Bioeletricidade pode crescer 8 vezes até 2024
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) diz que o volume de bioeletricidade oferecida ao sistema nacional pode aumentar em até oito vezes até 2024, tendo por base 2014, se o governo promover leilões de energia voltados à biomassa com preços mais competitivos. “Os leilões são fundamentais, porque dão previsibilidade para o contratante, o contratado e o financiador, estimulando o investimento”, disse ao Broadcast Agro a presidente da entidade, Elizabeth Farina.
Segundo ela, os leilões asseguram demanda e proporcionam melhores condições de comercialização – a venda para as distribuidoras é feita em até 25 anos (A-5), o produto entregue é reajustado pelo IPCA e há baixo risco de crédito. Além disso, os contratos de longo prazo contribuem para as garantias necessárias à obtenção de financiamentos no mercado. O primeiro leilão de biomassa foi realizado em 2008, com 31 propostas que totalizaram 541 MW. Desde então foram feitos, em média, dois leilões por ano.
No ano passado, o governo promoveu três leilões de biomassa, com participação de três projetos e oferta total de 52 MW. Os preços, entretanto, variaram de R$ 215 a R$ 281 por MWh. Segundo o gerente em Bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza, é papel do governo buscar tarifas mais baixas para o consumidor final, mas ele vê “imperfeições” no modelo de leilões. “O preço tem sido praticado aquém do potencial. E essa oscilação em um mesmo ano prejudica a previsibilidade. O ideal é que o preço se mantenha ou melhore”, comentou. Para ele, valores atrativos poderiam compensar o número reduzido de leilões de biomassa e incentivar a participação do setor.
Na defesa da bioeletricidade, o segmento de cana destaca que o maior uso ajudaria o Brasil a cumprir as metas traçadas na COP21, em Paris, para redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs). “É essencial que o País estabeleça políticas públicas bem estruturadas e de longo prazo na gestão do sistema interligado de fornecimento de energia”, disse Farina. Na COP21, o Brasil se comprometeu a elevar a fatia de energias renováveis de 10% para 23% da matriz energética até 2030. Atualmente, o setor sucroenergético responde por 80% desse tipo de geração, mas apenas metade das 355 usinas espalhadas pelo Brasil exportam energia para a rede.
Em 2015, a oferta de energia obtida a partir da biomassa teve crescimento estimado de 7%, com geração total próxima a 22 TWh. O Brasil é hoje o país com maior capacidade instalada de geração de eletricidade a partir da biomassa, com 15,3% do total mundial, de acordo com dados da International Renewable Energy (Irena). Atrás vêm Estados Unidos (13,6%), China (11,8%), Índia (6,2%) e Japão (5%).
Elizabeth Farina disse que a queda das cotações internacionais do petróleo dificulta o cumprimento das metas da COP21 tanto para o Brasil como para os demais países. “Cresce a atração por uma energia que custa barato”, justificou. A presidente da Unica, contudo, prevê que mesmo assim haverá investimentos em energias renováveis. “Combustíveis fósseis são subsidiados, e a recomendação que se faz é de taxação do carbono”, destacou. “Tem de ser colocada neste momento, para afetar menos o consumidor final e é um bom momento também para incorporação de políticas públicas para a biomassa”.