Eletrobras pode, sim, ter interesse na Abengoa
Maurício Corrêa, de Brasília — Ao sair de reuniões no Ministério de Minas e Energia, em 26 de janeiro, o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, admitiu que, se houver uma licitação e dependendo da modelagem, a holding estatal poderá se interessar pela rede de transmissão hoje pertencente à espanhola Abengoa, cujos negócios, no Brasil, foram prejudicados pela concordata da empresa no país de origem.
Ele foi recebido pelo ministro Eduardo Braga, pelo secretário-executivo Luiz Eduardo Barata Ferreira, e pela chefe da Coordenadoria Econômica do MME, Marisete Pereira, para tratar de assuntos diversos que envolvem a Eletrobras. Hoje, Costa participa, no Rio de Janeiro, de reunião do Conselho de Administração, quando serão avaliados projetos relacionados no plano diretor da empresa.
Em relação à Abengoa, ele frisou “que precisa ser dada uma solução. Sei que o MME está conversando com a Abengoa e tentando encontrar uma saída”. José da Costa, entretanto, lembrou que a questão depende ainda de muitas variáveis, razão pela qual por enquanto só é possível falar em tese.
Por exemplo: ainda não se sabe se haverá uma solução de mercado para a parte brasileira da Abengoa, formada por uma rede de 13 mil km de linhas de transmissão, sendo 7 mil já em operação e 6 mil em fase de desenvolvimento de projeto. Como se desconhece se a Abengoa será passada para outro controlador no Brasil ou se será licitada novamente pelo Governo, não se pode avaliar nada concretamente, pois ninguém conhece a eventual modelagem para uma possível licitação.
O presidente da Eletrobras, além disso, lembrou que, em eventual processo licitatório, outros agentes poderão disputar as linhas da Abengoa. Não será algo especificamente direcionado para a Eletrobras. “Não sei se é o que acontecerá, mas as linhas, se relicitadas, serão oferecidas a todos os agentes. A Eletrobras é apenas um agente”, disse Costa, admitindo, contudo, que se for esse o destino da Abengoa no Brasil, a holding estatal poderá se interessar por alguns trechos. “Então, se for o caso, analisaremos o portfólio de oportunidades que será oferecido aos agentes e vamos analisar aquilo que eventualmente seja interessante para a Eletrobras”, declarou.
Quanto ao destino a ser dado às distribuidoras que hoje estão sob controle societário da Eletrobras, Costa explicou que qualquer decisão seguramente será tomada pelo acionista controlador. Já se passou um mês de um total de sete dados para que a Eletrobras faça uma proposta sobre o que fazer com as distribuidoras. Ele disse que não pode falar nada sobre a eventual criação de um braço da Eletrobras para cuidar das seis distribuidoras, considerando que a Celg, de Goiás, a respeito da qual já existe uma decisão para privatizar, é um caso à parte.
O fato é que, dentro da Eletrobras, a questão das distribuidoras não é consensual. Existem aqueles que são contrários à absorção das empresas em caráter definitivo pela holding e também existem aqueles que entendem que haverá sinergia de alto nível caso elas sejam incorporadas em caráter definitivo aos ativos da Eletrobras.
Nessa visão, se gerenciadas de forma adequada, elas cairiam como uma luva para a Eletrobras, constituindo uma espécie de hedge de renda fixa, em meio ao grande portfólio de risco que a estatal administra. Os que defendem a incorporação das distribuidoras acreditam ainda que não há qualquer razão para que a Eletrobras se limite à geração e transmissão, para honrar seu passado, pois a realidade hoje vivida pela holding estatal é muito diferente do que a empresa já viveu em outras épocas.