Meio ambiente e transparência são armas para atrair clientes
Maurício Corrêa, de Brasília —
Centenas de empresas, neste exato momento, em vários estados, estão em processo de migração do mercado regulado para o mercado livre de energia elétrica. Deixam de ser clientes atendidos pelas distribuidoras e passam a integrar o portfólio das comercializadoras. Nesse mercado altamente competitivo, um diferencial oferecido ao cliente pode ser a razão, além das questões rigorosamente comerciais, que levará o novo consumidor livre a assinar o contrato. Nesse contexto, a preservação do meio ambiente ou a simples transparência podem ser apelos que sensibilizam e contribuem para trazer o cliente para a nova casa.
Em 2011, a comercializadora Comerc, de São Paulo, e a empresa de consultoria Sinerconsult (especializada no gerenciamento energético) lançaram uma parceria denominada “Certificado Comerc-Sinerconsult de Energia Renovável, que é concedido às empresas que migraram para o mercado livre e passaram a consumir energia de fontes renováveis, colaborando para reduzir as emissões de gases poluentes na atmosfera.
O presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos, explica que a metodologia consiste na extração dos dados de consumo de energia renovável dessas empresas, registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a partir dos quais são aplicados os princípios do GHG Protocol para se quantificar a emissão de gás de efeito estufa evitada, bem como o número de árvores equivalente.
Este cálculo utiliza os mesmos parâmetros de reflorestamento do Projeto Reflorestamento como Fonte Renovável de Suprimento de Madeira para Uso Industrial no Brasil, aprovado pela Autoridade Nacional Designada Brasileira, sob o número 228/2008. Embora a metodologia do GHG Protocol seja mais utilizada por governos e empresas, na quantificação e gerenciamento de emissões de gases de efeito estufa, o fato é que o cálculo efetuado para a emissão do certificado leva a chancela do GHG Protocol Corporate Standard.
“O consumo de energia limpa é um dos grandes benefícios do mercado livre, junto à redução de custo e à previsibilidade orçamentária. O certificado é um reconhecimento aos clientes da Comerc Energia que têm consumido energia de fontes renováveis. A empresa consome energia de fontes renováveis e, dessa forma, incentiva o investimento em novos empreendimentos de energia limpa, podendo apresentar em seu relatório de sustentabilidade que utiliza energia limpa e colabora para a preservação do meio ambiente”, explicou Vlavianos a este site.
O benefício do consumo de energia renovável proveniente de fontes como pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), biomassa ou eólica, por exemplo, é a redução da emissão de gases de efeito estufa e a consequente preservação do meio ambiente.
Os números em poder da comercializadora mostram a evolução dos certificados desde o início da parceria com a Sinerconsult, com a correlação das emissões de gás de efeito estufa evitadas e o número equivalente de árvores preservadas. Assim, em 2011, quando começou a parceria entre a Comerc e a Sinerconsult, foram emitidos 120 certificados, correspondendo a 69,6 mil emissões evitadas de toneladas de CO2 equivalentes e à preservação de 381, mil árvores. Até o final de 2014 — os números do exercício anterior ainda não foram contabilizados — registrou-se um total de 1,2 milhão de emissões evitadas, enquanto as árvores preservadas somaram cerca de 3,7 milhões.
“É importante notar que o aumento do número de certificados ao longo dos anos tem relação com o crescimento da migração dos consumidores especiais para o mercado livre de energia, resultando, consequentemente, em uma maior demanda por fontes de energia limpa e em um menor impacto para o meio ambiente”, explicou o presidente da Comerc.
A comercializadora Kroma, de Recife, ainda está arredondando o seu projeto de emissão do certificado de energia renovável, que em breve pretende disponibilizar aos clientes. Por enquanto ela oferece a garantia da Certificação ISO9001 e a Certificação 14001 na gestão e comercialização de energia.
Rodrigo Mello, diretor da Kroma, explica que a empresa está totalmente comprometida com a energia renovável. Tanto que foi uma das vencedoras da licitação promovida pelo Governo do Estado de Pernambuco, a primeira do País para implantação de projetos de energia solar fotovoltaica.
No município de Flores, localizado a 450 km de Recife, na região conhecida como “Sertão do Pajeú”, a Kroma e investidores associados estão iniciando a construção de uma usina solar fotovoltaica, com capacidade instalada de geração da ordem de 52 MW. A usina está sendo construída em uma antiga fazenda, com área de 115 hectares, numa região que se caracteriza por forte incidência de sol. Esse projeto — cuja energia será destinada ao mercado livre — deverá entrar em operação comercial em abril de 2017.
Além disso, a comercializadora Kroma agora começa a desenvolver um outro projeto com a mesma fonte de geração, mas com capacidade de 120 MW, no município cearense de Quixerê, que será erguido numa área de 800 hectares, localizada na Serra do Apodi (entre o Ceará e Rio Grande do Norte, a 350 km de distância de Fortaleza). A central fotovoltaica cearense da Kroma foi uma das vencedoras de um leilão de energia de reserva organizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a entrada em operação comercial está prevista para 2018.