Agentes têm preocupação com Eletrobras
Maurício Corrêa, de Brasília —
O setor elétrico brasileiro está vivendo uma ansiedade lastreada em um grande paradoxo. Ao mesmo tempo que grande parte dos agentes aguarda o momento em que os preços passarão a ser formados por ofertas diretas e não mais pelo ultrapassado mecanismo de modelos matemáticos, pairam no ar as incertezas geradas pelo enorme poder de mercado da Eletrobras, cujo processo de privatização está se intensificando.
Todo mundo quer a privatização da Eletrobras, mas, dependendo das circunstâncias, “pero no mucho”. Esse paradoxo, que já estava identificado há algum tempo, em conversas reservadas com os próprios agentes, desta vez foi escancarado pelo diretor técnico da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Alexandre Lopes.
Em um workshop realizado em Brasília, na quinta-feira, 12 de setembro, quando foram apresentadas as visões da associação a respeito das muitas questões que tramitam no Congresso Nacional e no Executivo, Lopes afirmou que qualquer decisão sobre o preço por oferta precisará considerar inevitavelmente o papel da Eletrobras no SEB. Devido ao seu gigantismo, a Eletrobras poderá ditar os preços. “O poder de mercado quebra a banca”, alertou o diretor da Abraceel.
Essa preocupação com a Eletrobras não nasceu na semana passada. Os próprios agentes já experimentaram várias vezes o seu peso na tomada de decisões que afetam o mercado, em momentos mais simples, como, por exemplo, a indicação de conselheiros da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Em várias ocasiões, houve uma espécie de acordo verbal, em que a Eletrobras se manteve neutra e os demais agentes puderam escolher os seus preferidos.
Entretanto, também houve oportunidades em que a Eletrobras manifestou o seu poder de mercado e, diante da sua grande quantidade de votos na assembléia da CCEE, simplesmente indicou que o eleito seria fulana ou beltrano e estamos conversados. Nada ilegal, mas ficou suficientemente claro para todos quem é que mandava: o velho e bom Governo, através dos votos da Eletrobras.
“Se não resolvermos essa questão, não dá para falar em preço por oferta. Aí vamos continuar utilizando esse mecanismo de formação de preços por modelos matemáticos, no qual ninguém acredita mais, pois o poder de mercado da Eletrobras representará um mal muito maior”, argumentou um empresário que tem sido crítico das fórmulas mágicas que emergem do Cepel e do ONS na hora de formar os preços do mercado de energia elétrica.
Para Alexandre Lopes, tudo dependerá do modo como a Eletrobras será privatizada, se em bloco ou fatiada, com ou sem “golden share”. “Temos que pensar muito sobre aquele que será o melhor modelo de venda do controle da Eletrobras”, afirmou.