qualquer negócio envolvendo chineses não é feito na base da correria e depende da velocidade dos chineses para ponderar bem todas as questões, a Eletrobras surge como a única saída, pois o MME tem pressa.
Não é sem motivos. Há poucos dias, a Justiça suspendeu a licença de operação da usina de Belo Monte, por algum desentendimento envolvendo o apoio às atividades da Fundação Nacional do Índio (Funai). Isso não preocupa o governo brasileiro, que está trabalhando para cassar a decisão judicial nos próximos dias. O que preocupa mesmo é o escoamento da energia gerada pela usina de Belo Monte, o que deverá ocorrer ainda neste semestre.
Um técnico do MME explicou que, quando for acionada a primeira máquina de Belo Monte, a usina será transmitida sem problemas para o Sistema Interligado Nacional utilizando-se a subestação Xingu. O mesmo ocorrerá quando entrar em operação a segunda turbina. Entretanto, quando for a vez da terceira máquina, aí, sim, já haverá restrições técnicas na linha de transmissão, inviabilizando o escoamento da energia gerada pela gigantesca hidrelétrica.
De acordo com a mesma fonte, especialistas da Eletrobras já teriam, inclusive, feito uma avaliação a respeito dos ativos da Abengoa no Brasil. Da parte da empresa espanhola também há uma preocupação para se desfazer dos negócios o mais rapidamente possível, pois, à medida que o tempo passa seus ativos vão perdendo valor de mercado, devido às pesadas multas que certamente serão aplicadas pela Agência Nacional da Energia Elétrica (Aneel). Essas multas deverão ser pagas pelo novo controlador, que as descontará do valor total a ser pago à Abengoa.
A primeira máquina de Belo Monte deveria ter entrado em operação no mês de agosto passado e o prazo foi postergado para setembro de 2017. Como a Abengoa entrou em dificuldades financeiras no seu país de origem, a Espanha — o que acabou “matando” a operação brasileira — esse prazo agora deverá ser jogado para a frente, até que o novo controlador do negócio consiga retomar normalmente as atividades.
O mesmo especialista disse a este site que algo que o que pouca gente sabe é que a Abengoa já estava tentando cair fora da operação brasileira desde que ganhou um leilão em 2013, quando a crise na Espanha já estava brava. Ele lembrou que a lógica de negócios da Abengoa era relativamente simples, baseada sobretudo no recebimento de financiamentos de baixo custo vindos da Europa. Quando a Espanha quebrou, levou a Abengoa junto, pois a fonte do dinheiro barato secou.
Vista sob qualquer ângulo, a Abengoa era um dos gigantes mundiais do setor elétrico, principalmente no segmento de transmissão. A empresa desenvolveu projetos de construção e exploração de linhas de transmissão em vários países. Além da Espanha e do Brasil, a empresa entrou no Chile, Argentina, França, Espanha, Romênia, Índia e Marrocos, sempre na esteira do “boom” econômico da Espanha observado desde a redemocratização do país. O fenômeno ocorreu também com empresas espanholas das áreas de telefonia e de bancos.
Hoje, uma das principais heranças deixadas pela Abengoa, em termos de preocupação, é a linha de transmissão que liga a usina de Belo Monte à localidade de Miracema do Tocantins, que foi licitada em 2013, cujas obras agora estão paralisadas até que se encontre uma solução para o problema.