Eduardo Braga: “setor elétrico não pode descarrilhar”
Maurício Corrêa, de Brasília —
Depois de semanas em que evitou falar publicamente sobre o assunto, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, convidou a imprensa para uma conversa, nesta sexta-feira, para abordar questões técnicas da sua Pasta. Com habilidade, também não deixou perguntas sem respostas no caso da sua singular situação política, em que recusou-se a entregar a carta de demissão à presidente da República, a qual continua fiel, mesmo depois que o seu partido, o PMDB, decidiu abandonar a base de apoio do Governo.
Em relação à permanência no cargo de ministro, Braga afirmou que isso não compete a ele e, sim, à presidente da República. Quando perguntado como via um eventual Governo Temer, saiu pela tangente e respondeu que não discutiria sobre hipóteses. Se volta a ocupar uma cadeira no Senado Federal — tem sido substituído pela suplente Sandra Braga, que, aliás, é sua esposa — o ministro foi categórico: “Em relação ao Senado, tenho um conforto muito grande, pois a Sandra milita comigo na política há 35 anos”. Não quis comentar sobre o eventual voto da suplente, quando o processo de impeachment for para o Senado Federal. “Ela vota por ela. Ela é a dona do voto”, declarou.
“Minha história política é de coerência”, afirmou, salientando que, na condição de ministro de Minas e Energia, tem um compromisso com o País. “Nosso País tem ações em andamento, como a MP 706. Se não votarmos essa MP, teremos sérios problemas”, prejudicando inclusive o processo de privatização das distribuidoras que hoje fazem parte do Grupo Eletrobras. Essas empresas, garantiu, precisarão de um “aporte brutal” de capital, caso a MP não seja aprovada.
Tranquilo, mas medindo as palavras, Braga disse: “Minha situação é mais do que partidária. Tenho um compromisso com o que estamos fazendo. E estamos trabalhando, pois 204 milhões de brasileiros dependem do suprimento de energia elétrica”. Algo que o tranquiliza, sob o ângulo partidário, é o fato de o próprio PMDB ter evitado fechar questão em torno do impeachment, ou seja, seus filiados não são obrigados a abraçar a causa e cada militante se manifesta de acordo com a própria consciência, sem a imposição de um “diktat” partidário. “O PMDB sempre admitiu as divergências”, afirmou.
Quando perguntado pelo site “Paranoá Energia” como se sentia na condição de membro do PMDB, cujo presidente, o vice Michel Temer é classificado diariamente pelo Governo como golpista e traidor, o ministro não entrou no mérito da pergunta, respondendo diplomaticamente que “a História julgará as pessoas”. Ele entende que, qualquer que seja o resultado no plenário da Câmara dos Deputados, neste domingo, o Brasil emergirá diferente e precisará fazer uma repactuação política.
“O Brasil amanhecerá na segunda-feira e descobrirá que as coisas vão continuar funcionando. Temos um longo período pela frente e não podemos permitir o colapso do setor elétrico ou da Eletrobras. A minha responsabilidade, no momento, é continuar conduzindo a Pasta”. Quando indagado a respeito da proposta de eleições gerais, ele retrucou: “Alguém aqui acredita que algum parlamentar vai abrir mão do próprio mandato”? Para o ministro de Minas e Energia, a política está muito polarizada, mas as forças partidárias precisarão trabalhar em torno de um novo pacto político.
“A nossa democracia tem 31 anos, se considerarmos a eleição indireta de Tancredo Neves”, afirmou, frisando que, sendo uma democracia tão jovem, é preciso muito cuidado para preservá-la. Nesse contexto, Braga entende que um processo de impeachment contra a presidente Dilma, neste momento, tem mais cunho político do que jurídico, o que, na sua avaliação, “é ruim”. Ele só não respondeu uma pergunta feita por jornalistas, exatamente se o impeachment então era um golpe.
Para Eduardo Braga, a política é dinâmica e, tendo iniciado a carreira como vereador, aos 21 anos, ele já viu muita água passar por baixo da ponte. Por exemplo: já viu políticos muito impopulares se saírem bem, logo depois, na primeira eleição. Da mesma forma, já viu políticos muito populares se saírem mal na primeira oportunidade em que as urnas foram enfrentadas. Para o ministro, uma coisa está clara: o Brasil precisará de remédios amargos e ele não sabe como a sociedade reagirá neste caso. Lembrou inclusive o fato de o MME, já na sua gestão, ter aplicado uma política de realismo tarifário, algo que ninguém tem o prazer de fazer.
Perguntado se tem conversado com a presidente Dilma Rousseff, Eduardo Braga afirmou que teve que fazer uma viagem a São Paulo, na quinta-feira, para tratar de assunto familiar, retornando a Brasília nesta sexta e não falou com a presidente. O ministro, entretanto, considera que a presidente tem tido um comportamento “admirável”, garantindo a integridade do processo democrático. Para Braga, devido à polarização da política, quem está a favor da presidente só vê as virtudes e quem está no lado oposto obviamente só enxerga os defeitos.
Como candidato ao Governo do Estado do Amazonas, ele aguarda uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral sobre o atual governador, José Melo de Oliveira, que foi impugnado pelo TRE. Assim, entende que não lhe cabe falar sobre uma eventual ocupação do Governo estadual. “Não depende de minha vontade, pois o TSE tem que manter a decisão do TRE”, frisou, salientando que tem uma dívida com o povo do Estado do Amazonas, onde fez a sua carreira política.
Finalmente, Eduardo Braga afirmou que, na condição de ministro de Minas e Energia, está se esforçando para construir “soluções corretas” através do diálogo. É indispensável, na sua visão, olhar prioritariamente para a saúde do setor elétrico, que “não pode descarrilhar”.